Mais rápido de transporte público e demorado de carro. No segundo jogo da Copa do Mundo em Belo Horizonte, o Estado de Minas refez o teste que realizou no sábado e constatou que, em dia de semana, o veículo particular ou táxi enfrentou mais engarrafamentos e gastou mais tempo para chegar ao estádio. No fim de semana, foi uma hora da Savassi ao Mineirão passando pela Avenida Antônio Carlos. Ontem, uma hora e 24 minutos optando pela Avenida Carlos Luz. O BRT/Move economizou 17 minutos na viagem em comparação ao primeiro teste e o Expresso Copa, nove minutos.
Pelo caminho do transporte público, no entanto, turistas encontraram dificuldades, como com o idioma. Estrangeiros (44% do público dos seis jogos na Pampulha) tiveram de se virar, contando com a ajuda de brasileiros, para chegar aos ônibus. Não havia sinalização orientando sobre o Expresso Copa em inglês ou espanhol. Ontem, para fugir do congestionamento na Carlos Luz nos dias de jogos, o trajeto das linhas foi desviado para as avenidas Presidente Tancredo Neves e Fleming. A alteração diminuiu apenas nove minutos na viagem.
Os torcedores que optaram para ir de táxi acompanhar a partida entre Bélgica e Argélia fizeram o percurso entre a Savassi e o estádio em mais de uma hora. O ponto inicial foi a entrada da Escola Estadual Barão do Rio Branco, na Avenida Getúlio Vargas, na Região Centro-Sul da capital. O final, na Avenida Carlos Luz, na entrada para o Bairro Ouro Preto, ponto onde foi montada barreira para carros particulares. O tempo total leva em consideração a caminhada até o ponto de conferência de tickets, pelo qual passam somente quem apresenta o ingresso do jogo. No caminho até o Mineirão, o carro passou por trânsito lento da Avenida Bias Fortes até a Praça Raul Soares. O Viaduto Dona Helena Greco também estava engarrafado.
No Expresso, a reportagem entrou na Rua Tomé de Souza com um cartão do jogo de sábado e não houve fiscalização. Apenas um funcionário da Transfácil – responsável pela bilhetagem eletrônica na capital – observava a tarja rapidamente, em meio a passagem dos torcedores. Dentro dos coletivos, passageiros reclamaram de calor e da falta de ar-condicionado.
O advogado César Soares Magnani, de 40 anos, veio de Marília (interior de São Paulo) acompanhado da esposa Daniela, 38, e os filhos Davi, de 4, e Pietro, 6, para ver assistir ao seu primeiro jogo em uma Copa do Mundo e foi ao estádio de Expresso Copa. Apesar da demora – levou 25 minutos para comprar o cartão de R$ 15 cada –, não reclamou na hora do embarque. “Já conhecia BH e durante a Copa do Mundo estou achando a cidade organizada. Minha prima, que mora aqui, usou esse ônibus na Copa das Confederações e o recomendou”, disse. Assim que o ônibus começou a ficar preso no engarrafamento, César ficou ansioso por causa da demora. Os passageiros questionaram por que o Expresso não usa a faixa exclusiva do Move na Avenida Antônio Carlos.
Novo sistema
O BRT/Move, na viagem de ontem, foi bem avaliado por gringos e brasileiros que elogiaram os funcionários do Posso Ajudar orientarem os usuários em dois idiomas além do português. Ao contrário de sábado, quando o sistema foi muito usado pelos colombianos, nesta terça-feira, poucos eram os estrangeiros que optaram pelo transporte. Um deles foi o belga Olivier Midraux, de 40 anos, e ele aprovou. “Muito rápido. A viagem do centro ao Mineirão não durou 30 minutos”. O servidor público carioca Marcelo Fernandes, de 48, também gostou. “Show de bola. Indico a todos os torcedores.” Na ida, por volta das 11h, passava um ônibus a cada três minutos nas estações Rio de Janeiro (na Avenida Santos Dumont) e Carijós (na Avenida Paraná). Na volta, como a estação fica exclusiva para a linha 50, sai um ônibus atrás do outro. O volume de pessoas é bem maior, mas a viagem é ainda mais rápida: 14 minutos da Antônio Carlos à Santos Dumont.
