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Estado de Minas

Profissionais com registro no país são bem recebidos por pacientes

Eles esperam com resistência chegada de 27 cubanos para atuar em 23 cidades


postado em 04/09/2013 06:00 / atualizado em 04/09/2013 06:45

Daniele do Amaral Silva atende a paciente Vera Lúcia dos Santos, no primeiro dia de trabalho no centro de saúde do Distrito de Areias, em Ribeirão das Neves, na Grande BH(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)
Daniele do Amaral Silva atende a paciente Vera Lúcia dos Santos, no primeiro dia de trabalho no centro de saúde do Distrito de Areias, em Ribeirão das Neves, na Grande BH (foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)

O Ministério da Saúde anunciou ontem que 27 cubanos vão trabalhar nos 23 municípios mineiros que não foram escolhidos por nenhum dos inscritos na primeira rodada do programa Mais Médicos. A reportagem do Estado de Minas esteve em Jaboticatubas, na Grande BH, e constatou que os três cubanos designados para o município terão de lidar com a desconfiança de colegas e pacientes. Já nas unidades de saúde onde começaram a atuar bolsistas com registro profissional brasileiro, como em Ribeirão das Neves, na Grande BH, o sentimento dos moradores é de alívio.


Na segunda quinzena deste mês, 400 cubanos começarão a trabalhar em 206 municípios e 13 distritos de saúde indígena de 18 estados. As regiões Norte e Nordeste, que o governo havia anunciado como prioritárias, receberão 91% dos caribenhos. Minas é o sétimo estado com mais contratados, atrás de Pará (56), Bahia (45), Amazonas (42), Pernambuco (34), Maranhão (29) e Ceará (28). Jaboticatubas é a cidade mineira que terá mais profissionais: três. No Norte do estado, Icaraí de Minas e São João das Missões receberão dois cada um. Outros municípios terão um médico.

A médica Mariângela Baeta Silva trabalha em duas unidades de saúde de Jaboticatubas, onde atende pequenas urgências e atua na área de atenção básica, inclusive prestando suporte a equipes de saúde da família. Assim como o Conselho Regional de Medicina de Minas (CRM-MG), Mariângela defende que os participantes do Mais Médicos formados no exterior, inclusive os cubanos, revalidem o diploma e sejam obrigados a ter certificado de proficiência em língua portuguesa, dispensados pelo programa federal.

“A revalidação é um processo prolongado, mas é justo para poder exercer a medicina no Brasil. Em outros países, a formação do profissional pode ser muito diferente. Cuba também é um país tropical, mas cada região tem doenças mais características”, avalia. Mariângela diz que ela e os outros médicos da cidade observarão atentamente os cubanos. “Acredito que eles vão ser mais vigiados. Qualquer erro que cometerem será notificado ao CRM, mesmo no caso de lapsos para os quais os colegas só costumam chamar a atenção. A avaliação deve ser mais rigorosa”, diz.

Os pacientes também ficarão desconfiados, acredita Mariângela. “A própria população vai olhar com outros olhos, com insegurança. Se tiver consulta agendada para um cubano, o paciente talvez peça pra marcar com outro médico”, prevê.

A dona de casa Lúcia de Oliveira, que nasceu e sempre morou em Jaboticatubas, confirma: “Em geral, as pessoas vão ficar desconfiadas, pelo menos no começo, até eles mostrarem serviço”. Mas ela aprova a contratação de estrangeiros: “Não tenho resistência a médicos de outro país, desde que sejam preparados. Já que os brasileiros não querem vir para cidades como a nossa, talvez a solução seja chamar profissionais de fora”.

Bolivianos Dois médicos bolivianos trabalham em Jaboticatubas. Um deles é Victor Juan Perez Diaz, de 56 anos,  formado no país natal. Foi na cidade, onde trabalha há 26 anos, que ele obteve o primeiro emprego no Brasil. Hoje faz plantão às terças-feiras e domingos no hospital público Santo Antônio. Em BH, onde mora, atua nos hospitais Risoleta Neves e Alberto Cavalcanti. Victor seria favorável ao Mais Médicos se os estrangeiros revalidassem o diploma e atestassem a proficiência em língua portuguesa. “O Brasil tem de dar um jeito de mandar médicos para onde falta, mas a revalidação é o único meio de saber se o profissional é competente”, alega.

Victor também acredita que os cubanos sejam recebidos com apreensão. “É provável que haja resistência. A maior parte da classe médica não aceita a vinda deles”, constata. A dificuldade com o idioma pode aumentar a desconfiança, inclusive de pacientes. “Nos meus primeiros meses, a comunicação era bem difícil. Os pacientes tinha muita suspeita, não entendiam nem o que eu falava”, recorda. Mas o boliviano acredita que, com o tempo, é possível que os caribenhos se mostrem eficientes. “Em uma semana percebe-se se o médico é bom ou não. Demorou para eu quebrar a apreensão alheia, mas, se você respeita as pessoas e trabalha bem, acaba conquistando os outros”.

Com os outros 244 bolsistas do Mais Médicos com registro profissional estrangeiro, os 400 cubanos estão participando desde a semana passada de curso de acolhimento e avaliação. Até o fim do ano, outros 3,6 mil profissionais da ilha caribenha devem começar a atuar no Brasil, por meio de convênio firmado com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). “O grande esforço do Ministério da Saúde é garantir o cumprimento da demanda total dos municípios prioritários”, afirmou o ministro, Alexandre Padilha.

 


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