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Estado de Minas

Pontilhão Marechal Hermes 'testemunha' há quase 92 anos as fases do Velho Chico

Projeto arquitetônico pioneiro, entre Pirapora e Buritizeiro, é a primeira ponte metálica construída no Brasil e acompanha as belezas e mazelas do curso d%u2019água


postado em 27/09/2014 06:00 / atualizado em 27/09/2014 07:17

Imagem da estrutura que mistura ferro, madeira e concreto, construída para travessia de trens, numa época em que ela se espelhava nas águas do caudaloso Rio São Francisco(foto: Soraya Ursine/Instituto Terrazul - 25/07/2006)
Imagem da estrutura que mistura ferro, madeira e concreto, construída para travessia de trens, numa época em que ela se espelhava nas águas do caudaloso Rio São Francisco (foto: Soraya Ursine/Instituto Terrazul - 25/07/2006)

A seca que assolou o berço mineiro do São Francisco deixou o Brasil estarrecido – na Serra da Canastra, coração do Centro-Oeste, o “rio da unidade nacional” virou um deserto de vegetação, quadro de natureza morta e espaço de desolação. Aos trancos e barrancos, os afluentes do Velho Chico reúnem forças para chegar ao Oceano Atlântico, antes banhando cidades, vidas e monumentos importantes na história das Gerais e do país. Entre Pirapora e Buritizeiro, na Região Norte do estado, a Ponte Marechal Hermes, que vai completar 92 anos em novembro, testemunha as belezas e mazelas do curso d’água.

Primeira ponte metálica construída no Brasil, a Marechal Hermes se transformou em cartão-postal de Pirapora e Buritizeiro. Ninguém escapa, de câmera fotográfica em punho, de capturar o pôr do sol emoldurado pela estrutura de 694 metros de extensão, apoiada em 13 pilares de concreto, com a superestrutura metálica vinda da Bélgica e cimento dos Estados Unidos. A inauguração em 10 de novembro de 1922 teve pompa e circunstância, com a presença do então presidente da República, Epitácio Pessoa (1865-1942), e outras autoridades federais e estaduais. “Ela faz parte da nossa história e se tornou um monumento característico da região”, diz, com orgulho, o advogado Ivan Passos Bandeira da Mota, coautor dos livros Pirapora – 100 anos de história, com Breno Álvares da Silva, e Pirapora – Um porto na história de Minas, com Breno e Domingos Diniz.

Devido à relevância da arquitetura e fatos marcantes ocorridos no seu entorno, a Ponte Velha foi tombada em 1985 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). De acordo com o Guia de Bens Tombados recém-lançado pelo instituto, a construção do pontilhão sobre o São Francisco estava no “ambicioso projeto de expansão” da Ferrovia Central do Brasil, que pretendia ligar a então capital da República, Rio de Janeiro (RJ), a Belém (PA), no Norte. A ligação do litoral com o interior do Brasil havia sido planejada e sonhada ao longo do tempo.

Montagem da estrutura metálica da ponte Marechal Hermes em 1922(foto: ACERVO ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO)
Montagem da estrutura metálica da ponte Marechal Hermes em 1922 (foto: ACERVO ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO)

Conforme pesquisas, desde o império, mais especificamente em 1855, traçava-se um projeto de integração do território, tendo como eixo principal a Ferrovia Dom Pedro II, que pretendia unir o Norte ao Sul, passando pelo Brasil central. Depois da Proclamação da República (1889), o projeto teve continuidade com a Estrada de Ferro Central do Brasil. Nesse período, as ferrovias representavam a vanguarda no desenvolvimento. Autor do Compêndio Anuário de Minas Gerais, Nelson Senna mostrou o otimismo de uma época e celebrou o projeto da estrada assim: “O desbravamento, por meio de linhas de ramificações, de todo o Norte e Nordeste do estado de Minas, dos sertões da Bahia, de Goiás, do Piauí, Maranhão e Pará, daria como resultado o florescimento (…) industrial, comercial e econômico do esquecido Brasil central”.

