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Estado de Minas

Após 16 anos de separação da família, garota criada em Minas conhece parentes

Adolescente se encontrou com a avó, irmãos e tios em Ribeirão Preto. Histórico de maus tratos deu lugar à alegria de voltar para casa dos parentes


postado em 28/01/2012 06:00 / atualizado em 28/01/2012 06:57

"Mal consigo acreditar que aquela menininha que carreguei no colo está de volta. É a realização de um sonho no qual sempre acreditei e nunca desisti", Renata Vasconcelos dos Santos, 30 anos, irmã de Laura (foto: Eberson Cassio/Embaixada do Altíssimo/Divulgação)


Abraços apertados, lágrimas de saudade, coração aos pulos e felicidade de sobra. Foram muitos os momentos de emoção vividos ontem, em Ribeirão Preto (SP), pela estudante Laura Borges Vasconcelos dos Santos, de 17 anos, ao conhecer a avó, irmãos e tios. À noite, a família da garota, a quem não viam desde os nove meses de idade, fez festa, com direito a bolo e churrasco, para celebrar o reencontro. “Está tudo muito lindo. De agora em diante, é outra história”, afirmou Laura, acolhida há um ano e três meses numa casa de amparo em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Órfã de mãe ainda bebê, ela foi levada pelo pai para a Bahia e Minas, trilhando um caminho de dificuldade que culminou com violência doméstica.

A avó Maria Aparecida Borges de Souza, de 65, acordou cedo para preparar a festa em dose dupla. “Minha neta vai completar 18 anos em 10 de março e, por isso, mandei fazer o bolo do aniversário antecipado. Mas tem o mais importante, que é o retorno à nossa casa. É como se eu estivesse recebendo a minha filha. Agradeço a Deus por tudo, pois nunca perdi a esperança de rever Laura”, disse Maria Aparecida, cuja filha Marli morreu aos 28, vítima de aneurisma. Hoje, a garota vai ao cemitério local depositar flores no túmulo da mãe. A história de Laura foi mostrada na terça-feira pelo Estado de Minas.

Acompanhada da presidente da Casa de Amparo Embaixada do Altíssimo-Geração de Davi, Magali Magda Borges, que detém a sua guarda, Laura ficou comovida ao conhecer os irmãos Renata, de 30, e Jefferson, de 27, filhos da primeira união de Marli. E também o primo Pedro Henrique, de nove meses, a mesma idade de quando ela saiu de Ribeirão Preto. “Acho que a ficha ainda não caiu, mal consigo acreditar que aquela menininha que carreguei no colo está de volta. É a realização de um sonho no qual sempre acreditei e nunca desistiu”, afirmou Renata. Para saudar a irmã, os parentes escreveram num isopor “Seja bem-vinda” e providenciaram a queima de fogos. Na hora do jantar, teve frango assado e “até uma cervejinha”, comentou Maria Aparecida, que estava rindo à toa.

Maus-tratos

L
aura chegou à casa de amparo do Bairro Água Branca depois de levar, em casa, um tapa no rosto. Caiu, machucou a cabeça e foi conduzida a um posto de saúde. Ao atendê-la e verificar os hematomas, a médica desconfiou da história “de que seria uma queda acidental” e comunicou o fato ao Conselho Tutelar. A menina, então com 15 anos, foi encaminhada para a organização não governamental (ONG) Embaixada do Altíssimo-Geração de Davi. Na instituição, conforme diz Magali, ela teve aulas de natação, informática, línguas e violino. “Não tenho ódio do meu pai”, comentou a jovem, que já recebeu a visita dele duas vezes na casa de amparo.

O primeiro contato com a família ocorreu na semana passada – a localização da família em Ribeirão Preto foi possível graças ao empenho da presidente da Ong, Magali, a quem Laura chama de “mãezinha”. A partir do relato da jovem e da certidão de nascimento, único documento que carregava, Magali entrou em contato com a polícia em São Paulo e localizou a avó da garota. Na quinta-feira passada, por meio das redes sociais, Laura viu fotos suas com dois meses, no colo da mãe que jamais conhecera e junto aos dois irmãos. A emoção foi indescritível diante das fotografias coloridas postadas pelos parentes.

História de conto de fadas

Durante muitos anos Laura Borges Vasconcelos dos Santos duvidou que a mãe, que estaria hoje com 46 anos, realmente tivesse morrido. “Eu perguntava ao meu pai e ele respondia apenas: ‘Morreu’”. Não havia uma fotografia para admirar, uma carta para conhecer a letra, um bilhete para servir de alento. “Quando eu tinha sete ou oito anos, ele tirou da carteira um retrato 3x4 e me mostrou. Mesmo sem poder ver o rosto da minha mãe, apenas os cabelos, pois o papel estava manchado, fiquei satisfeita.”

Mas a alegria durou pouco, logo em seguida a madrasta rasgou a foto, dando sumiço na única lembrança possível. Qualquer semelhança com as piores maldades de novelas de tevê ou dos contos de fadas é mera coincidência. Até os quatro anos de idade, Laura morou com o pai em Vitória da Conquista (BA), também sem muito contato com os familiares baianos. Depois a família veio para Belo Horizonte, Betim e Contagem.

“Eu não podia sair de casa, só me sentia bem na escola. Nunca fui a um médico, dentista e vim fazer um exame de sangue, pela primeira, depois que vim para a ONG. Era obrigada a fazer todo o trabalho doméstico e ainda ouvia críticas das madrastas, que foram mais ou menos quatro. Roupas, só de doação”, recorda-se.

O tempo passou e Laura estudou, estando matriculada hoje no segundo ano do ensino médio de uma escola de Contagem. Algumas vezes tentou fugir de casa, sem sucesso. “Agora estou completa”, afirmou diante da casa cheia, com os parente e vizinhos, ansiosos para conhecer a jovem e sua história de final feliz. (GW)



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