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Estado de Minas

Mais de 200 anos após sua morte, Tiradentes segue sem um rosto

De líder messíanico a militar esguio, Tiradentes tem representações oficiais que dificilmente correspondem à realidade. Curiosamente, a verdadeira feição do mártir de tantas faces segue resistindo a anos de estudos.


postado em 20/04/2012 07:52 / atualizado em 20/04/2012 08:23

Passados 220 anos da morte de Tiradentes, ninguém sabe exatamente como era o rosto do herói. As faces que conhecemos são idealizações: a versão do mártir de barbas e cabelos longos, que lembra Cristo, como mostra o primeiro registro, uma litografia de 1890, do pintor carioca Décio Villares (1851 – 1931), ou a imagem de porte esguio e elegante do alferes, enaltecida em quadro de 1940, que se tornou ícone da Polícia Militar de Minas Gerais. Segundo os estudiosos, a figura messiânica, de túnica branca, foi criada logo no início da república, que precisava de um símbolo forte para sepultar, de vez, a imagem cunhada no século 19 dos inconfidentes, retratados como poetas e românticos.

A única referência visual existente sobre Tiradentes revela um “homem de olhar espantado”, aspecto que denotaria um caráter ansioso e presença de certo tique nervoso. Mas, conforme os historiadores, no fim da vida ele não usaria barba. Ao ser preso, teve os bens sequestrados, mas deixaram que ele mantivesse na cadeia, conforme está documentado, um missal (livreto religioso) e duas navalhas, com certeza usadas para que se barbeasse.

Ao longo dos anos, Tiradentes surgiu representado de diferentes maneiras. Veja algumas das imagens mais conhecidas (clique para ampliar).(foto: Reprodução)
Ao longo dos anos, Tiradentes surgiu representado de diferentes maneiras. Veja algumas das imagens mais conhecidas (clique para ampliar). (foto: Reprodução)




O desconhecimento da face verdadeira do herói que, diz a história oral, teve a cabeça roubada em Ouro Preto depois do esquartejamento do corpo no Rio de Janeiro, sempre intrigou os pesquisadores. Em 1960, o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais formou uma comissão para cuidar do assunto e traçar o retrato do mártir, sem chegar a uma definição. Na década seguinte, novo grupo se debruçou sobre o mesmo tema, chegando à conclusão de que o rosto do herói seria liso, tendo em vista a posse das navalhas no cárcere.

Autor do livro O Manto de Penélope – História, Mito e Memória da Inconfidência Mineira de 1788-9, o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) João Pinto Furtado está certo de que a apropriação simbólica de Tiradentes é até mais importante do que ações de fato praticadas pelo herói. “Ele plantou a semente da liberdade, era um ativista, embora entre os planos dos inconfidentes não estivessem temas como a libertação dos escravos. Tiradentes tinha três deles quando foi preso, e os demais inconfidentes também eram donos de muitos escravos A emancipação dos negros, por sinal, já vinha sendo feita nos Estados Unidos”, conta o professor, que apresenta em seu livro as diversas leituras feitas, ao longo do tempo, sobre a face do herói. Apesar da controvérsia sobre o verdadeiro aspecto do mito, o historiador tem uma certeza: “Tiradentes ficou eternizado”.

Ele conheceu o mito

Um documento garimpado pelo Ministério Público estadual, via Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico, em edição do Minas Gerais, Diário Oficial do Estado de 19 de novembro de 1892, joga mais luz sobre a figura de Tiradentes. Conforme relato de Severino Francisco Pacheco, então com 115 anos, ex-praça de cavalaria do Segundo Regimento de Ouro Preto, o alferes “era um homem alto, sympathico, bonito e gênio alegre”. Pacheco estava no início da adolescência quando viu Tiradentes várias vezes numa casa do Largo do Rosário “tocar violão e cantar modinhas, no que era perito”. Segundo o jornal, Pacheco, em 1892, era casado com uma “menina” de 60 anos.


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