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Estado de Minas

Economista lança dicionário inédito com quase 700 páginas de expressões linguísticas


16/11/2011 07:11 - atualizado 16/11/2011 07:14

Carlos Alberto e Carlos Eduardo mostram compêndio rico em verbetes recolhidos por mais de uma década
Carlos Alberto e Carlos Eduardo mostram compêndio rico em verbetes recolhidos por mais de uma década (foto: Jair Amaral/EM DA Press)
Pai e filho, parceiros, mergulhados nos sentidos do agrupamento das palavras. O economista aposentado Carlos Alberto de Macedo Rocha, de 83 anos, e Carlos Eduardo Penna de M. Rocha, arquiteto, de 44, com o Dicionário de locuções e expressões da língua portuguesa, levantam paixão declarada à construção do significado de letras reunidas. São quase 700 páginas organizadas ao longo de mais de uma década de pesquisa, iniciada por busca de distração e conhecimento, “sem grandes pretensões”. O prazer se fez livro, lançado pela Editora Lexikon, na semana passada, em noite movimentada de autógrafos, no Bairro Belvedere, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O material, recolhido das mais variadas fontes, é enriquecido com informações adicionais ao pé de alguns verbetes: “por carambola”, por exemplo. Abaixo do significado: “Por tabela; indiretamente; por intermédio” e a explicação reticulada: “Deriva do jogo de bilhar”.

Cúmplices, Carlos Alberto e Carlos Eduardo se mostram felizes com os desdobramentos do compêndio, que, distribuído Brasil afora, já abre portas para novas empreitadas. Por exemplo, um novo dicionário – já nas mãos dos editores – com cerca de 12 mil provérbios listados, dos quais 1,2 mil foram selecionados e impressos em 500 exemplares comemorativos em 2008. Homenagem da família, encabeçada por Carlos Eduardo, pelos 80 anos do pai e 50 de casamento. “Uma surpresa que preparamos para ele. Todos gostaram do livro. As pessoas perguntavam, queriam saber onde comprar. A gente acabou colocando uns 100 exemplares à venda e a aceitação foi surpreendente”, revela Carlos Eduardo. Foi quando o arquiteto teve certeza do bom caminho iniciado, ao dar publicidade ao vasto material que o pai pesquisou desde o fim dos anos 1990.

Tempo passado, novo livro impresso – aos milhares – por editora de alcance nacional, o pesquisador aposentado, ex-funcionário de carreira do Banco do Brasil, tem o orgulho de carona com os olhos de bom chefe de família e pai exemplar. “Eu ajunto, ele organiza”, diz, com humor e carisma, sobre o trabalho a quatro mãos com o filho arquiteto. Na ampla e bem decorada sala de visitas no Bairro Serra, em tarde de fim de semana prolongado, os dois trocam elogios. Carlos Eduardo faz questão de dizer que o pai, admirável homem da cultura, é nascido em Cordisburgo e cresceu perto da casa de Guimarães Rosa. “Deve ter alguma coisa na água de lá”, diz, ressaltando a intimidade do ídolo com o talento e interesse pela escrita. Já Carlos Alberto diz que o filho é brilhante em artes visuais e em computação. Salamaleques à parte, é de notável reciprocidade a admiração da dupla.

CARLISMO


Carlos Alberto, além do filho-parceiro escritor, tem quatro filhas de nome Inês: Lúcia, Cláudia, Tânia e Valéria Inês. Três bancárias – Cláudia, formada em letras, segue os passos de sucesso do pai no Banco do Brasil – e Valéria, a caçula, cantora. “Crescemos num ambiente que sempre favoreceu o conhecimento. O pai sempre disse: ‘se tem uma dúvida, olhe lá, na mesma hora, no dicionário, na enciclopédia’”, conta Carlos Eduardo. Fala admirado também da vontade incansável do pai de aprender, sempre, mais e melhor. “Ele começou já mais velho com o computador, aos 70 anos, e aprendeu a trabalhar no Access.” O saber para o pesquisador, que, economista, chegou a superintendente do mais importante banco público do país, não tem limites. Antes das empreitadas com provérbios, locuções e expressões, o passatempo predileto era esquadrinhar dicionários.

Solícita, boa anfitriã, Cláudia, com o irmão, relembra a infância em Brasília. “No tempo em que ainda havia muita terra e o aeroporto era de madeira”, diz o pesquisador. Os anos 1970 foram vividos em família no Distrito Federal. A serviço, Carlos Alberto se mudou com a mulher e os filhos pequenos, nos Anos de Chumbo, para a capital do país. Lá, nasceu Valéria. Família unida, foram oito anos de muitas viagens a Belo Horizonte com o carro abarrotado de crianças. Filhos crescidos em sólida plataforma de dedicação ao conhecimento, vieram genros e netos. Todos adeptos do “carlismo”, nome dado ao hábito de pesquisa do pai por tudo o que ainda não é conhecido na origem e no sentido da soma das palavras.

CONTA-GOTAS

Boi de presépio: Expressão atribuída a quem se limita a concordar e a apoiar as ações de outros, jamais se manifestando com ideias próprias;

Cabelinho nas ventas: Tem-nos um indivíduo de gênio atrevido; afoito, brigão;

Cada qual com o seu saraquá: Cada um em seu devido lugar; cada macaco no seu galho;

Casado atrás da porta: amancebado;

Dar no costelão: 1. Meter-se em negócio muito lucrativo. 2. MG Encontrar, lavrando, um veio mineral muito rico;

Dar o couro às varas: Morrer;

De lana-caprina: Insignificante, de pouca monta ou importância; irrelevante;

Desandar a roda: Ter início uma série de infelicidades;

Enrolar a trouxa: calar a boca;

Ensaboar as ventas (de): Esbofetar (alguém). Var. “ensaboar a cara (de)”;

Espantar tico-tico: Dar passos imprevisíveis, fazer negaças, nas brigas, para enganar o adversário;

Fincar as aspas: RS Cair de cabeça para baixo;

Que é que há com o seu peru?: Pop. Pergunta que se dirige a pessoa que está triste, acabrunhada, amuada, estranha, querendo saber o motivo;

Manga de colete: Nada; coisa nenhuma; pouco; muito escasso, raro;

Rir à socapa: Rir disfarçadamente, sem que outros o percebam.


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