A seca que assolou o berço mineiro do São Francisco deixou o Brasil estarrecido – na Serra da Canastra, coração do Centro-Oeste, o “rio da unidade nacional” virou um deserto de vegetação, quadro de natureza morta e espaço de desolação. Aos trancos e barrancos, os afluentes do Velho Chico reúnem forças para chegar ao Oceano Atlântico, antes banhando cidades, vidas e monumentos importantes na história das Gerais e do país. Entre Pirapora e Buritizeiro, na Região Norte do estado, a Ponte Marechal Hermes, que vai completar 92 anos em novembro, testemunha as belezas e mazelas do curso d’água.
Primeira ponte metálica construída no Brasil, a Marechal Hermes se transformou em cartão-postal de Pirapora e Buritizeiro. Ninguém escapa, de câmera fotográfica em punho, de capturar o pôr do sol emoldurado pela estrutura de 694 metros de extensão, apoiada em 13 pilares de concreto, com a superestrutura metálica vinda da Bélgica e cimento dos Estados Unidos. A inauguração em 10 de novembro de 1922 teve pompa e circunstância, com a presença do então presidente da República, Epitácio Pessoa (1865-1942), e outras autoridades federais e estaduais. “Ela faz parte da nossa história e se tornou um monumento característico da região”, diz, com orgulho, o advogado Ivan Passos Bandeira da Mota, coautor dos livros Pirapora – 100 anos de história, com Breno Álvares da Silva, e Pirapora – Um porto na história de Minas, com Breno e Domingos Diniz.
Devido à relevância da arquitetura e fatos marcantes ocorridos no seu entorno, a Ponte Velha foi tombada em 1985 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). De acordo com o Guia de Bens Tombados recém-lançado pelo instituto, a construção do pontilhão sobre o São Francisco estava no “ambicioso projeto de expansão” da Ferrovia Central do Brasil, que pretendia ligar a então capital da República, Rio de Janeiro (RJ), a Belém (PA), no Norte. A ligação do litoral com o interior do Brasil havia sido planejada e sonhada ao longo do tempo.
Conforme pesquisas, desde o império, mais especificamente em 1855, traçava-se um projeto de integração do território, tendo como eixo principal a Ferrovia Dom Pedro II, que pretendia unir o Norte ao Sul, passando pelo Brasil central. Depois da Proclamação da República (1889), o projeto teve continuidade com a Estrada de Ferro Central do Brasil. Nesse período, as ferrovias representavam a vanguarda no desenvolvimento. Autor do Compêndio Anuário de Minas Gerais, Nelson Senna mostrou o otimismo de uma época e celebrou o projeto da estrada assim: “O desbravamento, por meio de linhas de ramificações, de todo o Norte e Nordeste do estado de Minas, dos sertões da Bahia, de Goiás, do Piauí, Maranhão e Pará, daria como resultado o florescimento (…) industrial, comercial e econômico do esquecido Brasil central”.
DIFICULDADES O material para construção da Ponte Velha chegou às duas margens do rio, em Pirapora e Buritizeiro, conta o advogado, escritor e pesquisador da história de sua terra Ivan Passos Bandeira da Mota. Para levar adiante o projeto, valeu – e muito – o empenho do agente executivo e presidente da Câmara de Pirapora, Coronel José Joaquim Fernandes Ramos, o Cel. Ramos. Mas havia dificuldades para a construção da estrutura sobre o rio, principalmente as constantes enchentes. Em 1914, as obras pararam e só voltaram quatro anos depois. Mas toda a expectativa naufragou e o projeto da ferrovia jamais foi concluído: dessa forma, a locomotiva correu sobre os trilhos, entre as duas cidades, apenas de 1922 a 1927.
A estação de Pirapora, inaugurada em 1910, atendeu ao trecho Pirapora, Corinto, Belo Horizonte até 1978. A ponte, por sua vez, passou por altos e baixos. Em novembro de 1996, a estrutura foi interditada judicialmente ao trânsito de veículos por falta de segurança. Hoje, está aberta apenas aos pedestres e ciclistas, mas motoqueiros costumam desobedecer as normas e atravessam o pontilhão.
Três meses para a recuperação
A Ponte Marechal Hermes clama pela restauração e segurança. Pensando nisso, a juíza Renata Souza Viana, de Pirapora, determinou a recuperação completa das passarelas laterais da estrutura que liga Pirapora a Buritizeiro. E ordenou a substituição de todos os pranchões de madeira, incluindo troca e fixação dos parafusos. A partir da notificação, a Ferrovia Centro-Atlântica S.A. (FCA) terá 90 dias para executar o serviço. A decisão atendeu às solicitações, em ação, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). O MPMG instaurou inquérito após tomar conhecimento de que o pontilhão se encontrava em precário estado de conservação, consistindo um séria ameaça aos patrimônios social e cultural. A FCA informou ontem que ainda não foi notificada.
A Ponte Marechal Hermes clama pela restauração e segurança. Pensando nisso, a juíza Renata Souza Viana, de Pirapora, determinou a recuperação completa das passarelas laterais da estrutura que liga Pirapora a Buritizeiro. E ordenou a substituição de todos os pranchões de madeira, incluindo troca e fixação dos parafusos. A partir da notificação, a Ferrovia Centro-Atlântica S.A. (FCA) terá 90 dias para executar o serviço. A decisão atendeu às solicitações, em ação, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). O MPMG instaurou inquérito após tomar conhecimento de que o pontilhão se encontrava em precário estado de conservação, consistindo um séria ameaça aos patrimônios social e cultural. A FCA informou ontem que ainda não foi notificada.
LINHA DO TEMPO
1910 – Trilhos da Ferrovia Central do Brasil chegam à estação de Pirapora, vindos de Lassance (MG). Obras da ponte param em 1914 e retornam em 1918
1922 – Em 10 de novembro, a ponte é inaugurada pelo presidente Epitácio Pessoa, para ligar Pirapora a Buritizeiro, no Norte de Minas
1927 – Depois de cinco anos nos trilhos, o trem de ferro deixa de circular entre os dois municípios pela chamada Ponte Velha
1950 – Do início dessa década até os anos 1990, a ponte é liberada aos veículos (carros, caminhonetes), intensificando-se o trânsito a partir de 1970
1985 – Em 22 de março, a Ponte Marechal Hermes é tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG)
1996 – Em novembro, a ponte é interditada judicialmente ao trânsito de veículos por falta de segurança. Fica aberta aos pedestres e ciclistas
1996 – Com o fim da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), a ponte se torna um bem arrendado à Ferrovia Centro-Atlântica (FCA)
2014 – Em 15 de setembro, a Justiça determina a recuperação das passarelas laterais da ponte e elaboração de projeto para restaurar a estrutura