Dentro das universidades, uma modalidade de negócios desponta como diferencial para atender às exigências do mercado de trabalho: as empresas juniores. Se as demandas do mundo do emprego parecem não ter fim – com a busca cada vez maior por jovens profissionais qualificados, com boa formação teórica e, claro, muita experiência prática –, alunos e professores apostam todas as fichas no empreendimento que alia o conhecimento dado em sala de aula com os desafios reais do mercado. Minas está forte nessa tendência e acaba de tomar de São Paulo o título de estado líder em empresas juniores no país, segundo a Brasil Júnior – Confederação Brasileira de Empresas Juniores. Com 35 entidades cadastradas e a estimativa de mais de 150 funcionando informalmente nas faculdades, os mineiros ultrapassam a marca dos 3 mil voluntários envolvidos em iniciativas do setor.
No dia a dia das empresas juniores, os jovens universitários assumem a postura real de empresários e arregaçam as mangas para administrar um negócio. Com o suporte de professores e diretores de faculdades, eles participam de todas as funções e atividades do empreendimento e têm a oportunidade de propor soluções criativas e criar projetos nas áreas de atuação do seu curso de graduação. “O grande diferencial é o estímulo ao espírito empreendedor do aluno. As empresas aliam a teoria dada em sala de aula com a prática do mercado e os estudantes têm um retorno rápido das suas competências e habilidades. Tudo isso com o respaldo das universidades”, explica o presidente da Federação de Empresários Juniores do Estado de Minas Gerais (Fejemg), Gabriel Matos.
Um exemplo dessa fusão eficiente entre teoria e prática está na Ibmex Consultoria Empresarial Jr., empresa coordenada desde 2002 por alunos da Faculdade Ibmec, em Belo Horizonte. Vestidos de terno e gravata e com calculadoras e livros nas mãos, estudantes dos cursos de administração, economia e relações internacionais se especializam na elaboração de planos de negócios, um estudo minucioso de todas as variáveis do mercado, como concorrência, recursos humanos e investimentos, que influenciam a implantação de uma empresa real. Entre os clientes estão gigantes como a Ceasa, que confiou aos universitários a montagem de um projeto de logística, e associações de pequeno porte, a exemplo da Organização Regional de Combate ao Câncer (Orcca), de Betim, na Grande BH.
Para o diretor-presidente da Ibmex, Kevin Sendas, de 21 anos e aluno do 5º período de administração, além de ser um diferencial no currículo, o envolvimento com a empresa júnior ajuda na escolha dos rumos da profissão. “Entrei para o negócio no 3º período da graduação e ainda tinha dúvidas típicas do início do curso. Mas o contato com o mercado de trabalho ajuda a ‘iluminar’ e mostra com o que realmente você vai trabalhar no futuro. A empresa júnior funciona como um estágio diferenciado, em que os alunos mais velhos te ajudam a aprender, professores dão todo o apoio e você lida com empresas reais”, diz Kevin.
Ao lado dos colegas Manoel Gontijo, do 7º período de relações internacionais, e Luciano Carvalho, do 6º período de economia, Kevin ainda destaca a possibilidade de atuar em várias funções dentro da empresa. “Comecei como consultor, fui promovido a gerente e, desde o início do ano, estou como presidente da Ibmex. Essa rotatividade permite conhecer toda a dinâmica da empresa.” Outra vantagem é que, como o objetivo principal do negócio não é o lucro financeiro, os projetos têm forte cunho social. Prova disso é que, desde o ano passado, a empresa é parceira de escolas públicas da capital e promove palestras para estudantes do ensino médio prestes a fazer o vestibular.
Salário diferenciado
Na mais antiga empresa júnior da Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG Consultoria Jr., os estudantes têm horário fixo de trabalho, metas a serem cumpridas e contas para prestar no fim do mês. Mas, no contracheque, recebem um salário diferenciado. Sem dinheiro em jogo, a remuneração é feita com cursos de aperfeiçoamento. A jovem Luciana Tavares, de 19 anos e aluna do 4º período de administração, está na empresa desde julho do ano passado e já participou de cinco capacitações, como cursos de marketing pessoal, técnicas de venda, gerenciamento de projetos, responsabilidade social e programação neurolinguística.
“O pagamento é em conhecimento. Nesse tempo de trabalho, aprendi a ter noção da realidade do mercado, o que considero importante, pois, nas aulas, não vemos muito a aplicação das matérias na prática. Também aprendi a ter mais responsabilidade, já que uma empresa de verdade está confiando no meu trabalho e o meu esforço vai ter um grande impacto no negócio deles”, conta Luciana, que começou como trainee, foi efetivada como analista e, agora, promovida a consultora master.