Diante do achado e posterior pesquisa iconográfica, a data de inauguração do CAP não poderia ser outra: 19 de março, segunda-feira, às 10h, “dia de São José”, afirma o diretor de Conservação e Restauração do Iepha, Renato César de Souza. Segundo ele, é procedimento de rotina que o restauro seja acompanhado de estudos para aprofundar os conhecimentos sobre o bem, não apenas contemplando as técnicas e materiais construtivos, mas também trajetória, autorias etc. “Muitas vezes, nesses momentos, pode vir à tona uma série de novas histórias e revelações à nossa memória”, diz Renato, lembrando que há outros casos em Minas com descobertas surpreendentes..
Projetado em 1928 pelo arquiteto Luiz Signorelli, responsável por outras construções na capital, o prédio em estilo eclético da Rua Gonçalves Dias teve uma série de usos, como residência, convento e hospital particular, de 1970 a 1985 e a partir de 1980, unidade do Instituto de Previdência do Estado de Minas Gerais (Ipsemg) – ao longo do tempo, conforme a serventia, o imóvel sofria acréscimos e ganhava anexos. Tombado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural Municipal (CDPCM-BH), ele recuperou a arquitetura original, a partir do projeto aprovado pelo Iepha, responsável ainda pelo acompanhamento e fiscalização. As intervenções, que custaram R$ 7 milhões (R$ 1, 5 milhão da Cemig e o restante do governo estadual), envolveram do restauro à implementação de estrutura moderna e adequada para instalação de obras de arte. O projeto foi o último desenvolvido pela dupla de arquitetos Janete Ferreira da Costa, falecida em 2009, e Acácio Gil Borsoy. Na manhã de ontem, no ateliê do Iepha, na Praça da Liberdade, o restaurador Thiago Botelho dava os últimos retoques na imagem, que chegou ao local com resquícios de uma pintura azul.
Surpresas
Durante obras de restauração, os especialistas podem se deparar com pinturas artísticas ou estruturas arquitetônicas escondidas sob camadas de tintas e reboco. Em 2006, na última reforma no Palácio da Liberdade, em 2006, foram achadas atrás das instalações sanitárias, ao redor do elevador principal, uma base de ferro com motivos florais. Isso indicava que toda a estrutura do equipamento havia sido construída para estar exposta. Nas abóbodas da varanda central foram descobertas pinturas decorativas originais, encobertas por três camadas de tinta branca.
Saiba mais centro de arte popular
No Centro de Arte Popular, serão expostas obras de artistas populares de regiões de Minas e do Brasil. O edifício tem quatro pavimentos, com ateliês para oficinas, auditório multiuso, café, loja, biblioteca, videoteca e quatro salas de exposições de longa duração. O acervo reúne cerca de 800 peças, grande parte delas pertencente ao estado, e outras resultado de empréstimo. A exposição inaugural terá 360 peças que retratam as diferentes expressões de arte criadas pelo homem e inclui desde as manifestações dos primeiros habitantes da região, com as pinturas rupestres, até os grafismos urbanos contemporâneos. Haverá também a mostra temporária Atos de fé, da colecionadora Maria Zahle Penna, de Tiradentes, no Campo das Vertentes, que apresentará, pela primeira vez, oratórios, santos e ex-votos do séculos 17 ao 19.
Pinturas profanas
Em 2008, durante a restauração do casarão colonial onde nasceu e viveu o presidente da República Afonso Pena (1847-1909), no Centro Histórico de Santa Bárbara, na Região Central, foi descoberta uma pintura profana na sala principal da casa. A pintura em estilo rococó do século 18 permaneceu escondida por mais de 100 anos, sob cinco camadas de pintura. Ocupando uma área de 35 metros quadrados, os dez painéis pintados sobre madeira trazem África, América, Europa e Ásia (os quatro continentes conhecidos até então), representadas em figuras femininas, sempre acompanhadas de elementos da fauna e flora características.
Moedas
Em 2009, na restauração do Cine Brasil, no Centro de BH, foram encontradas uma rampa lateral e escada original encobertas. Nas paredes, sob quatro camadas de tinta, estavam 320 metros quadrados de uma pintura decorativa em padrão geométrico, estilo art-déco, atribuído ao artista italiano Ângelo Biggi. Mas, a mais incrível descoberta, estava enterrada a 1,5m de profundidade desde 1927: a pedra fundamental do prédio, uma caixa metálica com moedas e papéis da época da construção.
Painéis sob cartazes
Em Uberlândia, na Região do Triângulo, durante a restauração do Mercado Velho, foram encontrados cinco painéis do artista plástico Geraldo Queiroz, que datam da década de 1950. As obras foram descobertas por especialistas embaixo de cartazes, massa corrida e várias camadas de tinta. As pinturas foram restauradas e expostas na fachada do prédio.
Querubins debaixo de flores
Em 2009, a Igreja de Nossa Senhora do Amparo, em Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, foi reaberta depois de restauro. Por baixo de camadas de tinta, foi encontrada uma pintura decorativa de cenas bíblicas em perspectiva no forro da capela-mor, possivelmente original da construção. Já na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, no distrito de Alto Maranhão, em Congonhas, na Região Central, por trás de pinturas com motivos florais foram achadas pinturas de cabeças de querubins circundando uma nuvem. Em 2010, também foram encontrados pedaços de talha de madeira que, a princípio, poderiam pertencer ao retábulo original.
FONTE: IEPHA/MG