DIFICULDADES O material para construção da Ponte Velha chegou às duas margens do rio, em Pirapora e Buritizeiro, conta o advogado, escritor e pesquisador da história de sua terra Ivan Passos Bandeira da Mota. Para levar adiante o projeto, valeu – e muito – o empenho do agente executivo e presidente da Câmara de Pirapora, Coronel José Joaquim Fernandes Ramos, o Cel. Ramos. Mas havia dificuldades para a construção da estrutura sobre o rio, principalmente as constantes enchentes. Em 1914, as obras pararam e só voltaram quatro anos depois. Mas toda a expectativa naufragou e o projeto da ferrovia jamais foi concluído: dessa forma, a locomotiva correu sobre os trilhos, entre as duas cidades, apenas de 1922 a 1927.

A estação de Pirapora, inaugurada em 1910, atendeu ao trecho Pirapora, Corinto, Belo Horizonte até 1978. A ponte, por sua vez, passou por altos e baixos. Em novembro de 1996, a estrutura foi interditada judicialmente ao trânsito de veículos por falta de segurança. Hoje, está aberta apenas aos pedestres e ciclistas, mas motoqueiros costumam desobedecer as normas e atravessam o pontilhão.

 

Pirapora-MG. Banhistas se refrescam no rio São Francisco. Ao fundo, a ponte Marechal Hermes (07/02/1995)(foto: Arquivo EM - 16/5/1979)
Pirapora-MG. Banhistas se refrescam no rio São Francisco. Ao fundo, a ponte Marechal Hermes (07/02/1995) (foto: Arquivo EM - 16/5/1979)

 

 

Três meses para a recuperação

A Ponte Marechal Hermes clama pela restauração e segurança. Pensando nisso, a juíza Renata Souza Viana, de Pirapora, determinou a recuperação completa das passarelas laterais da estrutura que liga Pirapora a Buritizeiro. E ordenou a substituição de todos os pranchões de madeira, incluindo troca e fixação dos parafusos. A partir da notificação, a Ferrovia Centro-Atlântica S.A. (FCA) terá 90 dias para executar o serviço. A decisão atendeu às solicitações, em ação, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). O MPMG instaurou inquérito após tomar conhecimento de que o pontilhão se encontrava em precário estado de conservação, consistindo um séria ameaça aos patrimônios social e cultural. A FCA informou ontem que ainda não foi notificada.
 
Montagem do esqueleto da Marechal Hermes, em 1922, obra que, na década de 1970, emoldurou os banhos de rio em Pirapora. Agora, decadência do curso d'áágua e da ponte (foto: Ivan Rodrigues/ Divulgação)
Montagem do esqueleto da Marechal Hermes, em 1922, obra que, na década de 1970, emoldurou os banhos de rio em Pirapora. Agora, decadência do curso d'áágua e da ponte (foto: Ivan Rodrigues/ Divulgação)


 
 
LINHA DO TEMPO

1910 – Trilhos da Ferrovia Central do Brasil chegam à estação de Pirapora, vindos de Lassance (MG). Obras da ponte param em 1914 e retornam em 1918

1922 – Em 10 de novembro, a ponte é inaugurada pelo presidente Epitácio Pessoa, para ligar Pirapora a Buritizeiro, no Norte de Minas

1927 – Depois de cinco anos nos trilhos, o trem de ferro deixa de circular entre os dois municípios pela chamada Ponte Velha

1950 – Do início dessa década até os anos 1990, a ponte é liberada aos veículos (carros, caminhonetes), intensificando-se o trânsito a partir de 1970

1985 – Em 22 de março, a Ponte Marechal Hermes é tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG)

1996 – Em novembro, a ponte é interditada judicialmente ao trânsito de veículos por falta de segurança. Fica aberta aos pedestres e ciclistas

1996 – Com o fim da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), a ponte se torna um bem arrendado à Ferrovia Centro-Atlântica (FCA)

2014 – Em 15 de setembro, a Justiça determina a recuperação das passarelas laterais da ponte e elaboração de projeto para restaurar a estrutura


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