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Estado de Minas

Estudantes de escola do Bairro Serra fazem cortejo pela preservação do Rio São Francisco


postado em 09/07/2011 18:03 / atualizado em 09/07/2011 18:43

Exposições, palestras e estandes contaram parte da história do ribeirão, o principal afluente do Rio das Velhas(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Exposições, palestras e estandes contaram parte da história do ribeirão, o principal afluente do Rio das Velhas (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)


Vozes em defesa do bem natural mais precioso do planeta, a água, ecoaram neste sábado pelos quatro cantos de Belo Horizonte. Um colorido desfile pelas ruas do Bairro Serra, na Região Centro-Sul da capital, deu vida à beleza natural e à riqueza histórica e cultural do Rio São Francisco. Uma cobra d’água de 30 metros de comprimento, bonecos gigantes e figuras representando peixes e carrancas puxaram o cortejo ao som de canções populares. Às margens do Ribeirão do Onça, na Vila Fazendinha, Região Nordeste da capital, moradores pediram socorro para o afluente considerado o maior poluidor do Rio das Velhas.

“Deixem o Onça beber água limpa”. O pedido dos moradores da Vila Fazendinha diz tudo sobre a realidade do ribeirão, que padece com a sujeira e a degradação e marca a vida da comunidade com enchentes e tragédias, como a que provocou a morte de uma pessoa em novembro. Trinta e uma entidades parceiras – escolas, associações de bairros e organizações não-governamentais – se uniram nas ruas do bairro para cobrar providências para os principais problemas do curso d’água, que tem apenas 60% do esgoto tratado e 1,7 mil famílias em áreas de risco e inundação ao longo da Bacia do Onça, segundo dados da Prefeitura de Belo Horizonte.

Exposições, palestras e estandes contaram parte da história do ribeirão, o principal afluente do Rio das Velhas. Formado pelas águas dos córregos Cachoerinha e Pampulha, que se encontram na Avenida Cristiano Machado, o Onça acumula lixo e esgoto, mas também conta com o carinho dos moradores que sonham em um dia poder voltar a nadar em suas águas e brincar em suas tímidas e poluídas cachoeiras.

“Queremos chamar a atenção para a situação de calamidade em que se encontra o ribeirão. Muita gente que passa aqui nas margens apenas tapa o nariz e fecha os olhos para não ver o problema, mas precisamos de uma solução urgente. Por isso, organizamos essa ação de requalificação socioambiental no Onça”, explica o organizador do movimento e presidente do Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeiro de Abreu (Comupra), Itamar de Paula.

Uma cobra d'água de 30 metros de comprimento e outras figuras puxaram o cortejo ao som de canções populares(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Uma cobra d'água de 30 metros de comprimento e outras figuras puxaram o cortejo ao som de canções populares (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Lavação


A ação foi marcada também pelo plantio simbólico de árvores nas margens do ribeirão, distribuição de mudas e apresentações culturais, como a esquete teatral Nas rodas da lavação, do grupo da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). Com uma muda de hortelã nas mãos, a técnica em enfermagem Cleusa Ferreira, de 44 anos, engrossou o coro de socorro ao Onça. “Tenho dó de ver o ribeirão nessa sujeira. Sem que cada um faça a sua parte, ele vai secar”, lamenta ela. O pequeno Gustavo de Oliveira, de 9, também pediu pela limpeza das águas. “Meu sonho é nadar e brincar na cachoeira do Onça.”

O secretário municipal de Administração Regional Nordeste, Jorge Espeschit, reconheceu os desafios, mas afirma que as intervenções já em curso em BH e em Contagem vão culminar com a melhoria da qualidade das águas. “Hoje 85% do esgoto da Bacia do Onça é coletado em BH. A estação de tratamento do ribeirão trata 60% desse material, o que equivale a 1,1 mil litros por segundo. Essas ações de saneamento vão trazer resultado para a despoluição”, disse. Sobre as 1,7 mil famílias em área de risco e inundação – 320 delas em locais considerados de alto risco –, o secretário garantiu que há estudos em andamento para dimensionar o valor necessário para as remoções.

Velho Chico

Com o tema Nadando nas águas do menino Francisco, mais de 400 alunos e professores da Escola da Serra tomaram parte da Rua do Ouro e da Avenida Bandeirantes, no Bairro Serra, num cortejo sobre a história do Rio São Francisco. Pescadores, lavadeiras, peixes, cobras d’água, orixás, barquinhos, lendas e personagens típicos do conhecido rio da unidade nacional marcaram o desfile que pedia pela preservação ambiental e resgate das tradições.

“O cortejo é resultado de seis meses de pesquisas sobre o rio, que envolveu todas as matérias para estudar a cultura, os peixes, os hábitos alimentares das populações ribeirinhas, a história, a geografia e os textos de Guimarães Rosa. Os alunos foram divididos em sete alas, como numa escola de samba, e estamos dando vida ao rio com canções populares cantadas ao vivo”, explica a coordenadora de artes da escola, Juliana Palhares. Para Pedro Gomes, de 10, aluno do 5º ano do ensino fundamental, a festa foi se vestir de viajante do rio. “Adorei aprender mais sobre o São Francisco. Conheci lendas, histórias, frutas da região e muitas curiosidades.”


Herói da Fazendinha


Depois de acordar moradores de 21 casas da rua onde morava na Vila Fazendinha, no Bairro Ouro Minas, Região Nordeste da capital, e de salvar o cão de estimação que se afogava dentro de casa, o entregador de gás Edgar Bispo dos Santos, perdeu a vida aos 36 anos de idade, quando retornava para salvar suas galinhas. Conhecido pelo apelido de Saruê, Edgar morreu afogado em 23 de novembro do ano passado e entrou para a história como a primeira morte provocada pelas chuvas em Minas, em 2010.


Sujeira e degradação


Para compor o cenário de sujeira e degradação do Ribeirão do Onça, uma rede de esgoto estourou, nesta manhã, na rua de acesso ao evento “Deixem o Onça beber água limpa”. O mau cheiro se espalhou rapidamente e todos os participantes – sem exceção – sujaram os pés na água turva e fétida que se espalhou pelas vias da Vila Fazendinha.


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