Nos dias de jogos em BH, o Move tem uma operação especial. Desde ontem, a Linha 50 passou a ser a prioridade. Ela é direta e leva da Estação Mineirão ao Centro. Para usar o serviço, o torcedor precisa, obrigatoriamente, comprar a Pulseira Mineirão, que custa R$ 5,70, mesmo se for usada em apenas um trecho. Ela vale das 8h às 18h nos dias de jogos. O comerciante chileno Marcelo Canala, de 43, descobriu a opção do BRT na estação, quando leu um cartaz em português e inglês explicando o funcionamento do sistema. “Muito tranquilo. Também tem todas as informações necessárias no manual da Fifa”, disse.
O analista de informática Danilo Pereira, de 32, escolheu o Move pelo preço, mas sentiu falta de pontos de táxi próximos para dar continuidade à volta para casa no desembarque no Centro. “É a primeira vez que uso o BRT. Acho que por ser o segundo jogo já deu para melhorar qualquer falha”, acredita.
Sobre o Expresso Copa, a BHTrans informou que irá avaliar a mudança de itinerário e a orientação ao torcedor feita em parceria com o consórcio Transfácil. O órgão admitiu que houve falha na distribuição do Guia de Mobilidade Copa do Mundo e salientou que ele está disponível ao torcedor estrangeiro, em inglês e espanhol, no site www.bhtrans.pbh.gov.br/portal, postos da Belotur e hotéis. O Transfácil reconheceu que houve descuido do fiscal na conferência dos cartões.
Rush fora de hora
Mesmo liberados do trabalho mais cedo para assistir aos jogos da Copa ontem, muitos torcedores se atrasaram para o início das partidas. Com a volta pra casa antecipada, Belo Horizonte viveu um rush fora de hora, com engarrafamento em quase todos os corredores viários sendo registrados até mesmo antes do meio-dia. Uma das situações mais complicadas foi na Avenida Cristiano Machado, onde houve retenção desde o Túnel da Lagoinha até a Linha Verde, no sentido Confins. Quem tinha ingresso para o jogo entre Bélgica e Argélia, no Mineirão, também teve problemas com o trânsito lento na ida para o estádio, na Pampulha.
A antecipação do horário de pico pegou muita gente de surpresa. O bancário Ivonaldo Oliveira, de 50, que trabalha no Centro, disse que imaginava trânsito ruim, mas não como o que enfrentou na volta pra casa, no Bairro Buritis, Região Oeste. “Está tudo travado e a tendência é só piorar daqui pra frente porque na Raja Gabaglia normalmente o trânsito já é congestionado”, disse enquanto tentava avançar em meio a uma enorme fila de carros na Avenida Álvares Cabral, no Bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul. A empresária Joana Castro, de 31, não estava de folga. Saiu de casa para ir ao trabalho, no Bairro Prado, e contou que já estava atrasada por causa do congestionamento. “Não esperava tantos carros na rua no horário do almoço”, contou.
Corredores
Como muitas linhas de ônibus ainda não foram transferidas para o sistema BRT/Move, a nova modalidade de transporte de BH não foi suficiente para aliviar a lentidão, mesmo nos corredores por onde ele passa. Na Antônio Carlos, a pista mista de veículos e pontos de ônibus nestas faixas estavam lotados, enquanto poucos passageiros esperavam o Move nas estações de transferência ao longo do corredor exclusivo. Mesma situação na Cristiano Machado, lenta em toda sua extensão, e na Avenida Pedro I.
Nesta última, foi grande o tempo de espera pelos ônibus que vinham do Centro com direção ao Vetor Norte de BH. “Saí do Bairro de Lourdes, onde trabalho, e evitei pegar o meu ônibus porque ele vem pela Antônio Carlos. Caminhei até o Centro e vim de metrô até a Estação Vilarinho para pegar o ônibus. Mas já estou esperando há bastante tempo”, contou o técnico comercial João Paulo Alves Costa, de 26, que mora em Lagoa Santa e esperava pelo coletivo na Pedro I.
O rush fora de hora atrapalhou ainda quem passava pelo entorno da Praça Raul Soares, no Hipercentro, avenidas Tereza Cristina, sentido Centro, e Pedro II, em direção ao bairro; Complexo da Lagoinha; diversas vias da Região da Savassi, onde milhares de torcedores se concentraram para assistir o jogo em telões; trevo do Bairro Belvedere e Avenida Amazonas, sentido Contagem. (Colaborou Valquiria Lopes)