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Estado de Minas

Outono chuvoso em Minas pode ser favorável ao mosquito Aedes aegypti

Clima úmido se torna mais um fator que contribui para a proliferação do mosquito e deve estender fase aguda da epidemia no estado


postado em 28/03/2016 06:00 / atualizado em 28/03/2016 07:32

Poça de água acumulada depois de chuva, pneus e lixo a céu aberto: ambientes propícios para desenvolvimento do vetor da dengue, zika e chikungunya(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 14/3/16)
Poça de água acumulada depois de chuva, pneus e lixo a céu aberto: ambientes propícios para desenvolvimento do vetor da dengue, zika e chikungunya (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 14/3/16)
As chuvas mais intensas previstas para este outono poderão estender e tornar mais crítica a fase aguda da epidemia de dengue em Minas Gerais, que, nos três primeiros meses do ano, registrou mais casos do que todo o ano passado. Enquanto em 2015, foram 196,5 mil registros, antes de este mês terminar já são 217,1 mil. De acordo com os dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES) referentes ao número de casos notificados desde 2012, a maior parte se concentra entre março e maio, período compreendido pelo outono, que teve início no dia 20 e vai até 20 de junho. Além da tendência de crescimento nos registros da doença nos próximos dias apontada pelas estatísticas, há previsão para que as chuvas de março superem a média histórica de 163,5 milímetros para o mês, o que pode contribuir para a formação de criadouros do mosquito Aedes aegypti, que se reproduz na água, dando fôlego extra para o vetor não só da dengue, mas também da zika e chikungunya.

Entre março e maio de 2012, foram registrados 12.515 casos de dengue, o que corresponde a 39,52% das notificações daquele ano. A situação se agravou nos anos seguintes. Em 2013, esses meses registraram 73% dos casos (302.704). Em 2014, foram 62,7% (36.431) e 2015, 71,2% (140.035). “Temos um número maior de pessoas contaminadas, situação que tende a se agravar”, diz a infectologista Virgínia Zambelli, que integra a diretoria da Sociedade Mineira de Infectologia.

As chuvas marcaram o feriado prolongado da semana santa e deverão se manter na estação que, normalmente, se caracteriza por médias pluviométricas baixas. De acordo com o hidrometeorologista da Cemig Arthur Chaves de Paiva Neto, abril será chuvoso e, em junho, as precipitações ficarão acima da média. “A previsão da Vigilância Epidemiológica é que a epidemia se estenda. É algo preocupante. Estamos no início do ano, e o número de casos já ultrapassou 2015. É alarmante”, afirma Virgínia Zambelli.

Nessas circunstâncias, a orientação é não relaxar e a educação da população para combater o mosquito é a principal forma de barrar a epidemia, avalia a médica. No entanto, ela lembra que, apesar de o país viver epidemias sucessivas ano após ano, ainda há muito o que fazer para um combate eficaz ao vetor da dengue, da zika e da chikungunya . “Há muito lixo pela rua, o que facilita o surgimento de criadouros”, pondera.

A infectologista lembra que a dengue é muito grave, embora o aparecimento da zika e da chikungunya tenha dividido a atenção. Como o principal vetor é o Aedes, combatê-lo é se prevenir das três doenças. “Na prevenção não faz diferença, mas as pessoas dão pouca atenção à dengue”, comenta. Em Belo Horizonte, neste ano, foram confirmados 16.635 casos de dengue. Há 44.456 casos notificados, pendentes de resultados. A regional com o maior número de casos confirmados é a Nordeste, com 3.392 ocorrências, seguida pelas regionais Barreiro (2.496) e Noroeste (2.125).

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)
O infectologista Carlos Alessandro Pla Bento reforça a necessidade de as pessoas adotarem uma conduta preventiva diante da gravidade da dengue. “É uma doença séria, pelo dano à saúde que provoca, com muitos sintomas, que podem acometer o doente por mais de uma semana. Vemos casos de até duas semanas de sintomas. Além disso, pode ceifar vidas”, alerta. Para ele, muitas pessoas não têm a dimensão dos riscos e não se engajam no combate ao mosquito. Em 2009, ele e a sogra foram picados pelo mosquito. “A pessoa pode cuidar do próprio quintal, mas não basta. Toda a comunidade tem que estar junta. Além de fazer a limpeza na sua casa, tem que conversar com o vizinho”, defende.

