Um mistério intriga alunos, professores e funcionários da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mais especificamente na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). O que teria ocorrido a 14 gatos que apareceram mortos entre janeiro e fevereiro no câmpus da Pampulha? Quase dois meses depois, não há nada conclusivo e o caso foi parar na Divisão Especializada de Proteção ao Meio Ambiente, da Polícia Civil, onde é investigado. Especulações não faltam sobre a causa das mortes: paulada, veneno, doença ou um predador natural?
O que mais chama a atenção de quem se deparou com os bichanos, boa parte deles filhotes, foi o estado em que se encontravam os corpos. Alguns sem cabeça e sem pele, e outros com graves lesões no crânio. “Fiquei muito assustada quando vi os gatos porque estavam muito machucados, decapitados, com traumatismo craniano. Parecia que a cabeça de um deles tinha sido cortada com uma tesoura. É difícil a gente concluir alguma coisa, mas, na minha opinião, alguém aproveitou o período de férias e a faculdade mais vazia para matar os animais”, disse Mailce Mendes, subpresidente da Comissão de Controle de Zoonose, encarregada do controle da população felina na área da Fafich.
Assim que viu os animais, ela enviou três deles para serem examinados pela Escola de Veterinária da UFMG. A necrópsia não conseguiu apontar a causa das mortes, mas confirmou que alguns gatos sofreram traumatismo craniano por esmagamento e um deles teve a cabeça decapitada. “Já estava sem saber o que tinha ocorrido antes do laudo da Escola de Veterinária e continuei na dúvida depois do resultado. Nunca tinham aparecido tantos gatos mortos aqui na universidade. Depois do episódio, solicitei que redobrassem a vigilância para que isso não se repetisse”, comentou o vice-diretor da Fafich, professor Mauro Lúcio Conde.
Para ele, é difícil tomar conclusões precipitadas e o assunto gatos na federal sempre provocou muita polêmica. “Por isso é passível de análises passionais. Temos de tomar cuidado e esperar a investigação final da Divisão de Proteção ao Meio Ambiente”, salientou.
Mauro Conde conta que foi alertado por um engenheiro do Departamento de Parques e Jardins da Prefeitura de que, com as obras na Avenida Antônio Carlos, uma parte da mata nos arredores da UFMG iria ser cortada. Desta forma, poderia haver um desequilíbrio ambiental e alguns animais, como os gambás, por exemplo, iriam procurar comida em outros locais, como o próprio câmpus da universidade.
“Sempre houve gambás nos arredores, mas, depois desse desmatamento, eles ficaram sem opção de comida e teriam ido atrás dos gatos da Fafich. Não há nada confirmado, são hipóteses, mas os gambás podem ter matado os gatos”, analisa o vice-diretor.
Professor do mestrado de zoologia da PUC Minas, Robert Young revela que não pode fazer uma análise detalhada do caso, sem ter visto os corpos, mas que acha muito improvável que um gambá ou outro animal tenha provocado as mortes. “Ainda mais se muitos estavam sem cabeça, isso não é muito comum. Os predadores, geralmente, atacam, matam, podem quebrar o pescoço da vítima, mas arrancar a cabeça e a pele é mais complicado. E nunca ouvi falar de um gambá atacando gatos. Poderia ter sido um cachorro, um furão, por exemplo, mas se os gatos foram encontrados degolados e com a cabeça esmagada, é mais provável que tenha sido provocado por humanos”, opina.