Um monte no Bairro Palmares, na Região Nordeste de Belo Horizonte, a apenas 10 quilômetros do Centro, vem intermediando na cidade uma busca milenar para os religiosos de todo o mundo: ficar mais perto de Deus. Inspirados em citações bíblicas, fiéis transformaram a parte mais elevada do Parque Ecológico Renato Azeredo em um ponto de oração, pregação e, sobretudo, de fé. Sessenta degraus, pouco espaçados, bem íngremes, dão acesso ao monte, que leva o nome do bairro. A parte menos acidentada do cume, onde se concentram os fiéis, tem vegetação rasteira e rala. O movimento é constante ao longo do dia, mas se intensifica à noite.
As luzes da cidade não alcançam o elevado. Bíblias são lidas com pequenas lanternas. O som é apenas um murmúrio coletivo, cortado pelo zunido distante de veículos no Anel Rodoviário, que passa a cerca de 100 metros. Não há registros sobre o início da peregrinação ao Monte Palmares. Na sede da Regional Nordeste, onde fica o bairro, as informações são de que o movimento no local teve início há mais de 10 anos.
Por outro lado, não há dúvidas sobre os motivos que levaram fiéis a frequentar o ponto mais alto do parque. “Moisés recebeu as Tábuas da Lei (os Dez Mandamentos) em um monte”, lembra Danielle Moreira, de 24 anos. A passagem a que se refere está no Antigo Testamento da Bíblia. Conforme o livro, Moisés recebeu os Dez Mandamentos das mãos de Deus no Monte Sinai. O marido de Danielle, Luiz Fernando de Oliveira, também de 24, afirma que o casal não abre mão da igreja que frequenta em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para as orações, mas o monte o coloca mais próximo de Deus.
Outro monte citado no Antigo Testamento é o Mória, onde ocorreria o sacrifício de Isaac por seu pai, Abraão, a pedido de Deus. Era, no entanto, apenas um teste para a sua fé. No momento em que mataria o filho, um anjo surgiu e deu um carneiro para substituir Isaac. No Novo Testamento, o monte mais famoso é o das Oliveiras, onde Jesus fez o último sermão aos apóstolos antes de ser preso e crucificado.
Silêncio
Valdir Luiz de Assis, de 55 anos, tem a passagem bíblica como referência para as visitas ao Monte Palmares. “Aqui sentimos mais a presença de Deus. Jesus subia montes para orar. Nós vivemos tentando imitar um pouco a vida que ele levou”, diz. Morador do Bairro Ipiranga, também na Região Nordeste de Belo Horizonte, Valdir tem por hábito subir em uma rocha do monte para orar.
Para Luiz Cláudio Fernandes, de 43 anos, em preparação para ser pastor, as subidas ao Palmares significam mais liberdade para falar com Deus. “Em outros lugares temos muitas distrações”, argumenta Cláudio, que mora em Santa Luzia. Segundo os amigos Alexandre Luiz Garcia, de 28 anos, e Manuel Fiúza, de 25, que frequentam a mesma igreja, no Bairro Paulo VI, no monte é possível falar mais diretamente com Deus e um com o outro. Os dois fazem, semanalmente, orações conjuntas no elevado.
Conforme informações da Regional Nordeste da Prefeitura de Belo Horizonte, não existe impedimento para a prática das orações no Monte Palmares. A prefeitura tenta, no entanto, fazer respeitar a Lei do Silêncio depois das 22h. Fervorosos, os fiéis vão continuar frequentando o ponto de orações. Outros provavelmente passarão a ir ao local. Todos procurando, dentro das suas convicções, ficar fisicamente mais próximos do que já carregam no coração.