José Laércio de Oliveira, 55 anos
Caminhoneiro
Morador de Itaguara, na Região Metropolitana de Belo Horizonte
O caminhoneiro José Laércio de Oliveira rodou por 30 anos na Fernão Dias. Conheceu a fundo as duas realidades da rodovia, antes e depois da duplicação. Foi testemunha de várias tragédias, muitas causadas pela imprudência. Porém, o desastre que mais marcou sua vida foi o que matou o seu irmão, Aladir Ananias de Oliveira, também caminhoneiro, morto aos 25 anos, em 1992, depois de bater de frente com outro caminhão no km 899 da rodovia. “O acidente foi em uma reta. Os dois motoristas morreram e me lembro que, ao chegar ao local, vi o corpo do meu irmão destroçado”, descreve. Ele diz que as coisas mudaram depois da duplicação e os acidentes graves diminuíram. “Falaram que meu irmão estava bêbado. De qualquer forma, a estrada duplicada teria evitado a batida de frente e ele poderia ter se salvado”, lamenta. Os três filhos de José Laércio, de 31, 30 e 24 anos, ganham a vida atrás do volante. O pai repassa aos filhos a fórmula que o protegeu, e também à esposa, Adelina Dalva de Oliveira, 55 anos, que o acompanhou na boleia nos anos de estrada: respeitar o limite de velocidade e não subestimar o cansaço.
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Nassif Antônio Miguel Júnior, 50 anos
Motorista
Morador de Campanha, no Sul do estado
O irmão de Nassif Miguel, Nacir Antônio Miguel, morreu aos 18 anos, depois de o caminhão que dirigia ter se chocado de frente com um ônibus, um desastre ocorrido próximo ao km 723 da Fernão Dias, numa curva leve. Além de Nacir, outras sete pessoas que estavam no ônibus morreram na hora devido ao acidente, ocorrido em 10 de dezembro de 1985. Nassif revela que o irmão vinha de São Paulo com destino a BH e estava muito cansado. Foi alertado para que não continuasse a viagem. “Só que ele ganharia uma bonificação se fizesse o percurso em 12 horas. Isso o motivou a seguir viagem”, diz. O motorista conta que colegas chegaram a tomar as chaves do caminhão de Nacir, mas ele partiu depois de fazer uma ligação direta. Depois do acidente, Nassif nunca mais entrou em uma boleia. “Hoje a pista está mais segura, sem dúvida. A mureta protege muito. Mas os motoristas também andam mais rápido”, constata o motorista.
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Walter Divino Milani, 47 anos
Empresário
Morador de Carmo da Cachoeira, no Sul do estado
A estrada duplicada evitou o pior. É a avaliação de Walter Milani, que em 10 de dezembro de 2010 perdeu a direção do carro na Fernão Dias, no km 697. Chovia na tarde em que ele retornava de Belo Horizonte. O carro rodou na pista e parou no canteiro central da estrada. “Com certeza, rodovia duplicada salva vidas. Rodo nessa estrada há 20 anos, vi a duplicação desde o início, e me sinto muito mais seguro agora”, afirma. Ele, que durante anos morou às margens da BR-381, perdeu a conta de quantos acidentes viu. “Antigamente, cansei de ver caminhão tombando e me lembro de que, a cada semana, duas pessoas morriam perto da minha casa, que ficava no km 720, onde tinha uma ponte em uma curva”, conta. Milani alerta que a estrada, hoje em boas condições, convida os imprudentes a fazer loucuras. “Muitas vezes, isso se alia à inexperiência e aí temos o acidente”, opina o empresário.
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Márcio Luiz de Campos, 42 anos
Caminhoneiro
Morador de Belo Horizonte
Em uma reta do km 722 da Fernão Dias, uma carreta escorava-se precariamente no guard rail lateral da pista, à beira de uma ribanceira. Apenas o cavalo permanecia na pista. O caminhoneiro Márcio Luiz conduzia o veículo e admitiu que foi vencido pelo sono por volta das 2h30, hora em que a neblina estava baixa, depois de viajar por três horas. Ele saiu de BH rumo a São Paulo. “Em 20 anos de profissão, foi a primeira vez que aconteceu. A proteção lateral da pista foi o que segurou a carreta, pois o normal seria eu cair barranco abaixo. Aí sim o estrago seria grande”, imagina. Márcio diz não saber porque dormiu, pois estava descansado, como garantiu. Carregado com sete toneladas de mercadorias diversas, ele ainda aparentava um certo espanto. “A gente acha que esse tipo de coisa só acontece com os outros”, afirma. Perguntado sobre as consequência do acidente caso tivesse ocorrido no trecho da BR-381 entre BH e João Monlevade, limitou-se a exclamar, como quem não gosta sequer de pensar na hipótese: “Deus me livre!”
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Severino José Santana, 67 anos
Aposentado
Morador de Perdões, na Região Centro-Oeste do estado
A história vivida por Severino Santana prova que a imprudência pode levar à morte mesmo em uma via duplicada. Ele perdeu a filha de 26 anos, Tatiane Aparecida Santana, em 23 de agosto de 2003, num trecho da Fernão Dias próximo a Perdões. Ela estava em um carro cujo motorista disputava um racha na pista. Um leve toque entre os veículos fez com que o carro em que estava Tatiane capotasse. Ela e uma amiga da mesma idade foram arremessadas para fora e morreram na hora. “Todos estavam bebendo em um bar e foram correr na estrada”, conta o aposentado, com o rosto marcado pela tristeza da lembrança. O pai que hoje chora a morte da filha trabalhou por 35 anos como caminhoneiro confirma que a estrada duplicada está menos perigosa. Porém, o bom estado da rodovia leva alguns condutores a se arriscar. “Antigamente, os acidentes eram mais graves. Via menos batidas, até porque a estrada era esburacada e nem dava para correr. Hoje são mais comuns, porque não tem radar nem fiscalização”, avalia.