O passeio de canoa pelo Rio Grande, no Sul de Minas, do pescador Pedro Fonseca e o filho, Douglas, de 9 anos, foi divertido e resultou em descoberta surpreendente. Enquanto a dupla remava sob sol forte, o menino teve a feliz ideia de mergulhar e se refrescar um pouco, pois a longa estiagem deixara o leito com pouca profundidade. No entanto, mal entrou na água o garoto encostou a mão num pedaço de madeira e voltou à tona para comunicar o achado ao pai. Naquele exato local, estava enfiada na areia uma embarcação de madeira indígena ou usada pelos bandeirantes que desbravaram as Gerais dos primórdios. Nos últimos 17 anos, seis peças de tamanhos variados, achadas em rios diferentes, vieram à tona para valorizar mais o patrimônio arqueológico do estado.
Retirar das águas a velha canoa de 9,10m e 70cm de largura não foi fácil, diz o arquiteto José Marcos Alves Salgado, conselheiro do Núcleo de Pesquisas Arqueológicas (NPA) do Alto Rio Grande, associação que completa 30 anos e se dedica à preservação do patrimônio cultural de Andrelândia, no Sul de Minas. Ele explica que foram necessários quatro dias para levar a embarcação até uma trilha no mato e protegê-la. Na sequência, a peça seguiu de caminhão até o Parque Arqueológico da Serra de Santo Antônio, unidade pertencente ao NPA.
Quanto mais o episódio se tornava conhecido, mais gente aparecia para ajudar na empreitada, conta José Marcos, que, ao ser procurado pelo pescador, comunicou de imediato o achado ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), via Coordenadoria das Promotorias de Justiça do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC). No primeiro dia, incluindo Pedro Fonseca, foram seis homens, número que chegou a 15 na hora de levantar a canoa e colocá-la no caminhão – para adiantar o expediente, a embarcação deslizou sobre roletes. “A madeira, ainda encharcada, estava muito pesada. Trata-se de um tronco inteiriço, possivelmente de cedro ou vinhático”, conta o conselheiro, lembrando que a embarcação foi localizada entre Andrelândia e Santana do Garambéu.
Certo de que serão necessários estudos para determinar a procedência, época e tipo de ferramenta usada, José Marcos acredita que a peça tem origem indígena, talvez anterior à chegada dos portugueses. “Já achamos na região muitos artefatos do povo tupi-guarani, como pontas de flechas e urnas de barro para funerais. Agora, vamos construir um abrigo específico para receber a canoa e mostrá-la aos visitantes. O local terá cobertura em cerâmica e paredes decoradas com painéis do Rio Grande.” Nos últimos dias, a equipe do NPA verificou os detalhes da canoa, incluindo os furos para amarrar o cipó numa árvore e um corte, na proa, em forma de “v”, chamado quebra-água”. “O fundo está perfeito, só a borda ficou meio podre. Mas podemos dizer que a canoa é muito bem trabalhada”, afirma o arquiteto.
O arqueólogo Alexandre Delforge, da superintendência em BH do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), explica que esse meio de transporte era usado pelos povos canoeiros, com destaque para os tupis-guaranis que habitavam a Zona da Mata, a área central de Minas e a região do Rio São Francisco. “Eles moravam sempre perto dos grandes rios e tinham técnica própria de construir as canoas, usando um tronco único”, diz Delforge, explicando que os colonizadores portugueses adotaram o sistema para fazer embarcações. “É muito raro encontrar esse tipo de canoa, pois a madeira de lei não boia por ser mais densa que a água. Os índios do litoral viajavam nessas embarcações pelo mar e depois chegavam ao interior pelos grandes rios”, diz o arqueólogo.
Carbono
14 O desenho feito pelo alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858), em viagem pelo país entre 1821 e 1825, mostra 13 índios numa canoa, pescando em águas caudalosas. A canoa de 10,6m de comprimento e 70cm de largura – encontrada em 1999 no Rio Aiuruoca, integrante da Bacia do Rio Grande, em São Vicente de Minas, na Região Sul – é exemplo de se faziam embarcações que comportavam grupos de pessoas. Na época, essa canoa despertou o interesse da Marinha e recebeu laudo técnico do MPMG. Conforme análise pelo método Carbono 14, feita nos Estados Unidos, a datação é do período de 1480 a 1660. A prefeitura local vai reformar um casarão recentemente adquirido pela municipalidade e expor a peça.
