Garrafa, saco plástico, tubo de pasta de dente. Faca, mangueira, entulho e mais plástico. Ferros retorcidos, chinelo, sola de sapato, papelão, e, como não podia deixar de ser, mais plástico. Há 42 anos, uma montanha de lixo sangra nas margens do Rio das Velhas, em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, contaminando o maior afluente do Velho Chico. Por mais de três décadas, o local, conhecido como depósito do Galo, que repousa numa área de cerca de 400 metros quadrados, recebeu os resíduos do município sem qualquer preocupação com a natureza. Embora esteja fechado desde 2002, até hoje nada foi feito para reparar os danos.
Com a intervenção do Ministério Público (MP) estadual, em 2010, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) assinou um termo de ajustamento de conduta (TAC), obrigando a prefeitura a tomar providências, mas o acordo não foi cumprido. Ironicamente, o lixão fica pouco abaixo da Estação de Tratamento de Água de Bela Fama, da Copasa. “Isso teria que ser retirado daqui, contamina o Velhas e o lençol freático. Na época de chuva, a enxurrada sai arrastando tudo para dentro do rio”, comenta o mobilizador e navegador do Projeto Manuelzão, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rafael Bernardes, que, em 2003, percorreu todo o curso d’água durante uma expedição. A prefeitura informou que a obra para contenção do aterro está em licitação.
A ocupação inadequada se torna ainda mais grave pelo fato de o terreno da região ser formado de rochas calcárias, importantes para o abastecimento do lençol freático. E antes fosse apenas o esgoto. Ao percorrer a bacia do Ribeirão da Mata, não é raro encontrar voçorocas, rachaduras provocadas por erosão em áreas sem cobertura vegetal, muito lixo espalhado por todo canto, além de areais sugando sem critério sedimentos do fundo do curso d’água. Ao longo de toda a bacia, há dragas de areia, muitas delas clandestinas, mas somente 20 são cadastradas. “Nosso grande desafio é a poluição difusa: o lixo na rua, a draga de areia, o esgoto caindo no córrego, tudo isso, somado, se torna um grande problema”, afirma o fundador do subcomitê do Ribeirão da Mata, Procópio de Castro.