Uma hora e meia perdida, todos os dias, na espera pelo ônibus e no deslocamento de casa até o trabalho. Nessa demorada ida e volta segue a vida da atendente de telemarketing Patrícia Pereira, de 34 anos, moradora do Bairro Nova Gameleira, na Região Oeste da capital, e funcionária de uma empresa no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul. Para evitar surpresas pelo caminho, ela procura sair de casa bem cedo. “O trânsito é o pior problema da cidade. Para atender a população, é preciso melhorar muito”, diz Patrícia, lembrando que a sua casa não é tão distante do emprego. Os gargalos são frequentes na capital e municípios vizinhos, tanto que a pesquisa Índice de Bem-Estar Urbano (Ibeu) do país, divulgada ontem pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Observatório das Metrópoles, aponta a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) como abaixo da média no quesito mobilidade, no qual foi classificada como ruim ou péssima, na frente do Rio de Janeiro e São Paulo.
Salata explica que outros trabalhos, como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), foca sempre no indivíduo e não nas regiões metropolitanas. “Há quatro anos, nós começamos a trabalhar com os dados do PNAD e, com a melhoria do IDH e de renda, decidimos conhecer melhor o meio urbano e o bem estar. Um dos resultados é que a mobilidade apresenta os piores índices e em Belo Horizonte não é diferente. A capital mineira está acima da média nos cinco quesitos, mas está mal em mobilidade”, diz o pesquisador, que é doutorando em sociologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A pesquisa deverá ser feita de dez em 10 anos, de acordo com o Censo. “O Ibeu está disponível para todos os gestores e estamos dispostos ao diálogo. Com certeza, as informações serão importantes para as políticas públicas. Junto à mobilidade, os pesquisadores analisam indicadores relativos a condições habitacionais, serviços coletivos, condições ambientais e infraestrutura.
Se fosse dar uma nota de 0 a 10 para o bem estar urbano em BH, o engenheiro mecânico Eduardo Moreira, de 78, daria 7. Por ser aposentado, ele se livra dos engarrafamentos na horas de pico. “Procuro sair de casa em horários mais tranquilos, mas o trânsito está difícil”, avalia Eduardo. Outra questão séria na sua avaliação é a segurança pública. “Tudo precisa melhorar, mas esse quesito é fundamental”, afirma. Moradora do Bairro Serra, na Região Centro-Sul, Izabel Cristina Alexandre, de 33, também gasta muito tempo entre a espera e a chegada do transporte coletivo. Ela conta que já morou em Montes Claros, no Norte de Minas, e está certa de que a vida fora da metrópole está melhor. “Montes Claros já é uma cidade grande, mas, pelo menos, lá é mais fácil para a gente resolver os problemas do dia a dia”, diz Izabel Cristina.
Deslocamentos
Campinas (SP) obteve o melhor Ibeu, com pontuação de 0,873, seguida de Florianópolis (SC), com 0,754, e Curitiba (PR), 0,721. Na sétima posição, Belo Horizonte tem 0,658 ponto. De acordo com a pesquisa, a RMBH tem 13,2% de seus 34 municípios na faixa considerada ruim ou péssima, quarta maior proporção, inferior somente ao Distrito Federal e entorno, São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ).
Municípios bem no ranking
Ao se olhar o mapa da Região Metropolitana de Belo Horizonte, vê-se que Itaguara, distante 90 quilômetros da capital, é o último município às margens da rodovia Fernão Dias no sentido São Paulo. Agora, ele está, de acordo com o Ibeu, em 17º lugar entre as 289 cidades das regiões metropolitanas do país. “Hoje, 90% da população vive na zona urbana, situação bem diferente de 40 anos atrás, quando 30% na cidade e 70% na área rural”, diz o secretário municipal de Administração e Planejamento, que ficou surpreso – e satisfeito com a posição de Itaguara na pesquisa.
Já Florestal, com 7,5 mil habitantes, fica na divisa com a Região Centro-Oeste, a 70 quilômetros da capital. Conforme a investigação do Ibeu, o município ocupa o 26º lugar e contaram ponto as condições ambientais (arborização, não ter esgoto a céu aberto e outros), enquanto a falta de infraestrutura culminou com nota baixa (0,5). “A nossa economia tem como esteio a agropecuária”, disse o secretário de Administração e Planejamento, Daniel Cerqueira Melo.