
Iguatama – As erosões que por anos escavaram pastagens nas barrancas do Rio São Francisco, despejando terra, raízes, galhos e árvores inteiras no leito, formaram um dique nos pilares da ponte que corta Iguatama, a primeira cidade por onde passa o curso d’água, no Centro-Oeste de Minas. Por causa da seca, pescadores viram quando essa represa se formou sobre os bancos de areia e reduziu o Velho Chico, de uma c alha de 40 metros de largura e quatro metros de profundidade, a um estreito corredor de 17 metros, tão raso que mal chega a 40 centímetros nas canelas de quem passa por ele. Mas a estiagem não é a única vilã desta que é considerada a pior situação do manancial em todos os tempos. Desde 2011, a região deixou de receber investimentos para ações de preservação, como a conservação de margens, cercamento de nascentes e recomposição de matas ciliares. Está longe de ser uma situação isolada: ela se repete ao longo dos 2.700 quilômetros do curso por cinco estados, já que a União fechou a torneira para a preservação do rio, ao mesmo tempo em que aumentou os investimentos para retirar água da bacia, com as obras de transposição.
Veja imagens da degradação do Rio São Francisco
“Em 2006, o presidente Lula garantiu que, para cada real gasto na transposição do Rio São Francisco, um real seria investido em revitalização. Só que esse nível de investimentos nunca ocorreu. A situação do rio só piorou”, considera o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda. Hoje, a entidade destaca que o curso d’água principal e seus afluentes enfrentam a “mais grave crise de todos os tempos”.
Coordenador do Programa de Revitalização, o Ministério do Meio Ambiente admite a seca em várias ações de conservação e melhoria da qualidade das águas do Velho Chico, que agora passam por reavaliação técnica. Contudo, enquanto os recursos para aumentar a quantidade e a qualidade de água da bacia hidrográfica somaram R$ 760 milhões desde 2012 e agora estão paralisados, o aporte para as obras de transposição alcançou R$ 2,7 bilhões no triênio, e chegará a R$ 8,2 bilhões em dezembro de 2015, quando a obra deve iniciar a operação de bombeamento de água.