Brasília – Bolsistas do ProUni tiveram desempenho melhor na comparação com os alunos das instituições públicas no Enade, exame aplicado pelo governo federal entre estudantes do ensino superior, afirma estudo da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Educação Superior (Abraes). A pesquisa mostra que quem recebe o benefício integral tem média de acertos de 49,3%, enquanto o rendimento médio dos acadêmicos em ensino público é de 47,7%.
Até o momento, estudos educacionais mostravam que os alunos do ProUni eram melhores na comparação com os colegas de classe nas instituições privadas. Segundo a pesquisa da Abraes, os acadêmicos, que não têm bolsa, tiveram aproveitamento de 41,88%, abaixo da média geral de 43,19%.
Mas esse estudo também deixa claro que o estudante tem um avanço considerável na nota quando recebe o ProUni de forma integral. De acordo com os anos avaliados pela pesquisa, os que receberam o incentivo parcial apresentaram percentual de acertos de 43,91%. A nota bruta é superior à média geral de 43,19%, mas fica abaixo do resultado dos acadêmicos das públicas, 47,7%.
Especialistas avaliam que há dois fatores para o bom desempenho dos alunos bolsistas. Para concorrer ao ProUni, o candidato deve ter obtido nota mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no curso que deseja ingressar. O MEC também estabelece exigências para permanecer com o benefício. Durante o curso, o acadêmico deve ter aproveitamento de, no mínimo, 75% nas disciplinas em cada semestre. O bolsista também só tem direito a ser reprovado por uma única vez, seja qual for a matéria.
Na avaliação do professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG) João Oliveira, a pesquisa comprova o que já é visto dentro das salas de aula. “Esse resultado está associado a um grande esforço do aluno de baixa renda para se manter com a bolsa. Esses bolsistas têm uma indução do próprio governo para ter boas avaliações.” É raro um aluno perder a bolsa por aproveitamento negativo no Centro Universitário Facitec, alega o reitor Adriano Fonseca. “Esses alunos são diferentes, estudam muito, agarram essa oportunidade como se fosse a única”, afirma.
SACRIFÍCIO Para a administradora de empresas Adriana Inocêncio, de 31 anos, era válido fazer qualquer sacrifício para se manter com a bolsa integral do ProUni, durante os quatro anos de curso. “Acordava de madrugada para estudar. Botava o despertador para 3h, 4h e emendava o dia”, lembra. Adriana, que se formou no ano passado na Facitec em Taguatinga, é casada, tem dois filhos e a renda da família não passa de R$ 2 mil por mês. “Não tinha condições de pagar uma faculdade. Quando tive essa oportunidade, vi a chance de melhorar e dar uma vida melhor para os meus filhos.”
Natural de Brasília, Adriana foi criada pela mãe, que não completou nem o ensino fundamental. “Foi uma grande alegria para ela eu me formar. É filho de pobre fazendo faculdade.” A dedicação de Adriana incentivou o marido Alessandro Rosa Gomes, de 38, a também tentar a bolsa. O vigilante está no segundo semestre do curso de enfermagem.
AMPLIAÇÃO A diretora-executiva da Abraes, Elizabeth Guedes, defende que a política do ProUni seja ampliada. “O acesso de pobres ao ensino superior precisa de mais incentivo. E essa política se mostra acertada porque está sob o pilar do mérito”, afirma. Na avaliação do professor Alavarse, o ProUni é uma medida paliativa. “Desde a sua implantação, houve de fato um avanço no acesso ao ensino superior. Mas é preciso que o ensino público também abra novas vagas”, alega. No Plano Nacional de Educação (PNE) está previsto aumento para 33% do número de vagas até 2024 e que 40% delas sejam do setor público. O MEC se manifestou, por meio de assessoria de imprensa, que “o estudo comprova constatação já feita pelo órgão em relação ao desempenho dos bolsistas do Prouni”. E também afirmou não existir previsão para uma ampliação do mecanismo.
O que é o Enade?
O Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) avalia o rendimento dos alunos dos cursos de graduação, ingressantes e concluintes, em relação aos conteúdos dos cursos em que estão matriculados. O exame é obrigatório para os alunos selecionados e condição indispensável para a emissão do histórico escolar. A primeira aplicação ocorreu em 2004 e a periodicidade máxima com que cada área do conhecimento é avaliada é trienal.