Se no Sul de Minas as canoas apareceram no período da seca, em Pedro Leopoldo, na Grande BH, duas surgiram depois de uma enchente violenta no Rio das Velhas, que causou assoreamento. A maior, de 14m e escavada num tronco de vinhático, está em exposição na Casa Fernão Dias, em Quinta do Sumidouro, informa a secretária municipal de Cultura, Esporte, Lazer, Juventude e Turismo, Patrícia Rafael. Já o pescador João Batista, de Brumadinho, conseguiu uma proeza nas águas do Rio Paraopeba. No ano passado, ele “fisgou” uma canoa de 3m, amarrou, mas ela desceu o rio. Tempos depois, ela voltou à tona e ele a levou para o sítio. Certo de que se trata de peça de valor arqueológico, ele vai comunicar o fato ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Retirar das águas a velha canoa de 9,10m e 70cm de largura não foi fácil, diz o arquiteto José Marcos Alves Salgado, conselheiro do Núcleo de Pesquisas Arqueológicas (NPA) do Alto Rio Grande, associação que completa 30 anos e se dedica à preservação do patrimônio cultural de Andrelândia, no Sul de Minas. Ele explica que foram necessários quatro dias para levar a embarcação até uma trilha no mato e protegê-la. Na sequência, a peça seguiu de caminhão até o Parque Arqueológico da Serra de Santo Antônio, unidade pertencente ao NPA.
Quanto mais o episódio se tornava conhecido, mais gente aparecia para ajudar na empreitada, conta José Marcos, que, ao ser procurado pelo pescador, comunicou de imediato o achado ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), via Coordenadoria das Promotorias de Justiça do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC). No primeiro dia, incluindo Pedro Fonseca, foram seis homens, número que chegou a 15 na hora de levantar a canoa e colocá-la no caminhão – para adiantar o expediente, a embarcação deslizou sobre roletes. “A madeira, ainda encharcada, estava muito pesada. Trata-se de um tronco inteiriço, possivelmente de cedro ou vinhático”, conta o conselheiro, lembrando que a embarcação foi localizada entre Andrelândia e Santana do Garambéu.
Certo de que serão necessários estudos para determinar a procedência, época e tipo de ferramenta usada, José Marcos acredita que a peça tem origem indígena, talvez anterior à chegada dos portugueses. “Já achamos na região muitos artefatos do povo tupi-guarani, como pontas de flechas e urnas de barro para funerais. Agora, vamos construir um abrigo específico para receber a canoa e mostrá-la aos visitantes. O local terá cobertura em cerâmica e paredes decoradas com painéis do Rio Grande.” Nos últimos dias, a equipe do NPA verificou os detalhes da canoa, incluindo os furos para amarrar o cipó numa árvore e um corte, na proa, em forma de “v”, chamado quebra-água”. “O fundo está perfeito, só a borda ficou meio podre. Mas podemos dizer que a canoa é muito bem trabalhada”, afirma o arquiteto.
O arqueólogo Alexandre Delforge, da superintendência em BH do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), explica que esse meio de transporte era usado pelos povos canoeiros, com destaque para os tupis-guaranis que habitavam a Zona da Mata, a área central de Minas e a região do Rio São Francisco. “Eles moravam sempre perto dos grandes rios e tinham técnica própria de construir as canoas, usando um tronco único”, diz Delforge, explicando que os colonizadores portugueses adotaram o sistema para fazer embarcações. “É muito raro encontrar esse tipo de canoa, pois a madeira de lei não boia por ser mais densa que a água. Os índios do litoral viajavam nessas embarcações pelo mar e depois chegavam ao interior pelos grandes rios”, diz o arqueólogo.
Carbono
14 O desenho feito pelo alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858), em viagem pelo país entre 1821 e 1825, mostra 13 índios numa canoa, pescando em águas caudalosas. A canoa de 10,6m de comprimento e 70cm de largura – encontrada em 1999 no Rio Aiuruoca, integrante da Bacia do Rio Grande, em São Vicente de Minas, na Região Sul – é exemplo de se faziam embarcações que comportavam grupos de pessoas. Na época, essa canoa despertou o interesse da Marinha e recebeu laudo técnico do MPMG. Conforme análise pelo método Carbono 14, feita nos Estados Unidos, a datação é do período de 1480 a 1660. A prefeitura local vai reformar um casarão recentemente adquirido pela municipalidade e expor a peça.
Se no Sul de Minas as canoas apareceram no período da seca, em Pedro Leopoldo, na Grande BH, duas surgiram depois de uma enchente violenta no Rio das Velhas, que causou assoreamento. A maior, de 14m e escavada num tronco de vinhático, está em exposição na Casa Fernão Dias, em Quinta do Sumidouro, informa a secretária municipal de Cultura, Esporte, Lazer, Juventude e Turismo, Patrícia Rafael. Já o pescador João Batista, de Brumadinho, conseguiu uma proeza nas águas do Rio Paraopeba. No ano passado, ele “fisgou” uma canoa de 3m, amarrou, mas ela desceu o rio. Tempos depois, ela voltou à tona e ele a levou para o sítio. Certo de que se trata de peça de valor arqueológico, ele vai comunicar o fato ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).