Minas abre as portas da sua pré-história, convida o mundo para visitá-la e, nessa viagem pelo tempo, cria equipamentos culturais que valorizam um passado de mais de 11 mil anos. Será inaugurado sexta-feira, às 15h, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o Museu Peter Lund, atrativo científico e turístico que funcionará dentro do conceito de “museu de território”, inspirado na trajetória do paleontólogo dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801–1880), que viveu nessa região mineira por mais de quatro décadas. O prédio localizado perto da Gruta da Lapinha abrigará uma exposição de 80 fósseis cedidos em regime de comodato por três anos ao governo de Minas pelo Museu de História Natural da Dinamarca, país onde nasceu Dr. Lund, conhecido como “pai da paleontologia brasileira” . A abertura do museu contará com a presença do príncipe herdeiro da Dinamarca, Frederik André Henrik Christian, e da mulher dele, a princesa Mary Elizabeth.
Na tarde de ontem, era intensa a movimentação das equipes trabalhando em vários setores do museu. Na parte externa, operários concluíam o projeto paisagístico, enquanto, no interior, técnicos davam retoques nas salas de exposição e demais equipamentos que, já neste sábado, a partir das 9h, estarão disponíveis para visita. A empreitada do governo de Minas consumiu cerca de R$ 5,3 milhões e se integra à Rota Lund, que tem como objetivo promover o desenvolvimento regional por meio de um roteiro turístico. “A Rota Lund se soma à Estrada Real e aos Caminhos de Guimarães Rosa, em Cordisburgo”, diz o superintendente de Museus e Artes Visuais da Secretaria de Estado da Cultura, Leonardo Bahia, também autor do projeto museográfico do Peter Lund.
Bahia explica que o museu de território compreende todo o Parque do Sumidouro, administrado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), onde foi construída a sede de 1.850 metros quadrados. “Vai ficar muito bonito e temos certeza que virá muita gente conhecer”, afirmou a zeladora da unidade de conservação, Andréa Maria Rodrigues da Silva, carregando mudas de folhagens para embelezar a trilha.
O acervo cedido pela Dinamarca é composto por fósseis encontrados por Lund durante suas pesquisas na região, cujas características geológicas favorecem o aparecimento de grutas e cavernas. Segundo Bahia, o novo museu dispõe de duas salas exclusivas para que o visitante tenha conhecimento dos planos de manejo do parque espeleológico; sala multiuso para projeção de filmes, palestras e oficinas; salas de exposição, uma delas destinada ao acervo do Museu de História Natural da Dinamarca; espaço para reserva técnica, conservação e restauro de obras; café e loja.
PEÇAS
“A Rota Lund foi idealizada pelo professor Castor Cartelli, da PUC Minas, e por Walter Neves, da Universidade de São Paulo (USP), que, há anos, faz escavações na região de Lagoa Santa”, diz Bahia. Em maio de 2009, numa missão enviada pelo governo estadual à Dinamarca, Cartelli, acompanhado da ex-assessora do então vice-governador Antonio Anastasia, Natasha Nunes, selou o acordo inicial com as autoridades em Copenhague para trazer os fósseis para Minas. No tempo em que viveu na região de Lagoa Santa, Lund enviou ao seu país uma coleção de 12.622 peças, a maioria encontrada na Gruta Lapa Vermelha, em Lagoa Santa, destruída por uma empresa na década de 1970, para fazer o tesouro natural virar sacos de cimento. No acervo que virá para Minas estão ossos humanos, de animais pré-históricos, como a preguiça gigante, tigre-dente-de-sabre, lhama, tatu gigante, gliptodonte e mastodonte e de animais ainda existentes na atualidade, como capivara, tatu, lontra e outros.
“Na época, Lund achava que as pessoas não entendiam o porquê de ele fazer as escavações em busca dos ossos. Agora, vemos que houve uma evolução cultural e esse acervo serve para valorizar a história de Minas, onde foi achado o fóssil de Luzia, a primeira mulher das Américas”, diz Leonardo Bahia. O trabalho realizado por Peter Lund contribuiu para que a região cárstica de Minas, que compreende a região de Lagoa Santa, ficasse mundialmente conhecida como importante campo de estudos para a paleontologia, arqueologia e espeleologia, em função do grande número de grutas e fósseis. Se destaca o sítio arqueológico da Lapa Vermelha 4, em Pedro Leopoldo, onde em 1975, uma missão franco-brasileira, chefiada pela arqueóloga e professora francesa Annete Laming Emperaire, encontrou o crânio humano com idade aproximada de 11.500 anos. Estudado, entre outros pesquisadores, pelo professor, biólogo, arqueólogo e antropólogo, o mineiro Walter Neves, batizou o crânio de “Luzia” sendo este, o fóssil humano mais antigo das Américas.
LINHA DO TEMPO
1801 – Nasce na Dinamarca Peter W. Lund, que viveu 46 anos na região de Lagoa Santa e é considerado o pai da paleontologia, arqueologia e espeleologia brasileiras
1832 –Lund (1801-1880) faz as primeiras descobertas de fósseis em cavernas e abrigos de Lagoa Santa
1845 – Ele envia ao rei da Dinamarca a coleção de fósseis encontrados na região de Lagoa Santa
Década de 1950 – Pesquisadores da Academia Mineira de Ciências e do Museu Nacional do Rio de Janeiro retomam as escavações na região
1974 –Missão franco-brasileira, chefiada por Annette Laming Emperaire (1917-1977), faz escavações, até 1976, em Lagoa Santa
1975 – Annette Laming encontra na Lapa Vermelha IV o crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo com datação do Brasil
1998 – Antropólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo, estuda e data (11,4 mil anos) o crânio de Luzia
2010 – Em maio, governos de Minas e da Dinamarca fecham acordo para cessão, em comodato, de fósseis para exposição em Lagoa Santa
2012 – Na próxima sexta-feira, será inaugurado o Museu Peter Lund, museu de território inspirado na trajetória do naturalista dinamarquês pela região de Lagoa Santa