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Estado de Minas

Hospedeiras da bactéria que causa febre maculosa, capivaras viram desafio

Destino dos roedores que infestam a Pampulha e são hospedeiros de transmissor da febre maculosa preocupa moradores e autoridades. Especialistas defendem esterilização


postado em 14/09/2016 06:00 / atualizado em 14/09/2016 07:57

Trabalhadores a serviço da Prefeitura de BH começaram a aplicar carrapaticida nas margens da lagoa(foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
Trabalhadores a serviço da Prefeitura de BH começaram a aplicar carrapaticida nas margens da lagoa (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
A morte de um menino de 10 anos, vítima de febre maculosa supostamente contraída em visita ao parque ecológico da Pampulha, em Belo Horizonte, abriu discussão sobre o destino das capivaras que vivem na região. Entre outros animais, elas são hospedeiras da bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida pela picada do carrapato-estrela e causadora da doença. Especialistas defendem, com urgência, um manejo populacional ético dos animais. Outros defendem a retirada de todos os roedores e um controle constante, para evitar o surgimento de novos grupos.


Em 2014, exames feitos pela Fundação Ezequiel Dias (Funed) apontaram que 28 capivaras estavam com a bactéria Rickettsia rickettsii. Na época, cerca de 90 animais viviam na orla, sendo que 46 foram capturados para exames. Apesar de a sorologia positiva não significar que os roedores estivessem doentes, eles eram hospedeiros da bactéria que pode contaminar o ser humano. Em setembro daquele mesmo ano, dentro de plano de manejo autorizado pelo Ibama, 52 capivaras foram levadas para dois recintos separados no parque ecológico. Confinadas, 38 delas morreram. Em janeiro de 2016, por determinação judicial, a Fundação Zoo-Botânica soltou 14 roedores, que não apresentavam carrapatos.

O risco de contágio vem mudando os hábitos de frequentadores da Pampulha. O engenheiro Marco Paulo Lage, de 40 anos, deixou de visitar o parque com os filhos de 7 e 5 anos. “Eu caminhava e levava as crianças para fazer piquenique. Usávamos caixas de papelão para os meninos escorregarem na grama”, afirmou. Na avaliação dele, a ação do poder público para controlar as capivaras tem sido “irresponsável”. Marco Paulo conta que algumas pessoas estão por conta própria tentando resolver o problema. “Tem gente dando pauladas em capivaras. Que a prefeitura sacrifique ou coloque em outro lugar, mas que faça algo, antes que pessoas comecem a agir em massa”, ponderou.

As capivaras, segundo especialistas, não devem ser castradas, pois perderiam o instinto de delimitação de espaço, o que permitiria a chegada de novas famílias da espécie por rios e córregos, atraídas pelo reservatório de água, em decorrência da destruição crescente de hábitats.

Professor do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa, Tarcísio Antônio Rêgo de Paula é autor de um programa para diminuição da população de capivaras e de carrapatos no câmpus da instituição. “Fizemos uma ação de controle populacional por meio de vasectomias em machos e de ligaduras em fêmeas, o que diminuiu enormemente a população de animais, pois deixaram de se reproduzir e houve morte natural ao longo do ano. Hoje, se a gente tiver quatro ou cinco capivaras são muitas”, disse.

Para o professor, ao contrário do que se pensa a presença da capivara pode constituir uma barreira sanitária para conter a febre maculosa. “É uma doença de carrapato. O parasita tem obrigatoriamente que picar um mamífero para fazer seu ciclo de vida. A capivara, ao ficar doente, fica com a bactéria circulando no sangue por 15 dias aproximadamente. Depois disso, fica imune e passa a atuar como uma barreira sanitária, evitando o espalhar dessa doença”, disse o especialista.

CONTROLE A coordenadora da organização não governamental Movimento Mineiro pelos Direitos dos Animais, Adriana Araújo, apoia a ideia da esterilização de machos e fêmeas. “Tem que haver também o controle periódico dos carrapatos e a microchipagem de animais, para identificação das capivaras e controle das que chegam. O manejo é constituído de várias ações, mas a principal é a conscientização constante da população de Belo Horizonte, não apenas no parque ecológico. Por pressão nossa, a prefeitura fez um panfleto informativo pela primeira vez em 2014 e deixa à disposição no balcão do parque ”, disse Adriana.

Desde junho de 2013, segundo Adriana, a ONG vem acompanhando o que ela chama de “novela das capivaras”, quando a prefeitura tinha interesse de retirar todos animais da Pampulha. “Buscamos em primeiro lugar, responsavelmente, conhecer sobre o assunto e buscar orientação junto aos maiores técnicos do Brasil”, disse. Segundo ela, estudos feitos com profissionais renomados do país, entre técnicos do Ibama e pesquisadores das Universidade de São Paulo (USP), das federais de Viçosa e do Paraná e a Promotoria de Saúde e Meio Ambiente de Minas Gerais, recomendam a permanência das capivaras na Lagoa da Pampulha, mas mediante o manejo populacional ético, com interrupção da procriação por meio de procedimento cirúrgico.


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