O número de mulheres que identificam Pedro Meyer como o homem que as atacou sexualmente só aumenta – na sexta-feira, mais duas o reconheceram –, reforçando os indícios de que as investigações feitas à época têm muitas falhas. Uma delas trata de um segundo caso de estupro no Bairro Cidade Nova, Região Nordeste de Belo Horizonte, mesmo depois da prisão de Paulo Antônio. O ex-porteiro foi detido em 1º de abril de 1997, acusado de ter violentado uma menina de 11 anos em um prédio do bairro, perto do edifício onde ele trabalhava, crime cometido em 26 de janeiro do mesmo ano. Mas, em 30 de julho, três meses depois da prisão, outra menina, de 11 anos, foi atacada na região em circunstâncias muito semelhantes às do episódio anterior.
A família da criança teria chamado a polícia, dado queixa e chegado até a fornecer gasolina para que os policiais investigassem, mas sem resultados. Quinze anos depois, ela reconheceu Pedro Meyer em uma rua do Bairro Anchieta, o seguiu de carro e pediu para que parentes chamassem a PM para prender o ex-bancário. A partir daí, surgiu a suspeita de que teria havido um grande engano no passado.
Questionamento
O EM questionou à Polícia Civil quem estava à frente da Delegacia de Mulheres na época dos crimes, para saber por que não foi feita a relação entre o estupro praticado em janeiro de 1997 e o cometido em julho, mas não obteve resposta.
O advogado Marco Antônio Siqueira, que representou o ex-porteiro na fase de recursos depois da condenação, reforça que houve falhas na fase da apuração policial, que podem ter prejudicado Paulo. “Havia detalhes que apontavam para sua inocência.” Para Siqueira, o que mais chamou a atenção foi que uma das supostas vítimas de Paulo teria afirmado que o agressor saiu correndo depois do estupro. “O ex-porteiro não teria como correr, pois tinha uma lesão na perna. A jovem também falou que o homem que a atacou tinha uma verruga no nariz e o meu cliente não tinha.” O advogado também considerou absurdo que o retrato falado usado para incriminar o porteiro foi o mesmo confeccionado nas apurações de crimes sexuais de 1994, cujo autor já estava preso.
Outro ponto ignorado pela polícia trata do depoimento de uma testemunha. Uma moradora do Edifício Robson Mendonça Barbosa, no Cidade Nova, onde Paulo Antônio trabalhava, contou ao EM que compareceu à Delegacia de Mulheres e declarou que em 26 de janeiro, data em que a menina de 11 anos foi estuprada, o porteiro estava trabalhando normalmente e, por esse motivo, ele não poderia ter cometido o crime do qual era acusado. Mas, segundo a testemunha, seu depoimento não teria sido anexado ao inquérito.
A defesa do ex-porteiro ainda aponta uma suposta prova ilícita contra ele. Uma equipe de policiais teria filmado Paulo no prédio onde ele trabalhava e exibido as imagens para as meninas agredidas antes mesmo do reconhecimento oficial na delegacia. Para a defesa, a prova foi usada indevidamente.
Arma
Nos dois crimes de violência sexual atribuídos ao porteiro, as vítimas informaram à polícia que foram ameaçadas por um homem armado com revólver. Entretanto, a polícia não teria feito buscas por essa arma e nem apurado se Paulo Antônio tinha uma em seu poder. Outro critério que, mesmo não sendo decisivo, teria sido desconsiderado pelos policiais na época, é a diferença de idade entre o condenado e o atual suspeito de violentar a menina em janeiro de 1997. Quando foi preso, Paulo Antônio tinha 51 anos. Entretanto, a vítima, no depoimento prestado à polícia, disse que foi atacada por um homem de “uns 40 anos”. (Com Landercy Hemerson)
5,7 anos
foi o tempo que o ex-porteiro Paulo Antônio ficou na prisão
1.032
ocorrências de estupro foram registradas em Minas Gerais no ano passado
16 anos
é a pena imposta a Paulo Antônio pelos dois crimes de estupro dos quais é acusado
364
pessoas registraram queixas de crime de estupro em Belo Horizonte em 2011