A ideia do estudo do Twitter, afirma Alice Botelho Duarte, autora da tese de doutorado do curso de linguística da PUC Minas, surgiu a partir da análise de conflitos de alunos em outra rede social – o Facebook, motivados por compartilhamento não autorizado de imagens de um grupo privado mantido por estudantes. “Diante desses conflitos, procurei trabalhar algumas atividades de língua portuguesa, dentro do planejamento escolar, via Twitter, para ver como essa prática se manifestaria em uma rede social. Pensei de imediato em abordar a educação para a rede, tendo em vista os conflitos da escola. Mas, ao me aprofundar, percebi que teria de vivenciar com os alunos alguma atividade, para que pudéssemos perceber a educação no universo da rede social. Queria entender o que eles pensavam.”
A escolha pelo microblog se deu pela sua objetividade, e inspirada em pequisas de língua inglesa que já abordaram o assunto. O estudo foi iniciado em julho de 2013, na Escola Estadual João Emétrio de Medeiros, em Belo Oriente, no Vale do Rio Doce, e o resultado foi divulgado em tese de doutorado apresentada em 25 de maio deste ano. Como base, foi usado o laboratório de informática da unidade, mas depois, à medida que a ideia se popularizou, os alunos passaram a usar os próprios celulares. As postagens mais interessantes eram compartilhadas em sala, como forma de discussão dos conteúdos abordados.
Em sete meses, Alice concluiu de que o ambiente digital proporciona vários fatores positivos ao estudo. Entre eles, a praticidade do Twitter, além do envolvimento e do desenvolvimento dos alunos nas atividades. “O microblog despertou o interesse nos estudos, além de promover a interação entre professor e aluno, entre os próprios estudante e entre eles e outras pessoas de fora da sala de aula. Todos podem participar e opinar e há possibilidade de tirar dúvidas a qualquer tempo, permitindo maior socialização das atividades. Além disso, ajuda os alunos a se informarem mais”, afirma ela, considerando o uso do Twitter também como meio noticioso.
Por outro lado, Alice percebeu que as redes sociais ainda são vistas pelos estudantes principalmente sob o ponto de vista lúdico. “No início houve algumas resistências. Mas depois eles perceberam a funcionalidade do aplicativo. Tanto é que os aspectos positivos e negativos foram listados por meio de um questionário em sala de aula, para se responder pelo próprio Twitter”, comenta a pesquisadora. A avaliação foi considerada positiva pela escola e por professores.
Por essas e outras razões, Alice defende que o uso das mídias sociais como meio de ensino mereça atenção especial, principalmente em relação aos professores. “Faltam incentivos. É preciso de tempo para desenvolver ações do tipo como atividade extraclasse. Talvez o desafio seja a formação, a remuneração e a avaliação de professores. O professor quando vai trabalhar uma atividade extraclasse, pensa em estrutura. Ainda falta estrutura, incentivo”, pondera.
Outra pesquisa, realizada no Cefet-MG em 2012, usou o Facebook como meio de aprimoramento de professores de especialização de um curso da própria instituição de ensino. Para a autora da pesquisa, a professora Ana Elisa Ribeiro, a ferramenta se mostrou prática para a sala de aula, mas também esbarrou no hábito da maioria de utilizá-la meramente como meio de entretenimento. “Ao sugerir o Facebook como plataforma para o curso de atualização, queria ver e testar a reação dos professores. Eles gostaram da experiência, mas muito reagiram negativamente. Houve dificuldade em separar o que o é tarefa e o que é diversão. A maioria não pensava nisso”, constatou.
Ana sugeriu então experimentar todas as funcionalidades da mídia social, para que cada um identificasse o que poderia ser útil para a sua área de especialização. “A maioria dos professores já usava o Facebook e não mostrou dificuldade em adotá-lo para esse fim.”