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Estado de Minas

Detento que manteve refém em presídio no Norte de Minas é transferido

A cabeileira Cleide Márcia Oliveira Santos viveu 24 horas e 11 minutos de pavor no Presídio Regional de Montes Claros


postado em 14/02/2012 09:12 / atualizado em 14/02/2012 12:24

Movimentação na porta do presídio assim que o preso libertou a refém (foto: Luiz Ribeiro/EM/D. A Press )
Movimentação na porta do presídio assim que o preso libertou a refém (foto: Luiz Ribeiro/EM/D. A Press )

Foi transferido para a Penitenciária de Segurança Máxima de Francisco Sá (Norte de Minas), o detento Pedro Francisco Vieira, de 33 anos, que, entre domingo e segunda-feira, fez a cabeleireira Cleide Márcia Oliveira Santos, de 38, refém dentro de uma cela, durante 24 horas e 11 minutos no Presídio Regional de Montes Claros. Ele libertou a refém as 12h11min de segunda-feira, após muita tensão e várias negociações. Foi transferido na tarde do mesmo dia, depois de receber atendimento na Santa Casa de Montes Claros.

O diretor do Presídio Regional de Montes Claros, José Pedro Oliveira, disse que, a princípio foi escolhida a Penitenciária de Segurança Máxima de Francisco Sá ( 60 quilometros de Montes Claros), por ser uma unidade que tem condições de oferecer melhores condições de segurança para Pedro Francisco, que tem uma longa ficha criminal, incluindo vários homicídios, estupros, seqüestro e assalto à mão armada – e que alega que sua morte teria sido encomendada por R$ 100 mil por parentes de uma de suas vítimas. Depois, a Superintendência de Administração Penitenicária (Suapi) deverá tomar alguma outra providência em relação ao preso”, garantiu José Pedro Oliveira, explicando que na está descartada a possibilidade da transferência do perigoso detento para outra unidade.

No presídio de Montes Claros, Pedro Francisco já tentou matar outros dois detentos e por isso, foi colocado numa cela isolada. Na parede da cela, ele escreveu: “já matei sete e, se for preciso, mato mais”. A cabeleireira Cleide Márcia Oliveira Santos foi libertada depois de ser mantida refém pelo detento por mais de 24 horas, com uma arma na altura do pescoço. “Foi a vitória sobre morte”, comemorou o tenente Francis Albert, do Grupo Ações Táticas Especiais (Gate), de Belo Horizonte, responsável pelas negociações, que resultaram no desfecho do caso, sem que a vítima se ferisse, depois que ela viveu momentos de muita tensão e pavor.

“Tive muito medo de morrer, pois o tempo todo, ele (o seqüestrador) dizia que iria me matar na hora que os policiais invadissem a cela. Foi apavorante”, disse, ontem à tarde, Cleide Márcia, já em sua casa, no bairro Santa Laura, em Montes Claros.

O drama da mulher começou ao meio-dia de domingo quando ela foi visitar um filho que está preso no presídio e acabou sendo dominada por Pedro Francisco. Com um chuço (arma artesanal), feita por ele usando um ferro retirado de uma luminária, e uma espécie de estilete (feito com lâmina de barbear e um cabo de escova de dente), Pedro, ameaçou matar Cleide Márcia, caso suas exigências não fossem atendidas. A unidade prisional, localizada no bairro Jaraguá, está superlotada com 900 presos, sendo que tem capacidade para 595.

Recolhido numa cela individual, primeiramente, Pedro Francisco atacou um agente penitenciário, quando foi aberta a cela para a entrega da sua comida. O agente conseguiu se defender. O detento saiu correndo e dominou a cabeleireira, que passava por um corredor, em direção a pavilhão. Ele levou Cleide Márcia para dentro da cela e anunciou que estava disposto a matá-la, caso suas exigências não fossem atendidas. O presidiário é portador do vírus da Aids e se fez cortes nos braços, ameaçando contaminar a refém.

A cela foi cercada por grupos de policiais militares, com as presenças de ambulâncias do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Móvel de Emergência e Urgência (Samu). Pedro Francisco - que tem uma carregada ficha criminal, incluindo vários homicídios, estupros, seqüestro e assalto à mão armada - escreveu uma carta, pedindo garantia de vida, alegando que sua morte foi encomendada por R$ 100 mil, e pediu a presença da imprensa, o que foi cumprido. Também exigiu ser transferido para alguma penitenciária no Sul da Bahia, onde mora sua família. A direção do presídio e os policiais envolvidos na negociação argumentam que a transferência para a Bahia seria mais complicado, tendo em vista que, antes de ir para outro estado, ele têm cumprir pena em Minas. Mas, que tudo seria feito para ele fosse levado para uma outra unidade no território mineiro, perto da divisa com a Bahia. Não houve acordo.

Ás 22h49min de domingo, chegou ao presídio de Montes Claros, a equipe do Gate de BH, comandada pelo tenente Francis Albert, que assumiu as negociações. Mas, o detento reagiu contra a presença da equipe especializada e ameaçou matar a refém. Houve um momento de muita tensão. No entanto, o tenente Francis, após muita conversa, conseguiu controlar a situação e foi iniciada nova rodada de entendimentos, que avançaram pela madrugada, sendo acompanhados de perto pela reportagem do Estado de Minas. A equipe assegurou que o detento seria transferido, dando a ele várias opções para ele escolher uma unidade em Minas. Mas, ele pediu um tempo para dar resposta.

