Ao chegar no terminal rodoviário da Estação José Cândido da Silveira, no Bairro Santa Inês, Região Leste da capital, e perceber que havia sido furtado, Mcdermott tentou relatar o ocorrido, mas, além dos representantes da empresa, os guardas municipais e funcionários do terminal também não entendiam o que falava. A suspeita é de que o turista tenha sido dopado em uma parada em Vitória da Conquista (BA) por um passageiro do ônibus. No terminal rodoviário em BH, ele foi atendido por uma enfermeira e ficou aguardando a chegada da Polícia Militar. Ele não desistiu de continuar a viagem pelo Brasil, que é o 13º país por onde passa em quase dois anos e meio na estrada. Segundo ele, essa é a primeira vez em que passa por uma situação como essa em todo o percurso.
O auxílio a Mcdermott veio de um sargento e de um soldado da 23ª Companhia do 16º Batalhão da PM que atenderam a ocorrência e conversaram com a vítima em inglês, mas segundo o turista, ele teve de aguardar cerca de meia hora até que conseguisse se comunicar com os militares. “Quando a polícia chegou, eles me colocaram dentro de uma viatura e nesse tempo ficava ouvindo as pessoas conversando e não entendia nada. Fiquei assustado e com medo de ter algum problema com o meu visto. Cheguei a achar que eles iam me prender.”, contou.
COPO DE SUCO Segundo a PM, na conversa com os militares, o turista contou que está passando férias no Brasil e que na tarde de domingo embarcou num ônibus na rodoviária de Salvador com destino a BH. Depois de mais de seis horas de viagem e cerca de 500 quilômetros de estrada, o contador inglês desembarcou em Vitória da Conquista para fazer um lanche.
A vítima contou ao militar que um homem moreno de cabelos grisalhos e cerca de 40 anos, que seguiu com ele no ônibus, lhe ofereceu um copo de suco de laranja e pouco tempo depois de tomar a bebida ele sentiu sono. Já em BH, Mcdermott foi acordado pelos funcionários da empresa e, ainda grogue, percebeu que haviam mexido em sua mochila e que levaram cerca de R$ 800 (US$ 90 dólares e 160 euros). Assustado, tentou pedir ajuda, mas não encontrou ninguém que falava a língua dele.
INVESTIGAÇÃO Depois de registrar o boletim de ocorrência, Thomas Mcdermott foi levado para um hotel no Bairro São Pedro, na Região Centro-Sul de BH, onde estava com hospedagem reservada. O turista inglês está no Brasil há três semanas e seguirá viagem para Ouro Preto, onde é aguardado por amigos.
O furto dos pertences do viajante será investigado pela Polícia Civil. No boletim de ocorrência, consta que o furto ocorreu em Governador Valadares, e não em Vitória da Conquista, como conta o inglês. Imagens da câmera de segurança do ponto de parada em Governador Valadares serão analisadas, assim com a lista das pessoas que viajaram no mesmo ônibus.
ENTREVISTA: THOMAS MCDERMOTT, CONTADOR E TURISTA INGLÊS
‘Vejo a Copa como um risco’
Depois de uma viagem a vários países, o contador Thomas Mcdermott disse ter consciência de que assalto não é uma exclusividade do Brasil e que poderia ter ocorrido em qualquer lugar do mundo. Ele garantiu que será mais cuidadoso.
Depois do assalto, você acha o Brasil um país perigoso?
Nunca passei por isso na Inglaterra, mas acho que poderia ter sido em qualquer outro local. Já estou há mais de dois anos na estrada e já passei pela Índia, Laos, Camboja, Malásia, Bali, Tailândia, Nova Zelândia, Austrália, Estados Unidos e Venezuela. Foi aqui que tudo aconteceu, mas não acho que seja porque é um país violento. Não senti que estava em um lugar perigoso quando cheguei aqui, mas depois disso acho que tenho que ser mais cuidadoso. Isso serve principalmente para viagens de ônibus, onde estamos mais vulneráveis.
O que motivou a sua viagem?
Moro em Londres e minha família é de Manchester. Trabalhava como contador, mas sempre pensei que antes de sair da casa dos 20 anos precisava fazer muitas coisas. Queria conhecer lugares em que nunca havia estado antes e acabei caindo na estrada. Em dezembro completarei 30 anos e acho que é hora de voltar para casa, trabalhar, casar e ter fílhos. Já fui a lugares que nunca imaginava.
O roubo atrapalha seu objetivo?
Contava com esse dinheiro e talvez vou ter de partir um pouco antes do previsto, mas não vou desistir por causa disso. O que mais me chateia são as fotos que perdi. Não queria as câmeras, elas eram simples, queria o chip com todas as imagens da viagem. Eles levaram todo meu dinheiro, não deixaram nem um troco para o táxi. Cheguei a BH com R$ 0,60 no bolso.
Você acha que o Brasil está preparado para a Copa do Mundo?
Vejo a Copa no Brasil como um risco, mas acredito que eventualmente vai ficar tudo bem. A Fifa vai fiscalizar as obras e se certificar de que os estádios estão preparados para o evento. A última competição também teve problemas, acho que é normal. Eles falavam que tudo estava sendo feito às pressas e rápido demais e isso gerou algum descontentamento, assim como acho que vai acontecer no Brasil e os jogos ocorrerão normalmente.
ESTRANGEIRO ESCAPA DE ASSALTO
O jornalista inglês Adrian Durham, do periódico Daily Mail, que domingo cobriu no Rio de Janeiro o amistoso entre Brasil e Inglaterra, escapou de assalto em Copacabana. Ele aproveitou para questionar a segurança na Copa das Confederações e na Copa do Mundo. Durham relatou que voltava para o hotel, com a namorada, quando um homem segurou seu ombro. “Ele ergueu a voz e me mostrou uma lâmina na mão. Ele estava agressivo, agarrou minha camisa e andou muito próximo ao meu lado. Ele exigiu dinheiro e colocou a faca no meu braço. Eu podia sentir a ponta da lâmina” descreveu. A tentativa de assalto levou o jornalisa a fazer um alerta aos turistas que pretendem viajar ao Brasil para as competições internacionais. “O incidente vai aumentar as preocupações sobre a segurança de torcedores que estiverem viajando na Copa do Mundo”, disse.