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Estado de Minas JOVENS QUE ASSUSTAM

Menores fazem crescer violência no interior de Minas

Autoridades apontam participação de menores como determinante para aumento da violência em algumas cidades mineiras com maior alta nos crimes em 2011


postado em 11/03/2012 07:23 / atualizado em 11/03/2012 07:37


Passos – Com pouco mais de um metro e meio de altura, o garoto é tão miúdo que precisa se debruçar para alcançar uma janela. O corpo franzino, de 50 quilos, o faz encolher no uniforme vermelho amarrotado da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi). A voz desafinada do adolescente W.B.M., de 13 anos, no entanto, é desafiadora. Considerado a pessoa “mais perigosa” do município pela polícia de Passos, no Sul de Minas, ele assume sem embaraço quatro homicídios e três tentativas de matar outras pessoas. W. faz parte de grupo cada vez maior de crianças e adolescentes que, longe de escolas e quadras esportivas, contribuem para o aumento dos índices de violência em cidades do interior de Minas.

Em pelo menos sete dos municípios mineiros nos quais houve altas mais expressivas no número de crimes violentos, autoridades policiais apontam que a participação de adolescentes foi determinante para a piora nos índices. A situação é mais dramática em Passos, a 409 quilômetros de Belo Horizonte, onde os homicídios cresceram 164,2% (14 em 2010 para 37 em 2011) e os crimes violentos aumentaram 106,9% (de 130 para 269), segundo balanço da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). Ali, a Polícia Civil contou mais assassinatos que a Seds no ano passado: 44. E apurou que em 33 deles – 75% dos casos – houve exclusivamente participação de menores.

O problema também ocorre em outras cidades. Em Coronel Fabriciano, no Vale do Aço, houve aumento de 85% nos crimes violentos e de 75% nos homicídios. O delegado da cidade, Walter Felisberto, estima que 70% dos casos tiveram participação de menores, seja direta ou em parceria com maiores de 18 anos. “O tráfico se aproveita desses menores e da sua imputabilidade”, avalia. Ao Estado de Minas, autoridades policiais de Varginha, Sete Lagoas, Divinópolis, Conselheiro Lafaiete e Barbacena, cidades nas quais também foi registrado aumento nos índices de violência, disseram que a participação de adolescentes em crimes predomina. Em Ipatinga, no Vale do Aço, os crimes recuaram, mas a polícia afirma que ali cada vez mais menores estão relacionados a ocorrências policiais.

Centros de internação

Na maioria das cidades, autoridades policiais dizem que a falta de centros de internação nos municípios ou de vagas em localidades vizinhas contribuem para o problema. Para eles, mais menores cometem infrações diante da certeza de que ficarão apreendidos por pouco tempo. “Não temos dificuldades para solucionar os casos. O problema é que os envolvidos são presos e acabam soltos”, diz o delegado regional de Passos, Carlos Alves Francisco. Segundo ele, este ano já houve quatro homicídios e pelo menos sete pessoas estão marcadas para morrer por causa da guerra entre gangues de traficantes com menos de 18 anos. O delegado aponta que, no município, os menores já não são apenas usados por traficantes. Em alguns casos, estão à frente de grupos. “Antes, o traficante, muitas vezes ligado ao crime organizado paulista, usava os menores para matar e traficar. Agora, os próprios menores assumiram as bocas de fumo”, diz.

Em Passos, o caso do adolescente W., apreendido com um revólver calibre 38 e uma pistola calibre 380, é apontado pela polícia como exemplo de que menores não temem punição na cidade. “Num só dia, esse menor, o W., foi apreendido de manhã por tentativa de homicídio. Foi solto sob a guarda do responsável e à tarde o pegamos de novo por tentar matar outra pessoa. Nos dois casos, as vítimas levaram muitos tiros”, conta o comandante da PM local, tenente-coronel Ronaldo Rezende. Como Passos não dispõe de uma unidade para internação de menores, a Justiça só permite a permanência de infratores por cinco dias em presídios. Quando se trata de casos graves, uma internação preventiva chega a ser pedida, o que resulta numa prorrogação de 45 dias. O prazo é considerado pela polícia e pelo Ministério Público exíguo para que o processo jurídico resulte na aplicação de uma medida socioeducativa, o que culmina na soltura do menor.

Menores de 18 anos não escondem da polícia seus próximos movimentos. Segundo o delegado regional de Passos, eles fazem ameaças até dentro da delegacia. “O garoto (W.) falou para mim: ‘pode me prender que daqui a 45 dias estou na rua de novo e vou matar mais’, referindo-se aos seus desafetos no tráfico de entorpecentes, principalmente o crack”, conta Carlos Francisco. Na semana passada, os adolescentes Y.F.A. e P.H.M., de 17, suspeitos de matar dois irmãos em Passos, foram libertados depois de 45 dias internados em Uberaba, no Triângulo Mineiro. “Já estão todos no bairro. E o pior é que os dois mortos eram irmãos de dois bandidos que eles confundiram. Agora, ou matam para se proteger ou vão ser mortos por vingança”, prevê o delegado Carlos Francisco. (Colaboraram Simone Lima e Marcos Avellar)

 

75% É o percentual dos assassinatos em Passos, no Sul de Minas, que foram atribuídos a menores no ano passado 

 

70% É o percentual dos crimes violentos em Coronel Fabriciano que tiveram participação de adolescentes, segundo a polícia 

 

 


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