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Estado de Minas

BRs 040 e 381 sofrem com gargalos causados pelo trânsito intenso

Principais vias de entrada e saída da capital, sofrem com infraestrutura precária e abusos dos veículos pesados


postado em 24/02/2013 00:12 / atualizado em 24/02/2013 07:25

Guilherme Paranaiba

(foto: Euler Junior/EM/D.A Press. Brasil)
(foto: Euler Junior/EM/D.A Press. Brasil)

A sinalização e o pavimento dão a dica ao motorista: ele está em uma rodovia, onde as características são diferentes do trânsito urbano. Apesar disso, trechos rodoviários no entorno da capital mineira, nas principais via de acesso à cidade, funcionam como extensão das ruas e avenidas de BH, graças ao intenso movimento rotineiro entre municípios da região metropolitana e ao aumento da frota. O Estado de Minas percorreu as BRs 040 e 381 e constatou que o entorno da capital sofre com gargalos que causam diversos transtornos aos motoristas.

Um deles é a falta de integração entre as autoridades federais e estaduais, a exemplo da tragédia ocorrida na quarta-feira de Cinzas na BR-040, em Itabirito, quando um veículo entrou na contramão e bateu de frente em um caminhão, matando os cinco ocupantes do carro. O acidente ocorreu às 7h15, a perícia chegou ao local às 11h42, os trabalhos necessários para a liberação da pista começaram por volta do meio-dia e só se encerraram às 14h, totalizando quase sete horas de interdição da rodovia. O resultado foi um engarrafamento que chegou a 20 quilômetros na volta do carnaval em uma das estradas mais importantes do país.

Outro problema que influencia na situação da estrada é o número insuficiente de rabecões, veículo responsável pelo transporte de corpos para serem submetidos à necropsia no Instituto Médico Legal (IML). Como são apenas três para toda a Grande BH, um em Betim e dois em Belo Horizonte, o deslocamento desses carros representa outro gargalo. Em caso de acidentes rodoviários com mortes, a remoção dos corpos só pode ser feita pelos rabecões, usados também para transportar vítimas de homicídios, suicídios, afogamentos e outros tipos de ocorrências com óbitos.

INTERRUPÇÕES Esses problemas resultam na interrupção constante do tráfego nas rodovias, seja para socorrer vítimas de acidentes, seja para remover veículos. De novembro de 2012 a janeiro, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou 128 fechamentos totais ou parciais de trechos de BRs em Minas Gerais, de acordo com dados divulgados no perfil da corporação no Twitter. Só na área da Delegacia Metropolitana da PRF foram 76 ocorrências. Anteontem, a Fernão Dias foi interditada por volta das 17h na descida da Petrobras, em Betim, Grande BH, por causa de um acidente envolvendo uma carreta e pelo menos 10 carros de passeio. Um dos atingidos pelo veículo pesado foi um motociclista, que morreu na hora. O fato de o acidente ter ocorrido no horário de pico complicou o trânsito no sentido São Paulo, que só foi totalmente liberado às 23h.

A deficiência na infraestrutura rodoviária, que encontra exemplos na BR-040, também causa fechamentos rodoviários. Entre BH e Conselheiro Lafaiete a situação é crítica por conta da circulação de caminhões de minério. O pavimento está desgastado, a pintura está apagada, falta segurança e a estrada tem barreiras físicas perigosas, como cinco pontes na região de Congonhas, que estreitam as faixas e aumentam o risco de acidentes. A sinalização é precária. Muitas placas foram retiradas e as que restam estão cobertas por pó de minério, prejudicando a visibilidade dos motoristas.

