Embora os caminhões de Mamonas ainda consigam se abastecer no território de Porteirinha, a 582 quilômetros da capital, a própria cidade também enfrenta problemas para garantir água a seus habitantes. A angústia imposta pela seca é sentida pela família da lavradora Sebastiana Maria de Jesus, de 38 anos, moradora da localidade de Canafístula, na zona rural. Mãe de 11 filhos e grávida de gêmeos, ela precisa esperar o caminhão-pipa da prefeitura, que às vezes demora mais de 10 dias para voltar. Enquanto pode, ela dá “banho de balde” nas crianças no quintal. Como precisa economizar ao máximo, o ritual costuma se resumir a “duas enxaguadas”.
Sebastiana reclama da dificuldade para ter acesso à água e cuidar dos filhos. Também lamenta as perdas nas lavouras por causa da falta de chuvas. “Meu marido plantou milho, feijão e abóbora, mas o sol foi muito forte. Não vingou nada”, diz a mulher.
Na mesma localidade, Claudência de Jesus, de 24, sofre com a escassez de água para cuidar dos dois filhos pequenos, uma menina de 2 anos e um bebê de 6 meses. “Às vezes, aproveito a mesma água que uso para lavar arroz para dar banho nas crianças”, disse Claudência.
Para sobreviver à demora no retorno do caminhão-pipa, ela e seu marido, o lavrador Carlos César Silva Pereira, de 28, precisam se abastecer com balde em um poço perto de casa. O problema é que a água é salgada e, com a estiagem prolongada, a vazão diminuiu muito.
Higiene difícil
Um pouco mais ao norte, quase na divisa com a Bahia, a situação não é muito diferente. Em Espinosa, a 690 quilômetros de BH, alunos da pequena escola municipal da localidade de Alagadiço 1 também sofrem com a aridez, que degrada as já precárias condições em que estudam. Instalada em um velho prédio, a unidade tem 17 alunos, que dividem espaço numa única sala multisseriada (segundo e terceiro anos do ensino fundamental).
Quando chega, a água do caminhão-pipa é armazenada em dois tambores de 200 litros cada. É usada basicamente para fazer merenda e para matar a sede. O “banheiro” da pequena escola se resume a uma fossa. “A gente tem que ensinar higiene pessoal para os alunos, mas, sem água, fica difícil trabalhar com esse tema”, diz a professora Rosânia de Oliveira Leão Souza. Afinal, como orientar as crianças sobre os hábitos simples, como lavar as mãos antes das refeições, em uma circunstância em que quase falta água para cozinhar?