Gustavo Werneck
“Quem procura acha e, neste trabalho, precisamos também ter sorte”, diz o supervisor do CCCP, o paleontólogo Thiago Marinho. Ele explicou que tudo começou há dois anos, durante a construção de um shopping, por outra construtora, ao lado do terreno no qual são erguidos os prédios. Diante dos vestígios pré-históricos na área, a equipe de Peirópolis procurou o promotor de Justiça da comarca, Carlos Alberto Valera, e encontrou boa receptividade por parte do empreendedor Tiago Pantaleão. Interessado nos estudos, o construtor convocou inicialmente dois paleontólogos da Universidade de Paulo (USP), que viram potencial na área, mas não localizaram nada.
Com o sinal verde para visitar a área, Thiago Marinho, ao lado do empreendedor, não demorou mais do que 10 minutos para achar o fêmur do titanossuro no meio de um bota-fora ou rejeito das escavações do condomínio. Em novas ações nas rochas fossilíferas, foram surgindo mais de 30 fragmentos, entre eles dois de tartarugas. “Houve muito empenho de nossa parte e boa vontade do empresário. Não ocorreu embargo da obra e estamos podendo trabalhar com tranquilidade no terreno para ver se achamos mais fósseis”, conta o paleontólogo.
Uberaba e arredores são celeiro para os paleontólogos, que em julho localizaram em Campina Verde, município vizinho, a ossada inteira de um crocodilo e a vértebra do pescoço de um titanossauro, o maior dinossauro brasileiro, que teria 25 metros de comprimento. “A região é rica em calcário proveniente de águas subterrâneas. É um calcário muito puro que beneficiou a fossilização”, explica o supervisor do CCCP.
MAPEAMENTO Outro entusiasmado com o potencial de Uberaba, e com a novas portas que se abrem para as pesquisas e proteção, é o promotor de Justiça Carlos Alberto Valera. Ciente da riqueza da região, ele destaca que o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) emitiu nota técnica sobre o assunto e entrou em contato com a construtora. Entre os efeitos, está o futuro mapeamento paleontológico, de forma a nortear todos os empreendimentos, sem destruir os sítios pré-históricos.
A partir da nota técnica do DNPM, os ministérios públicos de Minas Gerais (MPMG) e Federal (MPF) vão fazer uma recomendação às prefeituras da região para impedir impactos durante obras ou serviços que movimentem ou revolvam terra. Qualquer atividade nesse sentido, portanto, deverá ter autorização municipal, com a obrigatoriedade de se fazer o monitoramento paleontológico. “O momento é muito importante. Devido aos novos achados, teremos instrumentos preventivos e de acompanhamento de projetos”, afirmou Valera.
Com o empreendimento na etapa final, Tiago Pantaleão conclama os construtores a seguir o exemplo e preservar os sítios históricos e pré-históricos. “Muitos vezes, por desconhecimento das pessoas, perde-se um material riquíssimo. Não faz sentido, em pleno ano de 2015, alguém deixar de proteger esses tesouros. Quero inaugurar um novo tempo, abrindo as nossas próximas obras, desde o começo, para avaliação do potencial”, afirma Pantaleão.
Saiba mais
Ossadas milenares
Para chegar aos dias de hoje, essas joias foram conservadas por meio de mumificação, congelamento, âmbar, lagos asfálticos e outros. Em Minas, há áreas de destaque, como o Triângulo, terra dos dinossauros, Norte, Noroeste e Sul, além do Vale do Rio das Velhas, principalmente a região cárstica de Lagoa Santa, na Grande BH. A recente descoberta se deu nas rochas sedimentares denominadas arenitos da Formação Uberaba, nome dado a este conjunto que recobre quase toda a superfície da malha urbana do município.
Memória
Rico território
Em dezembro de 2012, descobertas em Campina Verde, no Triângulo Mineiro, surpreenderam os cientistas. Em escavações no município, distante 676 quilômetros de Belo Horizonte, equipe da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) encontrou fósseis com cerca de 70 milhões de anos pertencentes a um tipo de dinossauro que poderia ter até 15 metros de comprimento. O achado divulgado pelo coordenador da equipe, o professor e paleontólogo Douglas Riff, do Instituto de Biologia da universidade, incluiu um íleo (osso da bacia) e um conjunto de vértebras. Há mais de mês, foi encontrado um osso com mais de um metro de comprimento no mesmo local. Os ossos estavam às margens da rodovia federal da BR-364, ligando São Paulo (SP) a Cuiabá (MT). Durante a construção, as máquinas fizeram um corte na estrada e os fósseis apareceram. Já em julho, também em Campina Verde, foi localizada a ossada de um crocodilo inteiro e, uma semana depois, a vértebra do pescoço de um titanossauro, o maior dinossauro brasileiro, que teria 25 metros de comprimento.