Prados – Uns reagem com dúvida, outros dizem ser boato e há aqueles que já viram para crer. O certo mesmo é que em Prados, na Região do Campo das Vertentes, ninguém consegue ficar indiferente ao suposto extermínio de dezenas de cães vadios que seria promovido, conforme denúncias numa rede social, pela prefeitura do município, localizado a 178 quilômetros de Belo Horizonte. Diante dos casarões coloniais, nos bares ou na Praça Central, conhecida como Praça do Globo, a conversa sempre gira em torno do misterioso envenenamento dos animais enquanto eles dormem no meio da rua ou andam em bandos sem direção.
O Bairro Pinheiro Chagas, na entrada da cidade, seria, conforme moradores, um dos pontos de morte dos bichos. A desempregada Verônica Cândida da Silva conta que presenciou o desespero de um vizinho ao ver o seu animal agonizando perto de um supermercado onde ela trabalhava. “O homem ainda tentou fazer o cão vomitar, mas não teve jeito”, disse a jovem, que, enquanto conversava com uma amiga na Praça do Globo, no Centro, tinha ao lado um vira-lata dorminhoco. Para muitos moradores, o número excessivo de cachorros nesse espaço público, a qualquer hora do dia, tem a ver com um açougue e restos de comida na rua. Verônica revela que já viu mais dois animais mortos na rua, mas nunca ficou sabendo da causa.
Um dono de bar, que preferiu não se identificar, revela que os animais “vivem” na porta do seu estabelecimento. “As pessoas chegam para comer um salgado e os bichos ficam de olho. Então, a gente tem que ir lá fora e enxotá-los, a fim de evitar problemas.” Para o comerciante Aloísio de Souza Gomes, de 44 anos, tudo não passa de boato, mas destaca que muita gente passa no trevo de entrada da cidade “e solta os cachorros”. Vagando pela estrada, só resta aos animais sem dono seguir até o Centro, em busca de comida. “Aqui em Prados todo mundo é família, as pessoas se conhecem. Então, se fosse verdade, todo mundo saberia. O triste mesmo é ver os moradores das cidades vizinhas se desfazendo, dessa forma, dos bichos que não desejam mais ter em casa.”
Dona da Barraca da Maizé (lanchonete), Rosilene Pinheiro Nascimento Fonseca não acredita que o açougue na Praça do Globo seja o chamariz para as matilhas. “Pode ser que deram bola matar, mas não acredito de forma alguma que a prefeitura seja responsável pela matança”, diz a comerciante. As “bolas”, jeito comum de extermínio, são geralmente feitas de carne e vidro moídos ou com veneno.
Manobra política
A história do extermínio teria começado em Dores dos Campos, distante 13 quilômetros de Prados. Segundo o prefeito, Gustavo Gastão Cardoso (PT), o boato partiu de uma moradora do município vizinho, que postou a informação numa rede social e logo ganhou alcance. “Falaram que a prefeitura estaria fazendo isso junto com a Polícia Militar. Não há o menor fundamento”, conta o administrador público, sem perder o bom humor: “Fizeram uma cachorrada com a gente, pode ser manobra política em ano eleitoral”.
Cardoso explica que apareceram no máximo dois cães mortos, vítimas de atropelamento. “Não houve denúncias. O nosso setor de zoonoses pesquisou e não identificou os envenenamentos. Também não recebemos queixas da Sociedade Protetora dos Animais de São João del-Rei”, conta o prefeito. Para tranquilizar a população, o petista mandou afixar uma nota de esclarecimento em locais públicos e de maior visibilidade. O documento chama a atenção para a campanha de vacinação em julho e toca no assunto crucial: “Quanto aos boatos de envenenamento de cachorros em Prados, a prefeitura informa que se trata de uma pessoa que postou, na internet, informações inverídicas. Isso não procede, pois, em oito anos de administração municipal, as orientações sempre foram no sentido de cuidar da saúde pública, defender a vida e criar condições sanitárias para a população”.