Logo em seguida, fez outra exigência para libertar a refém. Disse que queria falar com um parente pelo telefone, para contar sua situação, já que fazia vários anos que não mantinha contato com os familiares. Ele informou que tinha parentes (o pai e uma irmã) em Prado (BA) e um irmão em Vila Velha (ES). No entanto, o serviço de inteligência da PM não conseguiu localizá-los através dos telefones e endereços fornecidos.

O detento ficou com uma refém em uma cela improvisada, que era usada como “cela para visitas íntimas”, que tem somente uma pequena janela com uma grade na lateral. Isso prejudicou o trabalho do Gate. Outro fator que dificultou que, quando dominou Cleide Márcia, Pedro Francisco levou para dentro da cela, alimentos, refrigerante e água que a mulher iria levar para o filho que tinha a intenção de visitar.

Verificando a dificuldade de invadir a cela sem riscos para a refém, os policiais adotaram a tática de tentar vencer o preso/seqüestrador pelo cansaço enquanto também tentava localizar os parentes de Pedro Francisco. “Houve um momento que sentimos que também se estabeleceu a Síndrome de Estocolmo”, comentou o tenente Francis, se referindo a sua situação em que é criada uma harmonia entre seqüestrador e o (ou a) refém.

As negociações foram suspensas às 5 horas da manhã e retomadas às 7 horas da manhã de ontem. Mas, no reinício da conversa, o detento percebeu alguma movimentação perto da cela e as conversas foram interrompidas. Algum tempo depois, as negociações foram retomadas e o seqüestrador, mantendo a exigência de falar com os parentes de qualquer maneira,fez outro pedido: que sua carta de reivindicações fosse lida em voz alta junto à cela, com a presença dos representantes da imprensa. Também solicitou a presença de uma psicóloga. Os pedidos foram atendidos.

ANUNCIO PELO RÁDIO

Os policiais tomaram conhecimento da presença de um irmão de Pedro Francisco, chamado Natanael Francisco Vieira, em Vitória da Conquista (BA). Mas, não conseguiram contato com ele. Ás 11h35min, a PM de Minas finalmente conseguiu contato telefônico com a irmã do detento, Rosa Francisco Vieira, que é evangélica, em Prado (BA). A mulher foi localizada após o setor de inteligência da PM ligar para a Rádio Comunitária FM 104, de Prado, que anunciou que Rosa estava sendo procurada. “Fizemos o anúncio e 10 minutos depois a Rosa apareceu. Ela disse que fazia quatro anos que não via o irmão. Que ele sempre envolvido em coisas erradas e que nem tinha mais esperança de que o irmão estivesse vivo”, afirmou Benedito Dantas de Oliva, diretor da rádio.

O tenente Francis Albert ligou para o telefone da própria rádio e conversou com Rosa Francisco. Logo em seguida, a colocou em contato com o irmão. Assim que terminou o telefonema (durou 21 minutos), o seqüestrador liberou a mulher.

O PAVOR PASSO A PASSO


Domingo – 12 horas - Armado com um “”chuço” e um estilete, detento Pedro Francisco Vieira tenta contra a vida de um agente penitenciário no presídio de Montes Claros. O agente se defende e o preso faz como refém a cabeleireira Cleide Márcia Oliveira Santos.

12h10min. Após levar a refém para uma cela, o seqüestrador, através de uma carta (escrita pela própria seqüestrada), anuncia suas exigências: a transferência para outra unidade e a presença de uma emissora de TV, para “mostrar que estava sendo ameaçado de morte dentro da cadeia”. Portador do vírus HIV, ele também faz pequenos cortes nos braços.

18: 30 horas. A Intertv (emissora de TV de Montes Claros) exibe ‘flash” falando do caso do detento e suas exigências. Mas, ele não libera a vítima.

22h49min – A equipe especializada do Gate de Belo Horizonte, após viagem de avião, chega ao presídio de Montes Claros.

23 hs – o seqüestrador fica nervoso com a presença da equipe especializada e ameaça matar a refém. Mas, depois é controlado, iniciando uma nova rodada de negociações.

23h20min – O detento anuncia nova exigência: contato parentes que moram em Prado (BA) e Vila Velha (ES).
Segunda-feira – 5 hs – as negociações são suspensas

7 hs – retomadas as negociações

7:10 – o sequestrador percebe uma movimentação próximo da cela e rompe com os entendimentos.

9: hs – após a retomada das negociações, seqüestrador pede a leitura de uma carta com suas reivindicações, diante da presença da imprensa. Também pede a presença de uma psicóloga, sendo atendido.

11h35min- PM consegue localizar uma irmã de Pedro Francisco Vieira em Prado (BA), que, às 11h50min, é colocada em contato telefônico com ele.

12h11min. Após a conversa pelo telefone, o detento liberta a refém. Em seguida, ele foi levado para a Santa Casa de Montes Claros, em uma ambulância do Corpo de Bombeiros.


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