Nove agentes dopados e neutralizados enquanto 39 pistolas automáticas .40 e seis submetralhadoras do mesmo calibre eram furtadas de uma espécie de cofre forte protegido por portas e janelas de aço, de onde foram levados ainda cerca de 1,2 mil cartuchos de munição do mesmo armamento, de fuzil 556 e de espingarda calibre 12. Poderia parecer roteiro de cinema, se o desfecho não fosse trágico para a segurança pública em Minas. O roubo ocorreu durante o turno de serviço no Centro Integrado de Escoltas de Ribeirão das Neves, na Grande BH, na noite de domingo. Os servidores da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi), vinculada à Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), aparentemente foram drogados e acabaram dormindo, possibilitando a ação dos ladrões. Procedimento administrativo foi aberto para apurar a conduta dos funcionários, que serão afastados dos cargos a partir de hoje por pelo menos 30 dias, enquanto são investigados pela Corregedoria dos Órgãos de Defesa Social.
A ousadia dos ladrões evidencia também falhas na segurança do imóvel, que abriga as armas usadas para fazer a segurança de presos e também da própria população. O subsecretário de Administração Prisional, Murilo Andrade, admite que o local não é 100% seguro e diz estar procurando nova sede para o serviço, mas acredita que os nove agentes que trabalhavam no momento do roubo eram contingente suficiente para inibir um confronto com criminosos. O governador Antonio Anastasia determinou que as forças de segurança pública tratem como prioridade máxima a prisão dos responsáveis e a recuperação das armas.
Agentes da Divisão Especializada de Operações Especiais da Polícia Civil (Deoesp) foram designados para investigar o caso, sob comando dos delegados Hugo Malhano e Wanderson Gomes, chefe da Deoesp. Fontes ligadas ao inquérito informaram que um dos agentes penitenciários que estavam no local levou frutas de casa para preparar a salada que foi servida a todos, assim como um suco, o que o coloca no rol de suspeitos. Os servidores que estavam de plantão também receberam uma refeição, a mesma que é servida aos funcionários da Dutra Ladeira diariamente. A casa de onde as armas foram roubadas é um imóvel simples, que pode ser visto da LMG-806, estrada que liga o distrito de Justinópolis ao Centro de Ribeirão das Neves e também onde fica a entrada da Dutra Ladeira.
“Dentro da casa há uma sala destinada às armas, fechada com portas e janelas de aço. As pistolas automáticas ficam nessa sala, em uma espécie de guarda-roupas. Já as armas de grosso calibre ficam dentro de um cofre, no mesmo cômodo, que também é de aço”, diz um investigador. Todas as pistolas foram levadas, mas restaram fuzis, nove submetralhadoras e sete espingardas calibre 12. A casa conta também com uma câmera de segurança, mas que não cobre todo o imóvel. As imagens já estão sendo analisadas pela Polícia Civil. Peritos recolheram recipientes onde estava a comida consumida pelos agentes penitenciários e também coletaram papelotes que podem ser de alguma substância química ou medicamento usado para dopar os guardas.
O roteiro do crime
» O plantão no Centro Integrado de Escoltas do Sistema Prisional da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) começou às 19h de domingo e terminaria às 7h de ontem. Entre os presentes à unidade estavam sete agentes responsáveis por escoltas, um armeiro e o coordenador do grupo.
» Às 21h foi servido um suco e uma salada de frutas a todos. Um dos agentes da escolta levou frutas de casa e preparou tudo no local, segundo fontes da investigação. Os funcionários da unidade da Suapi receberam as mesmas marmitas que são entregues aos servidores da Penitenciária Antônio Dutra Ladeira. No presídio não foram registrados problemas.
» Na chegada da equipe que começaria a trabalhar às 7h, alguns agentes do turno anterior foram encontrados dormindo e outros ainda sonolentos, o que levou à suspeita de contaminação dos alimentos com alguma substância química. Nesse momento foi constatado o sumiço das armas. Todos os servidores estão sendo investigados.