O Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Piracicaba já havia pedido ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) providências para evitar o escoamento de produtos químicos para um dos principais afluentes do Rio Doce, mas o pedido não foi atendido e por pouco não ocorreu o pior depois que a carreta que transportava ácido sulfúrico tombou e despejou o produto tóxico no leito do rio.
“Havíamos solicitado ao Dnit uma proteção com eucalipto para barrar veículos que eventualmente tombassem ali caíssem diretamente na área de captação das cidades. Mas, nesse caso, o vazamento ocorreu por meio da rede de drenagem pluvial e só reforçou nossa preocupação em relação a esses problemas. Já tínhamos advertido os órgãos sobre esse risco e vamos cobrar soluções, pois queremos o rio limpo”, afirma Iusifith Chafit Felipe, presidente do comitê.
O técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Vinicius Perdigão, destacou o fato de outras áreas ao longo das rodovias que cortam o estado apresentarem o mesmo tipo de problema, com riscos de contaminação das fontes de abastecimento de água. Para ele, a situação na BR-381 é ainda pior. “Na rodovia, que corta os rios Piracicaba, Paraopeba e Doce, os riscos de acidentes como esse são grandes”, disse o técnico.
Embora a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) ateste que a qualidade da água atingida pelo ácido sulfúrico não foi alterada, Vinicius ressaltou que os danos ambientais ainda não foram totalmente conhecidos. “As comunidades ribeirinhas e proprietários rurais foram alertados para o risco do consumo dos peixes e de animais beberem a água do manacial. O ácido vai sendo diluído ao longo do rio, mas todo cuidado é pouco. Não sabemos estimar o tamanho do dano ambiental, já que tudo acontece muito rápido. Os peixes morrem e já são levados pelo próprio curso d’água”, afirma.
Poucos danos
Mas o analista ambiental da Semad Sérgio Zanute, do Núcleo de Emergência Ambiental (NEA), assegura que não houve danos expressivos ao meio ambiente. “Fizemos a medição do pH em vários pontos e a qualidade da água do rio não foi alterada e o número de peixes mortos não chega a caracterizar uma mortandade. Como a vazão do rio é muito grande, proporcionou mistura do ácido de diluição grande”, afirma.
A Copasa também informou que o abastecimento das duas cidades foi restabelecido ontem. Segundo a Semad, a terra, a areia e o cal usados para retirar o líquido e o solo contaminados serão encaminhados para aterros sanitários e estações de tratamento de efluente. Chefe do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal de Minas Gerais, Nilson Tadeu Ramos Nunes critica que as estradas brasileiras não conseguem sequer cumprir normas de segurança, quanto mais ambientais. “É possível, por exemplo, construir canais auxiliares que evitam o derramamento dessas substâncias nos cursos d’água, mas tudo é uma questão de recurso”, pondera.