Motoristas que insistirem em dirigir embriagados vão enfrentar Lei Seca mais severa e correrão o risco de ser filmados por policiais se o Senado e a presidente Dilma Rousseff derem sinal verde ao substitutivo aprovado quarta-feira pela Câmara dos Deputados. Com base no texto, que permite o uso de vídeos e testemunhos para provar que o condutor está sob influência de álcool ou de outras drogas que causam dependência, o comandante do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), tenente-coronel Roberto Lemos, avisou nessa quinta-feira que todos os policiais envolvidos em blitzes da Lei Seca em Belo Horizonte usarão câmeras filmadoras assim que o projeto entrar em vigor. Hoje, as operações são feitas às sextas, sábados e domingos, simultaneamente em três pontos de BH, com apoio da Polícia Civil, Guarda Municipal e BHTrans.
“Teremos uma prova a mais além do boletim de ocorrência, do teste do bafômetro e da descrição dos sinais notórios de embriaguez do condutor”, comemorou Lemos. “O que a gente puder fazer para fortalecer as provas, vai fazer”, acrescentou.O substitutivo do deputado Edinho Araújo (PMDB-SP) ao Projeto de Lei 5.607/09, do deputado Hugo Leal (PSC-RJ), prevê que para comprovar a embriaguez bastará avaliar a capacidade psicomotora alterada do motorista por influência de álcool ou outra substância psicoativa que determine dependência. Essa comprovação poderá ocorrer por “teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, prova testemunhal ou outros meios de prova admitidos em direito”. O condutor terá direito à contraprova. Caso não concorde com os resultados desses testes, poderá pedir o teste do bafômetro.
Um efeito da possível entrada em vigor da nova lei será o aumento dos inquéritos criminais por embriaguez ao volante, segundo o coordenador operacional do Detran-MG, delegado Ramon Sandoli. “Haverá uma dinâmica maior aos procedimentos criminais, pois aumenta a capacidade de provar que o condutor está dirigindo sob efeito do álcool. Também vão aumentari as prisões em flagrante, a instauração de inquéritos policiais e até as punições criminais terão um volume maior”, disse. Em relação aos processos administrativos, segundo ele, as provas já são feitas por outros meios que não o bafômetro ou exame de sangue. No ano passado, a Polícia Civil instaurou 1.283 inquéritos por crimes de embriaguez com ou sem vítimas, 295% a mais do que em 2008, quando as penalidades começaram a ser aplicadas.
A recusa do bafômetro em BH ainda é alta, na avaliação do delegado. De 5 de agosto ano passado até 1º de abril deste ano, dos 13.954 motoristas abordados em blitze na capital, 429 se recusaram a fazer o teste. “A nossa expectativa é de que haja mais punição e que com isso as pessoas deixem de beber e adotar condutas perigosas”, afirmou Sandoli. Para ele, a decisão recente do Superior Tribunal de Justiça (de que o motorista que recusar o bafômetro ou exame de sangue não poderá ser acusado nem punido pelo crime de dirigir embriagado, mesmo que haja sinais evidentes de que está embriagado) “pontuou a fraqueza da lei existente ao fazer uma leitura literal e uma interpretação objetiva do texto da lei que hoje já é fraca”.
Hoje, quem se recusa a fazer o teste do bafômetro ou de sangue fica afastado do processo criminal. Recebe punição administrativa com multa e carteira suspensa por até 360 dias. No ano passado, segundo o Detran-MG, mais de 2 mil carteiras foram suspensas por embriaguez, mesmo sem teste do bafômetro. “Com alteração desse contexto legal, aumentarão as blitzes, a capacidade da Polícia Civil de fazer inquéritos e de julgamentos e punições na esfera criminal desses condutores”, avaliou Ramon Sandoli.
Fiscalização
Atualmente, a constatação visual de que um motorista apresenta comportamento de quem ingeriu álcool ou drogas, que são olhos vermelhos, andar cambaleante e fala desconexa, consta nas anotações policiais, mas não é usada como flagrante para que ele seja levado à delegacia e preso por crime de trânsito. Essas observações são anotadas e servem como testemunho num processo criminal. “A Justiça pode se apoiar nas constatações durante o processo, mas quem recusa o bafômetro tem punição administrativa e a carteira recolhida”, informa o chefe da Seção de Técnica de Trânsito da Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito da PM, capitão José Procópio Corrêa Júnior. (Colaborou Mateus Parreiras)