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Estado de Minas

Mulher assume a chefia do combate ao crime em BH

Primeira oficial a assumir o Comando de Policiamento da Capital, coronel Cláudia Romualdo substitui colega que, segundo fontes da PM, teria saído para a reserva por conflitos internos


postado em 26/02/2013 06:00 / atualizado em 26/02/2013 10:20

Cláudia Romualdo, de 44 anos, solteira, comandava a 3ª Região Militar, em Vespasiano(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Cláudia Romualdo, de 44 anos, solteira, comandava a 3ª Região Militar, em Vespasiano (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Pela primeira vez nos 236 anos da Polícia Militar de Minas Gerais, uma mulher assume o Comando de Policiamento da Capital (CPC), um dos cargos mais cobiçados da corporação. A coronel Cláudia Araújo Romualdo, de 44 anos, que comandava a 3ª Região Militar, em Vespasiano, na Grande BH, substitui o coronel Rogério Andrade, que ficou apenas um ano e um mês no cargo e se afastou para a reserva em circunstância ainda não totalmente esclarecidas.


O oficial não compareceu ontem à tarde à solenidade de passagem de comando, na sede da 1ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), na Praça Rio Branco, no Centro de BH, e há informações de conflitos internos entre o ex-comandante e a coronel Cláudia. Ele disse que estava em viagem e que pediu transferência à reserva para se dedicar mais à família, depois de 30 anos na PM.

A coronel Cláudia afirmou ter recebido o convite do comandante-geral da PM, coronel Márcio Martins Sant’Ana. Sobre o motivo da saída do coronel Rogério, ela se limitou a dizer que se sentiria desconfortável para comentar uma decisão de foro íntimo, mesmo se soubesse os reais motivos que levaram o colega a pedir transferência para a reserva.

Fontes da PM, que pediram anonimato, contam que a coronel Cláudia substituiu por algum tempo o coronel Antônio de Carvalho no Comando de Policiamento Especializado (CPE) e que teria sido negado a ela um pedido de apoio ao CPC, motivo da desentendimento entre os três coronéis. Outra versão seria o descontentamento do comando geral com o desempenho do coronel Rogério no combate à criminalidade, o que foi negado por Márcio Sant’Ana. “O comando da 1ª Região é de muito prestígio, mas extremamente desgastante. O coronel Rogério achou por bem pedir a a transferência para a reserva e já tinha tempo de serviço para isso. Temos de respeitar a sua decisão”, disse o oficial.

Experiência

Para o comandante-geral, a coronel Cláudia tem experiência para assumir a função. “Acredito muito na capacidade inovadora, no voluntarismo e na disponibilidade que têm pautada a carreira da coronel Cláudia. A chegada dela traz uma nova perspectiva à 1ª Região no que diz respeito ao estilo de comando e às características pessoais”, disse o coronel Márcio Sant’Ana. Segundo ele, a doutrina de emprego e as diretrizes de atuação já estão estabelecidas e o que muda é como fazer isso funcionar. “A coronel Cláudia tem uma experiência muito grande no comando da 3ª Região, que apresenta características de capital e cidades do interior ao mesmo tempo. É uma oficial extremamente inteligente, bacharel em direito e a primeira colocada nos cursos da Polícia Militar. Sobretudo, muito voluntariosa e está sempre junto à tropa na condução dos seus trabalhos”, disse o comandante-geral, que elogiou o coronel Rogério: “É um profissional dedicado, de conduta ilibada, de uma moral irrepreensível.”.

A coronel Cláudia completa 45 anos na quinta-feira, tem 1m62 de altura, pesa 65 quilos e tem fama de ser linha de frente. Ela vai exercer uma função que historicamente é dos homens, mas disse que na 3ª Região eles se acostumaram com a sua presença. “Não penso que a diferença seja do gênero. Talvez o fato  de ser mulher, a presença do batom, de uma maquiagem, talvez a fala revestida da sensibilidade que é própria da mulher, mas, em regras gerais, na Polícia Militar o nosso comando tem um extremo cuidado no preparo dos profissionais. E essa diferença de gênero absolutamente não interfere na nossa formação e no nosso treinamento”, disse Cláudia.
 
Desafios

Para ela, comandar uma região da PM já uma função revestida de extremos desafios, mas comandar o CPC é um desafio ainda maior, porque ela se torna responsável por cuidar dos destinos da segurança da capital de Minas. O fato de ter sido designada a primeira mulher para ocupar esse cargo na história da PM vai gerar uma expectativa muito grande nas pessoas, que vão aguardar novos rumos, segundo ela. “As mudanças na Polícia Militar fazem parte da nossa cultura. É como se fosse uma corrida de revezamento, em que a gente recebe o bastão em determinado ponto da corrida e dá continuidade ao trabalho que está sendo feito”, disse Cláudia, admitindo que vai precisar de tempo para conhecer os problemas de segurança de cada bairro de BH para tentar solucioná-los.

“A Polícia Militar trabalha com a referência dos números. Às vezes, nos deparamos com regiões onde as estatísticas de criminalidade não nos apontam um problema assim tão grave, mas a sensação das pessoas é diferente. Precisamos conversar ainda mais para saber o que está causando essa sensação de insegurança nas pessoas”, disse a nova comandante do CPC, que pretende conversar com cada comandante de unidade para saber os problemas enfrentados e para adotar medidas.

O coronel Rogério Andrade divulgou uma mensagem de despedida, dizendo que vai para a reserva com a certeza do dever cumprido perante a sociedade mineira. Ele disse que foram grandes as suas conquistas e fez um extenso balanço das suas atividades nos 30 anos de atividade, principalmente à frente do CPC.

Longe de gabinetes


A coronel Cláudia Romualdo é considerada uma oficial  de linha de frente, na gíria policial chamada de “operacional”. No comando da 3ª Região, responsável pelo policiamento de 22 cidades da Grande BH, a coronel esteve à frente de operações consideradas importantes pelo comando da PM. Em setembro, coordenou a equipe que apreendeu cerca de 150 quilos de pasta base de cocaína em Lagoa Santa. Na madrugada de 19 de dezembro, quando cerca de 100 detentos fizeram agentes penitenciários reféns em Pedro Leopoldo, participou da negociação para controlar motim e libertar reféns.

Formada em direito pela UFMG, Cláudia Romualdo é solteira, nasceu em BH e é filha de um coronel e uma professora aposentada. Está na PM há 27 anos e fez parte da terceira turma de mulheres na corporação. Atuou na área operacional do 13º Batalhão da capital, do 23º Batalhão de Divinópolis e no Batalhão de Missões Especiais, hoje Batalhão Rotam. Também trabalhou na área administrativa do Estado-Maior da PM, na Diretoria de Finanças, no Centro de Aperfeiçoamento de Praças, na Ouvidoria da PM e no Centro de Administração Pessoal, em Contagem. Em 2009, foi designada para comandar o 36º BPM de Vespasiano. Em setembro de 2011, foi promovida a coronel e passou a comandar a 3ª Região da PM com sede em Vespasiano.
 


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