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Estado de Minas

Extermínio de cães envenena cidade de Bicas

Cidade na Zona da Mata mineira está intrigada com a morte de cachorros nas ruas


postado em 21/03/2013 06:00 / atualizado em 21/03/2013 07:09

No município da Zona da Mata, cão tenta despertar cadela: 80 casos desde janeiro(foto: Ricardo Rossi/Esp. para o EM)
No município da Zona da Mata, cão tenta despertar cadela: 80 casos desde janeiro (foto: Ricardo Rossi/Esp. para o EM)


Não é a primeira vez que animais de rua e domésticos são envenenados no município de Bicas, a 40 quilômetros de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. No início dos anos 2000, cerca de 50 cães foram mortos em circunstâncias semelhantes. O responsável não foi identificado. Agora o criminoso – ainda não se pode dizer se é o mesmo – está à solta e deixa a população em alerta.

Desde janeiro foram registrados mais de 80 casos de cães mortos, supostamente por envenenamento, depois da ingestão de substância vermelha, líquida, aplicada em pão doce e carne. Ativistas da região acreditam que o número pode dobrar, já que para grande parte não houve boletim de ocorrência.

Na esquina de Rua 15 com a Santa Cecília, no Centro, o corpo da cadela marrom atrai o jovem cão alvinegro, que parece não se conformar com a morte da companheira. Ele gira de um lado para o outro, inquieto. Faz uso da pata e do focinho para tentar, em vão, despertar a cadela, de olhos abertos. Outros cães, do outro lado da esquina, assistem à cena com “notável expressão de tristeza”.

Quem relata a cena da manhã de domingo, emocionado, é Ricardo Rossi, de 46. Ele registrou a ação dos vira-latas. Sensibilizado, abraçou a causa e está empenhado em colaborar para o fim da “atrocidade”. “É um caso de saúde pública da maior gravidade. Além do crime contra os animais, esses alimentos envenenados estão colocando em risco a vida das crianças”, ressalta.

O empresário e fotógrafo conta a morte de Belinha, do sobrinho Igor, de 10 anos. “O pão com veneno estava pela metade na varanda. Ela comeu, entrou em casa, deitou ao colo do meu sobrinho, desceu do sofá, tonta, e morreu pouco depois.” Ricardo cita relatos variados de garotos que perderam seus animais nas últimas semanas. A ação do veneno é rápida: 20 minutos, segundo testemunhas.

Há registros de 18 envenenamentos num único dia. Para Ademir Ferreira Ribeiro, de 39, o criminoso “não tem coração”. “Estamos muito chocados com o que vem acontecendo. Não fazíamos ideia de que o absurdo tinha ganhado essa proporção”, lamenta. O farmacista, morador da Região Central, é dono de um pequeno vira-lata, Marlo, retirado das ruas.

A presidente e fundadora da Sociedade Protetora dos Animais de Bicas, Eliane Cristina Schettino, de 49, reclama a falta de envolvimento da população para ajudar a identificar o criminoso. “Marcamos uma reunião de emergência na manhã de hoje (ontem). Esperávamos participação em massa e fomos apenas três os presentes.” Para ela, a gravidade da situação é tamanha que as autoridades não sabem o que fazer.

Há ainda outro fator que pesa, segundo Eliane. Muitos cães de municípios vizinhos estão sendo abandonados na entrada de Bicas. “Como sabem que temos uma sociedade protetora atuante, muita gente tem largado animais na entrada de nossa cidade.” Já são mais de 2,5 mil animais cadastrados pela empresária e seu grupo de voluntários desde 1998.

Entre as histórias que mais tocam os ambientalistas locais está o caso do cão Fred. Próximo às eleições, no ano passado, o vira-lata mobilizou parte da sociedade biquense. Com grave problema de saúde – um verme de mais de meio metro nos rins –, Fred, que ela descreveu “em gritos de dor”, foi recolhido para atendimento de urgência.

“Não conseguimos encontrar o veterinário. Corremos para a clínica de Juiz de Fora e ele foi salvo depois de cirurgia bem complicada para retirada de um rim”, relata. Foram gastos cerca de R$ 1,5 mil com despesas médicas pela vida do cão. Com tristeza, Eliane aponta Fred entre os envenenados deste ano.

Vigilância

A secretária de Meio Ambiente de Bicas, Marina Lobo, de 37, contabiliza ainda a morte de dois urubus que se alimentaram da carcaça de um cão morto jogado num aterro próximo ao Parque de Exposições. A gestora ambiental revela que os funcionários da prefeitura – especialmente, os responsáveis pela varrição, que começa às 5h – estão atentos à ação do criminoso.

“É um caso de polícia e estamos acompanhando e aguardando o resultado das investigações”, diz. Entre as medidas tomadas pelas autoridades locais, uma vereadora chegou a colocar um carro de som nas ruas alertando a população sobre a ação criminosa contra os animais e os riscos de envenenamento.
 

 

Criminoso na mira

A polícia de Bicas, ainda que com problemas estruturais e falta de pessoal, vem investigando as mortes. O delegado Sérgio Luís Lamas Moreira, de 37, trata o caso com cautela e não confirma o número “tão elevado” de ocorrências provocadas por veneno. “Não pode ser descartada a possibilidade de surto de cinomose, com sintomas bem parecidos com os de envenenamento. A preocupação inicial é a identificação do ato criminoso”, explica. No caso de crime, o policial espera poder contar com a ajuda dos biquenses. “Fazemos um apelo para a população. Caso o número de cães envenenados seja tão alto, certamente alguém sabe de algo e vai poder nos ajudar”, espera. Imagens de câmeras estão sendo analisadas. O número para denúncias é 181 ou (32) 3271-1437.

 


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