A greve de professores da rede estadual de Minas Gerais pode interferir no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A Federação das Associações de Pais e Alunos de Escolas Públicas de Minas Gerais (Fapaemg) promete entrar com ação na Justiça para tentar adiar a data da prova, principal porta de entrada no ensino superior no Brasil. De acordo com o presidente da entidade, Mário de Assis, os mais de dois meses de paralisação já teriam prejudicado, de forma decisiva, a preparação desses estudantes para o Enem. Mais de 6,2 milhões de candidatos estão inscritos no exame, marcado para 22 e 23 de outubro.
Na próxima semana, Assis irá protocolar no Ministério de Educação (MEC) e na Presidência da República, em Brasília, uma carta expondo o problema. Ontem, grupo de alunos do Instituto de Educação de Minas Gerais promoveu manifestação cobrando o retorno às aulas. Sem classes há 63 dias, cerca de 50 deles saíram em passeata da escola, na Rua Pernambuco, até a Praça Sete, ambos no Centro.
Durante todo o dia de ontem, representantes da pasta ficaram reunidos para definir as ações a serem adotadas. De acordo com a secretaria, 2% das 3.779 escolas estaduais de Minas estão totalmente paralisadas e 16% delas parcialmente sem aulas. Já o Sind-Ute/MG fala de 50% da rede de educação do estado parada. No fim de semana, a secretária estadual de Educação, Ana Lúcia Gazzola, qualificou o movimento como “intransigente e nitidamente político, para causar constrangimento ao governo”. Ela afirmou que fará “tudo o que a lei permitir” para garantir a recomposição do ano letivo de 200 dias. A coordenadora geral do Sind-Ute, Beatriz Cerqueira, diz que faltou diálogo. “Ficamos seis meses aguardando uma negociação do piso salarial”.
Preocupação
Focada para conseguir uma vaga nos cursos de direito ou gestão pública na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a estudante do 3º ano do ensino médio Marisa Oliveira, de 17 anos, uma da presentes na manifestação de ontem, vive na pele a apreensão. “Sem aulas, ficamos completamente desamparados. É um descaso muito grande tanto dos professores quanto do governo”, desabafa Marisa. “As turmas que mais precisam não têm aulas. Como vamos fazer se a concorrência com outras escolas por uma vaga na UFMG já é desleal? Agora, o sonho de entrar em uma universidade pública fica mais distante”, afirma Marina Martins, de 17, candidata ao curso de comunicação social.
O presidente da Fapaemg, Mário de Assis, afirma que, com a greve, os estudantes inscritos no Enem já estão em desvantagem em relação aos demais candidatos. “Na última prova, no ano passado, quando também houve greve, o desempenho deles já foi muito ruim. Vamos entrar com uma ação para adiar a prova para defender essas crianças.” Prevendo o pior, as amigas Nayara da Silva e Gabriela Teixeira, de 16, e Izabela Catella, de 17, decidiram se matricular em um supletivo, caso a paralisação não termine nesta semana. “Do jeito que está, o ano vai acabar sendo cancelado, e não temos condições de desperdiçar tempo por um problema que não causamos”, diz Gabriela.
O protesto foi organizado por alunos do ensino médio do Instituto de Educação pela rede social Facebook. Durante o percurso até a Praça Sete, o trânsito ficou complicado e motoristas reagiram com buzinaço e gritos.
De acordo com a Secretaria de Estado da Educação, alunos das escolas públicas estaduais conquistaram um terço das vagas do Enem na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).