Outubro é rosa – e também amarelo, vermelho, branco, azul e pérola. Foi com vestidos de crochê nessas cores que um grupo de mulheres guerreiras e cheias de vida desfilou, na tarde de ontem, na Estação Central do metrô, na Praça Rui Barbosa, em Belo Horizonte. Nenhuma delas era profissional das passarelas, mas pacientes em tratamento de câncer de mama no Instituto Mário Penna, na capital, que, dentro da tradicional programação do mês, promoveu o evento para elevar a autoestima da turma, estimular o autocuidado e conscientizar a população sobre a necessidade de prevenção da doença. Os modelos foram confeccionados e doados por uma ex-paciente da instituição, que preferiu o anonimato, informou a diretora de Humanização do Mário Penna, Maria Ângela Ferraz.
Moradora do Bairro Paulo VI, na Região Nordeste da capital, Sheila, vestida de branco, descobriu, há oito meses, que estava com tumores na mama, pescoço, axila e fígado. “Tudo começou com uma escamação no bico do seio esquerdo, vindo um mês depois um caroço”. Nesse momento tão difícil da vida, recebeu todo o carinho e atenção da família e, na mesma intensidade, o acolhimento no instituto. “Hoje tenho câncer no fígado e continuo lutando. Esse desfile é uma demonstração de que não podemos desistir, devemos seguir adiante”, afirmou a mulher simpática, que, kardecista, teve na espiritualidade boas respostas para a enfermidade.
Acompanhada da irmã Margareth da Cunha Neto, “que dá força para todas”, segundo Vânia Darque de Souza, de 35, a artesã aposentada Glória Jesus da Cunha Moreira, de 52, casada, mãe de três filhos e avó três vezes, contou que fazia o exame de mamografia desde 2011, embora só tenha recebido a “cacetada” do resultado em 2015. De azul e sempre sorridente, ela confessou que chorou muito no início e decidiu driblar a situação com todas as forças. “Por sorte, o câncer estava no início, era um tumor do tamanho de um baguinho de feijão”, afirmou Glória, que também passou pela queda do cabelo e agora usa até um arco, realçando os belos olhos.
PREVENÇÃO Na Estação Central, há uma exposição que vai até o fim do mês, com fotos de mulheres que viveram a barra pesada do câncer de mama e se submeteram ao tratamento no Mário Penna. No verso de cartões com os retratos, a psicóloga especializada em oncologia do instituto, Adriane Pedrosa, escreveu pequenos poemas, entre eles o seguinte: “Me formei mama/me doei seio/me calei câncer/me superei peito”. Na avaliação da psico-oncologista, eventos dessa natureza são importantes para resgatar a autoestima, mostrar a superação, incentivar a reinserção social, acabar com tabus e mostrar que, mesmo com a doença, a beleza existe. “A vida continua”, destacou.
Com um modelito amarelo, a pesquisadora Edemilda Luciene, de 42, noiva e moradora em Contagem, fez questão de agradecer a equipe médica do instituto, enquanto a professora Ediana Alves de Figueiredo, de 43, solteira, moradora de Ribeirão das Neves, também na Grande BH, deu graças a Deus pelos resultados positivos do tratamento. “Esse desfile é um desafio para mim, pois sou muito tímida. Aliás, estou no meu quinto desfile”, revelou com um sorriso. Com um vestido rosa, ela disse que outubro não é só rosa, como diz a campanha, “e sim de todas as cores”.
Entre uma entrada e outra no tapete vermelho estendido na plataforma, as mulheres conversaram com passageiras, a exemplo da dona de casa Adriana Gonçalves, de 36, moradora de Contagem, que esperava o trem na companhia da filha Thaís, de 18. Adriana nunca fez autoexame muito menos mamografia, o que surpreendeu Sheila, amigas e equipe do instituto. “Agora vou me preocupar mais”, disse a dona de casa, que seguia para a estação Eldorado. Já a estagiária de direito Sandras das Graças, de 36, residente em Contagem, disse que faz tudo como manda o figurino: “Todos os exames são importantes para a saúde da mulher”.
Laço cor-de-rosa
O movimento conhecido como Outubro Rosa é destaque em todo o mundo, e o nome remete à cor do laço, na mesma cor, que simboliza a luta contra o câncer de mama e uma forma de estimular a participação da população, empresas e entidades. Tudo começou nos Estados Unidos, onde havia ações isoladas referente à doença e a necessidade de mamografia no mês de outubro – posteriormente, com a aprovação do Congresso daquele país, o outubro se tornou o mês nacional (norte-americano) de prevenção do câncer de mama. A história do Outubro Rosa começou na década de 1990, quando o laço cor-de-rosa foi lançado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure e distribuído aos participantes da primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova York e, desde então, promovida anualmente na cidade. A comemoração começou efetivamente em 1997.