Por enquanto, o coração de Maria da Conceição da Silva, de 41 anos, é do Mercado Central. E o coração do mercado é de Maria da Conceição. É o que garantem a ex-faxineira que se comunica em sete idiomas, conforme o Estado de Minas revelou há exatamente uma semana, e o superintendente do centro de compras, Luiz Carlos Braga. Uma cumplicidade profissional, que envolve gratidão e reconhecimento.
Gratidão da pernambucana de mãos ásperas, resultado de trabalho pesado no Nordeste e na Europa. O reconhecimento vem do administrador do mercado, que, após descobrir os dons da ex-faxineira, apostou nela como recepcionista no balcão de informações turísticas e não se arrependeu. Pelo contrário, os resultados até o surpreendem. “A diferença que ela faz está nos corredores e no guichê, pois não para de vir gente só para conhecê-la.
Quando tirou Conceição da faxina e a levou para o serviço de informações turísticas, Luiz Carlos elevou o salário de Conceição de R$ 800 para cerca de R$ 1,5 mil. E, antes mesmo de a reportagem ser publicada, revelou-se preocupado com a possibilidade de perdê-la, por causa das portas abertas no mercado, com a proximidade das copas das Confederações e do Mundo, para profissionais que dominam no mínimo dois idiomas. “Se surgir proposta que possa convencê-la a nos deixar, ela está livre para aceitá-la.”
Como a opção é ficar no mercado, ela está matriculada em curso da Belotur para conhecer a cidade. “O turista que vem aqui quer saber onde fica tal hotel, rodoviária, terminal de aeroporto, restaurantes. Assim, estamos capacitando a Conceição para prestar um serviço melhor”, diz Luiz Carlos. Ela não tem nem tempo de responder. O assédio é grande e há um grupo de estudantes à espera para fotos e entrevistas com a celebridade do mercado.
Wesley Brenner, de 17, Raphael Bacelete, de 17, Vítor Júnior, de 16, e Lorraine Stafeni, de 17, alunos do 3º ano do ensino médio do Colégio Ordem e Progresso, estão aflitos para entrevistá-la e fotografá-la. “É para um trabalho escolar e, depois, vamos jogar no Facebook”, diz Wesley.
Lorraine conta que leu a história de Conceição sexta-feira passada no EM e no Portal Uai. “A gente não conhecia o mercado e andamos, andamos até achá-la.” Vale a pena, garotada? “Valeu. A Conceição é nota 10”, dizem, em coro.
Quem está rindo à toa com o assédio a Conceição é Noé José da Silva, de 63. Ele é o dono da Queijaria Noé, bem em frente ao guichê de informações turísticas. “Minhas vendas aumentaram muito.” Por falar em informações turísticas, o Mercado Central, para ficar de acordo com sua guia poliglota, inaugura 140 placas em português, inglês e espanhol para orientar o cliente nos corredores. “Estamos saindo na frente na adequação para atendimento ao estrangeiro nas copas”, afirma Luiz Carlos.