O volume de entulho recolhido nos mutirões de combate ao Aedes realizados pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) neste ano sinalizam a dimensão do problema. Até quarta-feira, foram 3.257 toneladas de materiais que poderiam se tornar criadouro de dengue, retirados nas nove regionais da capital, durante os mutirões intersetoriais coordenados pela Secretaria Municipal de Saúde, Defesa Civil e secretariais regionais, com apoio da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU).

Quando a população está sensibilizada pelo vírus da dengue, uma nova infecção pode trazer riscos de manifestação mais grave da doença, conforme alertou, na semana passada, ao Estado de Minas, o superintendente de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e de Saúde do Trabalhador da SES, Rodrigo Said. Os especialistas reforçam a necessidade de buscar o serviço de saúde diante do aparecimento dos primeiros sintomas.

COMBATE permanente A médica infectologista Tânia Marcial, do Centro de Informações Estratégica em Vigilância e Saúde da SES, lembra que, apesar de esse período do ano ter o pico de casos na Região Sudeste do país, parte da população não adota os cuidados necessários para evitar a proliferação do mosquito. Ela lembra que, em junho, o número de casos começa a recuar. Nesse período, destaca, gestantes, crianças menores de 2 anos, adultos com mais de 65 anos e pessoas com doenças crônicas devem redobrar a atenção. Ao primeiro sinal de febre devem procurar o médico para fazer o acompanhamento diário do número de plaquetas, que diminui em decorrência da contaminação com o vírus. Com a queda das plaquetas e inflamação dos vasos, os pacientes podem ter sangramentos. Ela ressalta que o combate eficiente aos possíveis criadouros do mosquito tem que ser feito em todas as estações. “Os cartazes estão por toda parte, mas a impressão que dá é de que viram paisagem”, critica a médica.

Palavra de especialista 


Coronel Alexandre Lucas, coordenador da Defesa Civil de BH 


Responsabilidade individual


O que a gente percebe é uma cultura perversa de acumular inservíveis. As pessoas ainda não entenderam que a responsabilidade primeira para a prevenção das doenças é individual. É preciso entender que autoproteção e proteção comunitária vêm antes da proteção pública, porque não podemos estar o tempo todo dentro das casas das pessoas. No caso da dengue, 75% dos focos estão nas casas. Só na Pampulha, recolhemos 16 mil pneus. Temos que vencer a cultura do acúmulo, da dependência do poder público, do “isso não vai acontecer comigo” e de que o mosquito está sempre no vizinho. Desde dezembro, estamos realizando os mutirões de limpeza e a quantidade de lixo que existe nas residências mostra que as pessoas ainda esperam a gente ir. Enquanto isso, o mosquito vai se proliferando. Este é um desafio grande, porque trata de mudar a cultura no mesmo momento em que pessoas estão morrendo”.

Aplicativo ajuda na prevenção 


Foi criado o aplicativo para ajudar na prevenção e erradicação dos focos do mosquito Aedes aegypti . A ferramenta está disponível no endereço www.img.com.br/semzika. Para criar mapas interativos, basta que o usuário faça o login no Facebook e escolha um dos quatro ícones disponíveis que deseja informar (Foco de Mosquito, Caso de Chikungunya, de Dengue ou de Zika). “Com projetos de mapeamento colaborativo, cada cidadão se torna protagonista no combate ao mosquito, compartilhando informações em redes sociais, sendo o mapa não só a representação gráfica, mas uma forma de resistência e denúncia. Poderá usar recursos como fotos e visualizações de possíveis focos do mosquito”, afirma Abimael Cereda Junior, gestor de Educação na Imagem, empresa desenvolvedora da plataforma.


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