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Estado de Minas A VELHA FEIÇÃO DA PRAÇA CENTRAL

Local onde cabeça de Tiradentes foi exposta é uma incógnita


postado em 21/04/2013 06:00 / atualizado em 21/04/2013 07:30

Quem vê hoje a Praça Tiradentes pulsando no coração barroco de Ouro Preto nem imagina o seu formato nos tempos da Conjuração Mineira. O diretor do Museu da Inconfidência, Rui Mourão, revela que o espaço, antes conhecido como Praça da Cadeia, era metade do que existe hoje, portanto, o monumento inaugurado em 21 de abril de 1892, centenário da execução de Tiradentes, não seria o ponto certo onde ficara pendurada, numa gaiola, a cabeça do mártir. Mesmo assim, há placa afixada no granito: “Aqui em poste de ignomínia esteve exposta sua cabeça”.

Mourão esclarece que as ruas Cláudio Manoel (antiga Ouvidor) e Conde de Babadela (Direita) não estavam abertas. Dessa forma, a praça parava ali. É possível que a estaca tenha ficado uns 20 metros acima do monumento contemporâneo, em direção ao Palácio dos Governadores, uma construção bem menor do que a atual. Havia ainda o pelourinho, a Igreja de Santa Quitéria e a Santa Casa, ambas demolidas, além de moradias, destacamento da polícia e a cadeia. “A Câmara tinha apenas o lado esquerdo pronto, sendo edificada pelo governador da Capitania de Minas (de 1783 a 1788), Luís da Cunha Menezes”, diz Mourão. Um desenho que teria sido elaborado em 1780, nove anos antes da Inconfidência, contido no livro Imagens de vilas e cidades do Brasil Colonial, de Nestor Goulart Reis, mostra o aspecto da praça nos primórdios.

 O certo mesmo é que, caminhando por Ouro Preto, alguém sempre aponta um lugar onde estaria a cabeça do líder da conjuração. Afinal, muitos livros registram o episódio, alguns à luz do espiritismo, e gerações não se cansam de discutir o assunto. “É uma história recheada de mistérios, é melhor deixar como está”, pondera a escritora Angela Leite Xavier, autora da obra Tesouros, fantasmas e lendas de Ouro Preto. Mas, refletindo um pouco mais, Angela acredita que, se o crânio fosse encontrado, Tiradentes ganharia finalmente um rosto, como ocorreu com o conjurado José Resende Costa, que viveu na Região do Campos das Vertentes e morreu, aos 70 anos, em 1798, no degredo, na Guiné-Bissau, na África. Há dois anos, foi divulgada a reconstituição facial do herói. Para isso, desde 1993 a equipe do professor Eduardo Daruge, da Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), esteve envolvida com pesquisas e minucioso trabalho sobre os restos mortais.

No livro de Angela, um capítulo contempla o caso que intriga moradores e visitantes. Com ilustração do artista plástico e restaurador José Efigênio Pinto Coelho (três encapuzados sob a estaca com a cabeça), o texto conta que um homem comprou uma casa nas Lajes, “guiado por suspeitas de que a cabeça do herói estaria enterrada ali”. Vasculhou cômodos, o quintal, até achar uma estrutura de pedra identificada como altar maçônico, devido aos desenhos. “As buscas continuaram, mas, de concreto mesmo, só foram localizados cachimbos de barro de escravos, moedas antigas e objetos de ferro.”

Inspiradas pela busca que nunca chegou ao fim, histórias ligadas à cabeça de Tiradentes se multiplicaram. Uma lenda antiga ainda pode ser ouvida na cidade. Depois da morte do herói, um frade andava à noite segurando a cabeça no Morro da Forca, com escadaria de 100 degraus, e na Cruz das Almas, onde há uma capelinha dedicada a São Miguel e Almas, atualmente com movimento intenso de veículos. Chafarizes também viraram alvo das especulações. “A vida de Tiradentes é muito romanceada. Falam até que a cabeça teria sido enterrada com o ouro dos inconfidentes”, lembra a turismóloga Angélica Gonçalves, que trabalha em um hotel. Ela já ouviu que um dos pontos onde o crânio poderia ter sido sepultado seria o chafariz do Bairro Taquaral, de 1866. Pena que o lugar esteja malcuidado, sujo, com muito mato e cacos de vidro. Apenas um filete escorre na pedra, sendo impossível provar da água.

Já nas Lajes, há outro chafariz, com jorro intenso, apontado também como forte candidato a ser o lugar secreto, pois remonta à época da Inconfidência. Alguns donos de imóveis coloniais citados como candidatos em potencial a “guardar” a cabeça nem gostam de tocar no assunto. E até se irritam. “Eles têm medo de que façam escavações no terreno e destruam a propriedade”, diz um morador de Ouro Preto.


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