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Estado de Minas

Reitores temem fuga de alunos

Com apenas um quarto do orçamento necessário, gestores das universidades federais preveem que pode haver evasão de estudantes que ficarem fora de programas assistenciais


postado em 19/09/2012 06:00 / atualizado em 19/09/2012 06:48

Todas as universidades estimam aumento na despesa para custear, entre outros, a alimentação dos alunos(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press - 17/4/12)
Todas as universidades estimam aumento na despesa para custear, entre outros, a alimentação dos alunos (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press - 17/4/12)


As universidades federais ainda nem receberam os primeiros alunos beneficiados pela Lei das Cotas e já lutam contra a evasão. Sem mexer em méritos e capacidade, a questão é financeira. Diante de um déficit de R$ 1,5 bilhão para custear os programas de assistência estudantil, reitores e pró-reitores temem que, sem suporte dentro das instituições, muitos estudantes de baixa renda acabem abandonando os cursos. Para 2013, estão previstos investimentos de R$ 525 milhões, mas o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), vinculado à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), estima serem necessários pelo menos R$ 2 bilhões.

A pró-reitora de Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Viçosa (UFV), na Zona da Mata mineira, Sylvia do Carmo Castro, é taxativa. Para ela, a lei veio desacompanhada de uma política de investimentos imediata, diante de um maior número de alunos que vão demandar auxílio para moradia, alimentação e apoio pedagógico. “Os estudantes virão com necessidades em todos os níveis. Estamos muito frustrados e preocupados, se o Ministério da Educação (MEC) não puser recurso, não poderemos atender a lei. Garante o acesso, mas não garante a permanência, causando evasão, o que é péssimo para todo mundo: para o aluno que não poderá ficar, para aquele que não entrou e para a universidade, que terá uma vaga desperdiçada”, afirma. A professora relata que precisaria de R$ 20 milhões a mais no orçamento, praticamente o dobro dos atuais R$ 10,6 milhões, para suprir as carências e atender mais 64% dos alunos da UFV, pertencentes às classes C, D e E.

O diretor de Assistência Estudantil da Federal de Itajubá (Unifei), no Sul do estado, Agenor Pina da Silva, faz coro: “Os cotistas são alunos com perfil de assistência. Se aumentar muito o universo, vão ficar sem receber ou vão desistir. E nós não podemos comprometer o dinheiro que não temos, senão acabamos respondendo judicialmente por alguma questão”, diz. Ele acrescenta que, com os atuais R$ 2,1 milhões, não é possível atender todas as pessoas que pleiteiam o benefício – há cerca de 200 que, mesmo com renda per capta inferior a um salário mínimo e meio, estão fora.

A diretora de Assistência Estudantil da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Crislaine Borges, considera que é preciso garantir a permanência com qualidade, a conclusão do curso e ainda a inserção do estudante. O critério de concessão dos benefícios exige análises sociais e econômicas e a verba para projetos assistenciais é integralmente custeada pelo MEC. Há auxílio alimentação, moradia transporte e material, além de creche para as mães.

“Sem considerar a nova lei, já precisávamos triplicar esse recurso para atender a todos os alunos carentes de acordo com a necessidade que apresentam. Só favorecer o acesso não é suficiente para alcançar o resultado social e diminuir as desigualdades no país. É preciso garantir a permanência dos estudantes e as bolsas são fundamentais”, avalia Crislaine, lembrando que a UFVJM precisaria de pelo menos R$ 5 milhões para dar conta da situação atual.

Corte

A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) também se preocupa com os recursos que tem e as despesas já previstas para 2013. “Para o ano que vem já não vai dar. Talvez precise cortar projetos de assistência estudantil e não vamos conseguir reajustar o valor do auxílio moradia, que passaria de R$ 300 para R$ 350”, diz o pró-reitor de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis, Alberto Martins Costa.

Apenas em alimentação, transporte e moradia, a UFU investe R$ 5 milhões, mas, ainda assim, Alberto reconhece que há fila de espera de alunos da classe C para a bolsa alimentação. “Ainda temos outros projetos de assistência para permanência dos alunos, como esporte e lazer, atendimento psicopedagógico, aulas de línguas e informática. Nosso investimento total é de R$ 12 milhões, quando precisaríamos de pelo menos o dobro. Se o MEC der só 5%, vai ficar muito apertado para o ano que vem. Pelas nossas estimativas, pelo menos 35% dos cotistas que receberemos ano que vem devem precisar de assistência estudantil”, explica o pró-reitor.

Na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), 64% dos alunos vêm de escolas privadas, universo que sofrerá modificação com a aprovação da lei das cotas. Atualmente, cerca de 12% dos estudantes recebem algum tipo de assistência, percentual que deve aumentar uma vez que as classes D e E são as mais favorecidas nos programas de assistência. “Ainda pecamos absurdamente porque até ano passado não tínhamos moradia e o impacto disso é grande porque nossos alunos vêm de fora. Calculávamos uma necessidade de receber três vezes mais só para o que já oferecíamos, sem contar que precisamos captar recursos para construir um prédio para moradia universitária”, afirma a pró-reitora de Assuntos Comunitários e Estudantis, Rosimar Alves Querino.

Já o pró-reitor de Assuntos Comunitários da Universidade Federal de São João del-Rei, Paulo Caetano, prevê aumento de 25% no orçamento do ano que vem, para manter os projetos de assistência estudantil. “O quadro hoje é satisfatório e nós conseguimos atender aos que comprovam sua carência. Com a expansão da universidade já em 2013, temos que adequar o orçamento”, diz.


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