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Estado de Minas

Serra do Cipó terá nova travessia com roteiro de 40 quilômetros

Em fase de demarcação, percurso de três dias seguindo trilhas de tropeiros e obstáculos naturais promete ser um dos mais desafiadores da unidade


postado em 26/03/2017 00:12 / atualizado em 26/03/2017 13:07

(foto: Leandro Couri/ EM/ D. A Press)
(foto: Leandro Couri/ EM/ D. A Press)

Itabira, Itambé do Mato Dentro e Morro do Pilar – Uma nova travessia que percorre 40 quilômetros por trilhas de tropeiros, vestígios arqueológicos, formações que agem como divisores de águas, cânions e passagens arriscadas será o mais novo roteiro do cardápio de atrações do Parque Nacional da Serra do Cipó (Parna Cipó), na Região Central de Minas Gerais. A aventura da “Travessia Alto Palácio – Serra dos Alves” começa em Morro do Pilar e percorre campos rupestres de Itambé do Mato Dentro, chegando ao pequeno distrito de Serra dos Alves, em Itabira. A rota contará inclusive com uma parceria com empresa de turismo, para agendar visitas e contratar guias locais.

Ver galeria . 9 Fotos Leandro Couri/Em/D.A Press
(foto: Leandro Couri/Em/D.A Press )

O roteiro tem sido traçado com a ajuda de voluntários, para fazer as demarcações das trilhas e reparos nos dois abrigos que se encontram no caminho da viagem, programada para durar três dias, com dois pernoites. A reportagem do Estado de Minas percorreu esse caminho, que, da forma como está, representa a mais radical e difícil atração do Parna Cipó. “Por enquanto, é uma trilha-piloto. À medida que as pessoas e voluntários a percorrem é que os roteiros acabam sendo marcados”, afirma Edward Elias Júnior, participante da gestão integrada do parque e da Área de Proteção Ambiental do Morro da Pedreira, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).


Ao contrário das demais atrações, como a Cachoeira da Farofa e o Cânion das Bandeirinhas, para realizar essa travessia é necessário um agendamento com a administração do parque, além de assinatura de um termo de responsabilidade, descrição do trajeto adotado e do tempo gasto. Medidas consideradas fundamentais para uma travessia tão longa e perigosa, principalmente para o acionamento de auxílio em caso de necessidade. A direção da unidade de conservação recomenda a contratação de guias locais para o deslocamento e até fornece as coordenadas de GPS para os aventureiros que sabem navegar  com uso do dispositivo.

O desafio começa de forma leve, na antiga sede do parque, em Morro do Pilar, atualmente um posto avançado de controle muito utilizado como base durante a temporada de incêndios. O local, conhecido como Alto Palácio, na porção ocidental da unidade, tem uma trilha bem demarcada, que percorre morros de pequena inclinação, uma boa forma de ir esquentando os músculos para o que está por vir. O primeiro mirante surge ao fim dos seis quilômetros iniciais. Dele se divisam nos vales amplos o curso de riachos de águas amareladas e os afloramentos de quartzito na vegetação rasteira de campos rupestres, uma paisagem que domina 80% da unidade de conservação.

MARCAS ANCESTRAIS Dois quilômetros adiante, e uma das rochas pontudas pelo caminho exibe pinturas rupestres com cenas de caçadas, animais de grande porte e contagens primitivas, mostrando ter sido aquele um abrigo rústico de caçadores pré-históricos da região. Ali perto, onde brotam algumas nascentes, as grandes rochas apresentam sinais de que ainda servem de abrigo para pessoas que pernoitam por lá, principalmente devido aos círculos de pedras chamuscadas por antigas fogueiras. Duas infrações que podem render multas, já que não é permitido pernoitar no parque fora dos dois abrigos específicos para a travessia e a montagem de fogueiras também é proibida, devido ao risco alto de incêndios. No trecho, cursos d’água escondidos sob a vegetação são um risco para se ter torções.

Em frente, encontra-se o mais difícil obstáculo de todo trajeto: o “Travessão”, a 1.052 metros de altitude. Essa formação rochosa é a única passagem por uma garganta que tem de um lado uma cachoeira de 25 metros e forte inclinação e, do outro, um paredão. Sem o apoio de uma corda e equipamento de rapel, a descida é extremamente arriscada, mas ainda possível pela parte com vegetação na encosta, onde a inclinação chega a ser de 80 graus. A cobertura vegetal é instável e nesse ponto é preciso toda a atenção para que tombos e escorregões não terminem numa queda nas pedras e no córrego abaixo, acidente que pode ser fatal. O Travessão é também um divisor de águas das bacias hidrográficas dos rios São Francisco, a Oeste, e Doce, a Leste.

 

Travessia entre cachoeiras e despenhadeiros

 

Após o Travessão, a caminhada ganha rapidamente elevação, chegando aos 1.409 metros. É o trecho onde se avista melhor o cânion do Rio do Peixe. À frente se abre um vale com paredões, despenhadeiros e montes de rochas íngremes. Desses maciços despencam cachoeiras e cascatas que formam poços e lagos. Vários pontos ainda não dispõem de trilha batida  nem demarcação de estacas. Sem conhecer os caminhos, é fácil se perder, mesmo com apoio do GPS, o que exige retornos, reconhecimento de área e atrasos que custam tempo e resistência física. São cinco quilômetros até o primeiro ponto de apoio, um barracão chamado Casa de Tábuas, indicado para encerrar o primeiro dia, após 16,57 quilômetros (veja mapa). A construção é anterior à criação do parque e servia como ponto para descanso de viajantes que cruzavam a região. Ali há um fogão a lenha antigo e quem passa por lá acaba sempre deixando algum alimento ou utensílio para aliviar a carga transportada, o que serve para abastecer um aventureiro que porventura necessite.

A Casa de Tábuas pode ser usada para fazer as refeições, mas a recomendação do parque é para que se acampe em barracas ao redor e que se evite usar o fogão a lenha. Mas à noite, numa altitude de 1.412 metros, o vento é forte e as barracas precisam estar bem ancoradas para não sair  voando. O céu estrelado e o som das corredeiras compensam as rajadas e tornam a noite agradável. A marcha do segundo dia, de 11,3 quilômetros, vai da Casa de Tábuas até o outro abrigo, chamado Currais, um antigo rancho de pau a pique. Nessa caminhada se atingem as maiores altitudes da jornada, chegando aos 1.665 metros. Mais uma vez, a deficiência de demarcações pode levar a atrasos.

A terceira e última parte é a trilha de 12,6 quilômetros dos Currais ao distrito de Serra dos Alves. É uma caminhada que, apesar de feita em sua maioria em inclinações suaves ou descidas, exige muito dos pés, sobretudo pelo grande número de pedras soltas que podem levar a torções. O distrito é pequeno, só tem estradas de terra e ônibus uma vez por semana. Por isso, é importante se programar.

 

 


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