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Estado de Minas A AMEAÇA DOS LOBOS SOLITÁRIOS

Jovens crescidos em sociedades liberais buscam referência radicais para praticar o terror

Conduta influenciou irmãos Tsarnaev, acusados da explosão na Maratona de Boston


postado em 28/04/2013 08:00 / atualizado em 28/04/2013 10:24

(foto: REUTERS/Shannon Stapleton )
(foto: REUTERS/Shannon Stapleton )

Mais do que alarmar autoridades americanas, a ação dos irmãos chechenos Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev em Boston, há duas semanas, chamou a atenção para um fenômeno que se repete na era pós-11 de setembro. Os chamados lobos solitários desafiam os serviços de inteligência, com planos de ataque que independem de grupos ou organizações terroristas. Seu modus operandi costuma ser simples, programado para causar mais impacto emocional do que um número elevado de vítimas. Nos últimos anos, também Reino Unido e França assistiram a esse tipo de cena.

Especialistas traçam o perfil desses terroristas avulsos como jovens, crescidos em sociedades liberais, que se “autorradicalizaram”, influenciados, em algum momento, por ideais religiosos ou políticos, muitas vezes em conexão com a história da terra dos antepassados. Para especialistas, esse comportamento seria sintoma do enfraquecimento da rede terrorista Al-Qaeda, que, no passado, se baseou nessas ideias e nesse contingente para promover ataques coordenados. Outros, porém, veem nisso a resistência da doutrina, mesmo após anos de caçada aos líderes como o próprio Osama bin Laden.

As investigações sobre o que teria motivado os irmãos Tsarnaev ainda não foram concluídas, mas caminham para comprovar que os dois agiram sozinhos, sem ajuda de grupos. Segundo autoridades, o mais novo da dupla, Dzhokhar, teria feito essa confissão no hospital. Em busca dos porquês, investigadores concentram-se na viagem que o mais velho, Tamerlan, morto na caçada policial, fez à Rússia em 2012. A família Tsarnaev é originária da Chechênia – palco de guerras pela separação da Rússia. Os conflitos fortaleceram movimentos extremistas islâmicos na região e, para o FBI, Tamerlan teria conexões com algum deles.

A especialista Erica Chenoweth, da Universidade de Denver, lembra casos semelhantes. Em novembro de 2009, o major americano Nidal Hasan, filho de palestinos, matou 13 pessoas a tiros na base de Fort Hood, no Texas. No ano seguinte, em junho, o paquistanês naturalizado americano Faisal Shahzad declarou-se culpado pela tentativa frustrada de explodir um carro-bomba na Times Square, em Nova York. Foi condenado à prisão perpétua. "Como os suspeitos no caso de Boston, esses indivíduos tendem a ser voluntários autoiniciados", comentou a analista, em entrevista.

Em seu artigo “Aumento dos lobos solitários – a nova face da jihad” , o especialista do Conselho de Relações Exteriores (CFR, em inglês) Ed Husain lembra que a ação dos irmãos chechenos capturou a imagem de jovens radicais que agem em outras partes do mundo. “Mas os milhões de pessoas afetadas diretamente pelos conflitos não endossam o terrorismo e prontamente o condenam, como vimos nas palavras revoltosas do tio dos suspeitos de Boston”, afirmou, referindo-se a Ruslan Tsami. Logo após saber que os sobrinhos eram suspeitos do ataque à maratona, visivelmente nervoso, ele declarou a jornalistas que os irmãos não representavam a Chechênia nem o islã nem sua família, e chamou-os de “perdedores”, que não conseguiram "se acertar na vida".

Dzhokhar Tsarnaev foi o único suspeito sobrevivente(foto: AFP PHOTO / FBI )
Dzhokhar Tsarnaev foi o único suspeito sobrevivente (foto: AFP PHOTO / FBI )
Segundo Husain, há uma segunda geração de muçulmanos no Ocidente que não se sente pertencente ao país que os acolheu. Assim, buscam sentido para a própria vida nas narrativas sobre conflitos em terras ancestrais. "Religião, para eles, torna-se ativismo político de confronto, não um caminho contemplativo para Deus ou a serviço da humanidade", escreveu Husain. Nesse momento, entrariam as ideias radicais da Al-Qaeda, absorvidas na exposição a sites extremistas.

Chenoweth explica que os lobos solitários não têm ligações diretas com a Al-Qaeda, mas buscam nela inspiração ideológica ou, algumas vezes, assistência operacional por meio de fóruns ou revistas. Respondendo aos interrogadores sobre a técnica do uso da panela de pressão vista em Boston, Dzhokhar afirmou ter aprendido em uma publicação eletrônica da Al-Qaeda do Magreb Islâmico. A prática é utilizada para potencializar os danos causados pelos explosivos. O analista francês Barah Mikaïl, da Fundação para as Relações Internacionais e o Diálogo, explicou que o método é o mais eficiente, especialmente quando se quer chamar a atenção e causar comoção sem necessariamente provocar milhares de vítimas.


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