A Avenida Cristiano Machado, um dos principais corredores de trânsito de Belo Horizonte, já supera o temido Anel Rodoviário em violência no trânsito. Conforme levantamento feito pela BHTrans com base em dados de 2011, a avenida registrou 947 acidentes, com 1.346 vítimas, das quais 139 pedestres, enquanto o Anel teve 767 acidentes, com 1.089 vítimas, sendo 94 pessoas atropeladas. Na sequência em número de acidentes estão as avenidas Amazonas (657), Antônio Carlos (544), do Contorno (525), Afonso Pena (285), Vilarinho e Andradas (275), Tereza Cristina (264) e Avenida Pedro II (228).
Para o especialista em engenharia de transporte de trânsito da Universidade Fumec Márcio Aguiar, a Cristiano Machado precisa de um tratamento especial tão logo terminem as obras do BRT (Bus Rapid Transit). “Espero que haja um conjunto de intervenções para garantir a segurança, como bloqueio para pedestres, semáforos e outros equipamentos”, afirmou. Segundo ele, a avenida é muito longa, indo do Viaduto da Lagoinha, na Região Noroeste, à Linha Verde, na divisa das regiões Norte e de Venda Nova. “O problema é que muitas pessoas não usam as passarelas e acabam atravessando fora do sinal, com perigo para a vida”, explica o professor.
Desrespeito
Na Avenida Amazonas, que ocupa a terceira posição em número de acidentes (657), vítimas (926) e pedestres atropelados (137), conforme a BHTrans, o desrespeito é maior no cruzamento das ruas Espírito Santo e Tupinambás e de São Paulo com Tamoios, no Centro. Na primeira intercessão, os pedestres não respeitam os sinais de trânsito e fazem a travessia em meio aos carros, alguns em alta velocidade. Motoristas apressados aceleram o veículo com o sinal amarelo, assustando os pedestres que correm para todos os lados. Muitos condutores acabam parados no meio do cruzamento, provocando retenções no trânsito.
Algumas pessoas parecem desafiar a morte na Avenida Amazonas. É o caso da dona de casa Maria José Machado, de 67 anos, que na manhã de ontem não teve paciência para esperar o sinal de pedestres abrir e foi logo atravessando. O motorista que quase a atropelou parecia mais assustado. “Não tenho medo de ser atropelada. Confio no meu taco. Tenho um filho especial em casa e tenho que fazer tudo com muita pressa”, disse a dona de casa. Segundo ela, o tempo para o pedestre atravessar as ruas de Belo Horizonte é curto.
O advogado Francisco Tavares, de 66, também considera pouco o tempo para a travessia. “No entanto, a cidade não permite alterações. O traçado das ruas e avenidas de Belo Horizonte é muito complicado, com muitos cruzamentos próximos uns dos outro. Por isso o pedestre é mal educado. Não temos outra opção a não ser atravessar no meio dos carros”, disse o advogado.
Diferença
A BHTrans informou que faz campanhas educativas permanentes na Cristiano Machado como a Na faixa eu vou, e está, desde 2000, implantando equipamentos detectores de avanço de semáforo e de fiscalização eletrônica de velocidade em toda a cidade. “Os acidentes graves com pedestres geralmente envolvem excesso de velocidade como uma das causas e o avanço de semáforo é uma das principais condutas que expõem pedestres a riscos de acidentes”, dizem os técnicos.
A BHTrans ressalta ainda que, de acordo com o artigo 70 do Código de Trânsito Brasileiro, os pedestres que estiverem atravessando a via sobre as faixas delimitadas terão prioridade de passagem. Nos locais com semáforos, será dada preferência aos pedestres que não tenham concluído a travessia, mesmo em caso de mudança do semáforo liberando a passagem dos veículos. E para que haja uma passagem com mais segurança, as pessoas devem iniciá-la assim que o sinal de pedestre ficar verde, mas sempre haverá a possibilidade de se iniciar a travessia no fim do verde e terminar no piscante ou no vermelho. “Lembramos que o tempo de pedestre não é condição de segurança e sim uma oportunidade de travessia em condições seguras.”
Palavra de especialista
RONALDO GUIMARÃES GOUVÊA
Coordenador geral do Núcleo de Transporte da Escola de Engenharia da UFMG
“Não há respeito dos motoristas”
“Em Belo Horizonte, há cruzamentos de trânsito, sem semáforo, que são verdadeiras armadilhas para os pedestres. Como não há respeito por parte dos motoristas nem campanhas educativas, as pessoas atravessam a pista e podem ser atropeladas. Realmente, muitos acidentes ocorrem nas intercessões. Exemplos típicos são as avenidas Cristiano Machado e Amazonas, onde os motoristas tendem a aumentar a velocidade, ultrapassando os 60km/h permitidos. Muitas vezes, os cidadãos só entendem quando o problema dói no bolso. O nosso policiamento é muito fraco, precisamos de fiscalização para que os acidentes sejam evitados.”