Mesas de plástico, alumínio, madeira de demolição, muitas encostadas em floreiras e bancos públicos. Cadeiras dobráveis, ergométricas, além das patrocinadas por fábricas de cerveja, e guarda-sóis de todas as cores e tamanhos. Diante da indefinição da prefeitura sobre o padrão do mobiliário nos quarteirões fechados da recém-revitalizada Praça da Savassi, lojistas têm esbanjado criatividade na decoração e criado ambiente fértil para desavenças no reduto do charme da Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O mais novo pivô da discórdia são três buracos furados na Rua Antônio de Albuquerque, esquina com Rua Alagoas. No local, foram instalados ombrelones (guarda-sóis tamanho GG) para proteger as mesas da Creperia Albuquerque, que tem como sócio o presidente da Câmara Municipal, vereador Léo Burguês (PSDB).
Autora do projeto de revitalização da Savassi, a arquiteta Edwiges Leal considerou a intervenção no piso uma agressão ao espaço público e já encaminhou o assunto à Regional Centro-Sul. “Fiquei indignada. É um desrespeito grande à Savassi, uma obra tão esperada. O local deveria ter ocupação de primeiro mundo, e abrir furo como o de um mastro de bandeira é um erro primário, e justo do presidente do Legislativo”, afirma.
Embora não conste na administração municipal pedido da creperia para fixar as sombrinhas gigantes, Léo Burguês diz que agiu dentro da lei. “Consultei secretários e o gerente de licenciamento da Centro-Sul. Os ombrolenes são afixados no chão até por uma questão de segurança e, além disso, há outros casos na cidade. Ajo conforme as leis da cidade”, garante.
A prefeitura, por sua vez, não tem posicionamento sobre o assunto e se limitou a responder, por meio da Regional Centro-Sul, que “está avaliando o que pode ser feito junto à fiscalização”. Informou ainda que o estabelecimento tem autorização para usar o mobiliário na área em frente ao comércio.
A indefinição sobre os ombrelones só reforça um cenário onde sobram conflitos. Quem chega ao quarteirão da creperia, inaugurada há um mês, vê mesas grudadas até em bancos públicos. “O excesso de mesas no quarteirão atrapalha quem está sentado nos bancos. É como se a Savassi fosse apenas do restaurante”, diz a vendedora Ana Paula Gomes, de 29 anos, que descansava em um dos bancos no intervalo do almoço.
Sem padrão
A realidade não é exclusiva do empreendimento de Léo Burguês, mas se espalha nos demais calçadões onde há bares e restaurantes, como o Estado de Minas mostrou em reportagem publicada no dia 18. “Disposto dessa forma, o mobiliário está impedindo a circulação central do quarteirão fechado, invadindo o espaço do pedestre”, afirma Edwiges. Apesar de ter publicado, em junho, o Decreto 17.917, com regras para o uso de mesas e cadeiras nos quarteirões fechados na Savassi, até agora a prefeitura não tirou as normas do papel. Segundo a Centro-Sul, um chamamento público convocando interessados em pôr o mobliário ao ar livre está sendo preparado e, por enquanto, a recomendação é deixar faixa de 1,5m para a passagem de pedestres próximo à fachada das lojas.
Além das normas para a ocupação, o decreto também adianta que haverá um padrão de móveis a serem adotados nos quarteirões. Os modelos estão em discussão pela Comissão de Mobiliário Urbano, mas o texto publicado em junho já adianta que o uso dos guarda-sóis é obrigatório. Mas, ao que tudo indica, o modelo adotado não será exatamente o escolhido pela creperia de Burguês. “O guarda-sol deverá ter quatro metros quadrados e não será enorme como aqueles. Queremos criar um leiaute diurno com os ombrelones e outro noturno, explorando a iluminação baixa instalada na Savassi”, afirma Edwiges, que também teve voz ativa nesse processo.
“Respeito a opinião dela, mas (os ombrelones) estão totalmente dentro da lei. Paguei quase R$ 1 mil para furar aquilo ali”, afirma o presidente da Câmara, que ressalta estar participando das discussões sobre o chamamento público.