Seis meses depois de chegar ao poder de maneira polêmica – em um processo relâmpago, o Congresso paraguaio votou o impeachment do presidente Fernando Lugo e deu posse ao vice no mesmo dia –, Federico Franco ainda não disse a que veio. Ocupando o cargo mais alto do Paraguai desde 22 de junho, Franco é um dos cinco presidentes com menor popularidade na América Latina. Até agora, seu governo tem sido marcado por debates sobre a deposição de Lugo e por denúncias de nepotismo. As acusações de aumento de 700% na fortuna pessoal de Franco em quatro anos e de que ele colocou familiares no serviço público levaram alguns senadores a se posicionarem a favor de um impeachment.
Enquanto a presença do político no Palácio de los López vem sendo ignorada pelas nações vizinhas, sua primeira viagem ao exterior desde que assumiu o comando do país, no fim de setembro, trouxe bons resultados. O chefe de Estado teve o status de presidente reconhecido pelo colega norte-americano, Barack Obama, durante recepção realizada às margens da 67ª sessão anual da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. No evento, para o qual são convidados os representantes dos 193 Estados-membros da Assembleia da ONU, Franco e Obama trocaram poucas palavras, mas o presidente paraguaio garantiu que o colega se mostrou interessado na situação do país latino-americano e indicou a possibilidade de se reunirem futuramente. Ao conversarem, Franco agradeceu Obama pelo apoio dos Estados Unidos ao novo governo do Paraguai ante a Organização dos Estados Americanos (OEA), grupo que não aplicou punições contra Assunção.
A falta de iniciativa da OEA contrastou com a atitude da comunidade internacional nos primeiros dias do mandatário no poder, que foram pontuados pela crítica ao impeachment de Lugo, considerado um rito sumário, e pela decisão do Paraguai de recorrer às mais diversas instâncias para anular sua suspensão da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e do Mercosul. Em 29 de julho, os dois blocos regionais aplicaram a sanção contra o país por considerarem ter havido uma “quebra da ordem democrática”.
O empenho para alterar essa situação foi considerado a mais expressiva marca do governo Franco até agora por Gregory Weeks, professor de ciência política da Universidade da Carolina do Norte, em Charlotte (EUA). “Suas ações mais importantes foram internacionais em vez de domésticas, como a tentativa de reintegrar o Paraguai ao Mercosul e as brigas com a Argentina e o Brasil no setor energético, em relação à usina hidrelétrica de Itaipu”, apontou. Além disso, Assunção recorreu a tribunais internacionais contra a adesão da Venezuela ao Mercosul durante sua suspensão, uma vez que apenas o Congresso paraguaio rechaçava o ingresso.
Problemas internos Desde então, Franco parece ter deixado as relações exteriores em segundo plano, a fim de organizar o país. Andrew Nickson, da área de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Birmingham (Reino Unido), considera que a única mudança no Paraguai no último semestre consiste na crescente desilusão com o governo Franco. “Isso se deve principalmente ao nepotismo, situação que ele prometeu erradicar quando assumiu a Presidência”, ressaltou. Jornais paraguaios e argentinos citam que a lista de familiares do presidente nomeados para cargos públicos abrange de 20 a 30 pessoas, incluindo mulher, filhos, irmãos e cunhadas (veja quadro). Em agosto, Franco apresentou sua declaração de bens perante a Controladoria Geral e se tornou o centro de outro escândalo. Constatou-se que seu patrimônio havia aumentado em 700% nos últimos quatro anos, fato que o mandatário alegou ter sido um “erro no valor de sua residência e por ter esquecido de incluir uma de suas contas bancárias”.
SOB A MANCHA DO NEPOTISMO