Se os países do Oriente são os mais famosos do mundo nas lutas, o Brasil tem sua própria arte marcial: a capoeira. Criada pelos escravos que vieram da África e seus descendentes para se defender e fugir para os quilombos, a técnica de luta tupiniquim atrai cada vez mais adeptos. Jogada em roda, com muita música e cantos, o estilo ganha o mundo e é praticado em vários países.
Na academia da Associação de Capoeira Cordão de Ouro, muitas crianças aprendem a arte marcial brasileira, que mistura dança, música e muita cultura. Maria Luiza Nascimento, de 7 anos, começou a praticar capoeira dentro da barriga da mãe. Filha dos mestres Fuinha e Folgadinha, responsáveis pela Cordão de Ouro, a menina tem uma habilidade muito grande com os saltos e golpes. “Meus amigos ficam muito impressionados comigo quando mostro o que sei fazer na aula de educação física. Também sei tocar berimbau, atabaque, tambor, agogô e reco-reco”, conta.
Quem também deixa os colegas de escola de queixo caído é Gabriel Barletta, de 6, que pratica a capoeira desde os 2. O garoto, que adora ir para a aula, gosta muito de artes marciais e tem vontade de aprender judô. “O aú (estrela) ninguém consegue fazer na minha escola”, conta Gabriel, que também sabe tocar tambor muito bem e tem um berimbau.
INTEGRAÇÃO Pai de Maria Luiza, Mestre Fuinha (Sânzio Corrêa Nascimento) explica que existe uma dúvida se a capoeira pode ser considerada uma arte marcial, uma dança ou um jogo. “A capoeira é luta? Costumo falar que é, mas também é mais que luta, porque a capoeira tem música. E não são todas as lutas que têm música. E quando falamos que a capoeira é esporte, está correto também. Mas ela também é cultura, pois é transmitida de geração em geração, e vem de um processo da formação brasileira. A capoeira é cultura? É! Mas é mais do que isso, porque tem a música, a luta... Mas ela também é integração social.”
Júlia Kimei, de 6 anos, pratica a capoeira há um ano. Ela acompanhou um amigo na aula e não parou mais. “O golpe de que mais gosto é o aú sem mão. Aprendi a tocar o berimbau, que tenho em casa, e a cantar as músicas”, conta a garota, que já ganhou seu primeiro cordão. Ao fim da entrevista, as três crianças, acompanhadas pela Mestre Folgadinha, cantaram um dos cânticos de roda de capoeira (ver quadro).
NO GOGÓ
Veja um dos cânticos usados
na roda de capoeira
FAMÍLIA DE OURO
Eu sou capoeira sim senhor
Eu tenho uma família de ouro
A capoeira é a minha vida
E a roda é o meu tesouro
Quando eu ouço o som do berimbau
O meu corpo todo se arrepia
Toca no fundo da minha alma
E completa minha energia
Pandeiro, reco-reco e agogô
Mexe com o meu corpo inteiro
E seja na Angola ou regional
Eu me transformo em um mandingueiro
Atabaque repicando
swingado
E o canto forte de
um bom cantador
Eu faço capoeira todo dia
Mas treino pra ser um
bom jogador
CAPOEIRA
Desenvolvida pelos escravos africanos trazidos ao Brasil e seus descendentes, a capoeira é uma arte marcial tupiniquim, que mistura cultura popular e música. Caracterizada pelos movimentos ágeis e complexos, saltos e ritmo intenso, os principais golpes são os chutes e rasteiras. Mais que uma luta, a capoeira é 'jogada' pelos praticantes em uma roda. Marcada pela relação com música, o capoeirista também é ensinado a tocar instrumentos típicos, como o berimbau, e a cantar.
Em 2014, a capoeira recebeu o título de patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Organização das
Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).