Caminhoneiro, Wilson Alfredo reclama das pontes estreitas próximo a Congonhas (foto: Euler Junior/EM/D.A Press. Brasil)
Caminhoneiro, Wilson Alfredo reclama das pontes estreitas próximo a Congonhas (foto: Euler Junior/EM/D.A Press. Brasil)
O drama de quem circula na BR-040

A professora de inglês Kênia Souza, de 47 anos, mora em Moeda, na Região Central, e usa a BR-040 três vezes por semana para dar aulas em Belo Horizonte. Ela já perdeu as contas das vezes em que ficou parada por problemas na estrada. “Não tem pista marginal e não tem área de escape. Já cheguei a ficar seis horas parada por conta de acidente”, diz ela. Mesma situação já viveu o gerente comercial Ronaldo Eustáquio Pereira, de 47, que circula diariamente na Fernão Dias. “Não fica um dia sem um transtorno. É muito carro e alta velocidade. Qualquer batidinha trava tudo”, diz ele. Os dois usuários de rodovias federais na Grande BH dão exemplos de problemas que transformam a rotina dos condutores em um tormento. O que mais aparece nas reclamações são falta de segurança, alta velocidade, problemas de estrutura e demora no atendimento de ocorrências.

O caminhoneiro Wilson Alfredo de Andrade, de 54, aponta como vilãs da BR-040 as pontes estreitas em Congonhas, Região Central. “O trânsito vem em duas faixas e afunila para uma nesses locais. Foi em uma ponte que estourei uma roda em um buraco”, conta o motorista, que teve prejuízo de R$ 1,3 mil. O gerente comercial Guilherme Sathler, de 42, conta que há pouco tempo gastou dois dias entre BH e Ouro Branco, na Região Central, a apenas 116 quilômetros da capital. “Saímos e ficamos seis horas parados por conta de um acidente. Resolvemos voltar e no outro dia retornamos bem cedo, encontrando outro acidente. No fim, saímos às 10h de um dia e chegamos às 14h de outro ao nosso destino”, diz ele.

Em setembro, uma carreta carregada de combustível tombou na altura do Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, e o trânsito na BR-040 foi fechado no sentido Rio de Janeiro por 10 horas. Por causa do risco de dano ambiental e de explosão, foi pedida a presença de técnicos e a carreta só foi removida após a garantia de limpeza da pista.

RESPONSABIBILIDADES

 

Segundo o inspetor Dênis Botelho, chefe da Delegacia Metropolitana da Polícia Rodoviária Federal (PRF), os motoristas têm que ficar atentos a condutas importantes para desobstruir as estradas depois que ocorrem acidentes. “Em caso de batida sem feridos, a obrigação da retirada dos carros é dos condutores, sem precisar esperar por autorização da PRF, sob pena de multa se não o fizerem”, diz ele. Mesmo com pessoas feridas ou mortas, essa obrigação também é do motorista, ainda segundo o inspetor. Porém, nesses casos, a polícia usa o bom senso e não aplica multas, pois o responsável direto pode não estar em condições de agir. Para evitar transtorno, a própria PRF pode chamar um reboque particular para remover os veículos.

“Temos duas situações diferente em Minas. Na Fernão Dias, a concessionária tem estrutura e faz as remoções quando autorizada pela polícia. Nas demais rodovias, ou o condutor chama um reboque ou a PRF faz contato com alguma empresa, o que demora mais. Quem desobedecer às ordens dos agentes para remover veículos também pode ser multado”, diz o inspetor. A PRF está elaborando um edital e termo de referência para contratação de uma empresa especializada em remoção e guarda de veículos. A expectativa é de que o edital, que valerá para todo o país, seja publicado em dois meses. Hoje , a corporação não conta com serviço de guinchos.

Palavra de especialista


Paulo Rogério Monteiro - mestre em engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro (IME)

Estamos batendo cabeça

Atualmente não temos estrutura institucional que dê conta de gerenciar as situações de emergência na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Sempre esbarramos na falta de contingente das autoridades e por isso a criação de um plano integrado para atendimento das emergências é importante para dar uma resposta mais rápida, por exemplo, em caso de acidentes. Quando não há um modelo de cooperação, cada um faz sua parte sozinho e isso contribui para o impacto ser maior nas rodovias. Uma sugestão importante é buscar parcerias, por exemplo, com o sindicato das seguradoras de veículos. Dessa forma, seria possível ter muito mais agilidade na hora da necessidade de um guincho. Pontos de apoio poderiam ser criados, facilitando o registro de ocorrências e a liberação das pistas mais rápido. Enquanto um diagnóstico não for feito, continuaremos batendo cabeça.


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