O Peru superou a Colômbia como o primeiro produtor mundial de folhas de coca, segundo um relatório da ONU divulgado esta terça-feira em Lima e que destaca o aumento de cultivos em algumas regiões como o chamado Trapézio Amazônico, na tríplice fronteira entre os dois países e o Brasil. O informe revela que, apesar da desaceleração dos cultivos, o Peru passou em 2012 ao primeiro lugar como produtor mundial da planta porque a Colômbia possuía em dezembro do ano passado uma extensão de 48.000 hectares. apesar de ter conseguido reduzir pela primeira vez em sete anos os cultivos de 62.500 hectares em 2011 para 60.400 em 2012, "Produziu-se um ponto de quebra importante com uma redução de 3,4%, que ocorre depois de sete anos de crescimento contínuo destes cultivos", destacou em entrevista coletiva Flavio Mirella, representante do Escritório das Nações Unidas contra as Drogas e o Crime (UNODC) no Peru. Até 2011, segundo a ONU, a Colômbia ocupava o primeiro lugar como produtor de folhas de coca - matéria-prima para a pasta base de cocaína -, com uma superfície de 64.000 hectares cultivadas contra as 62.500 que o Peru possuía. De acordo com estimativas das Nações Unidas, a Colômbia conseguiu uma redução dos cultivos até os 48.000 hectares em 2012. No Peru, a situação atual é "bastante distinta à do final dos anos 1990, quando as plantações de folha de coca chegavam a 135.000 hectares", reforçou Mirella. Durante 2012, a maior redução de cultivos de coca foi registrado nas regiões peruanas de Monzón e Aguaytía, no Vale do Alto Huallaga, situadas na região amazônica central e norte-oriental, onde foram executados programas de erradicação de plantações ilegais. No ano passado, a produção total de folha de coca ano passado no Peru alcançou 128.000 toneladas, das quais 120.000 foram derivadas ao narcotráfico. O restante foi para a mascagem tradicional nos Andes peruanos, segundo a ONU. Para ilustrar a magnitude do problema, Mirella disse que com a folha de coca produzida no Peru "poderiam encher 6.000 contêineres. E se colocam os contêineres um do lado do outro, cobririam uma distância de 30 km", acrescentou. Atualmente a ONU faz uma pesquisa para determinar a quantidade de cloridrato de cocaína que o Peru produz anualmente. Segundo estimativas da agência antidrogas dos Estados Unidos, o Peru produziria 230 toneladas de cocaína por ano. Aumento da produção na tríplice fronteira O relatório anual de plantações refletiu o aumento de cultivos em algumas regiões, como o chamado Trapézio Amazônico, na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Ali, o aumento foi de 73% com relação a 2011 devido à proximidade das cidades de Letícia, na Colômbia, e Tabatinga, no Brasil, o que facilita o abastecimento de insumos químicos para produzir cocaína e levá-la para estes países. O relatório da UNODC foi elaborado e apresentado conjuntamente com a estatal Comissão Nacional para o Desenvolvimento e a Vida sem Drogas (DEVIDA). Carmen Masías, presidente da DEVIDA afirmou que "apesar de o problema ser dantesco, somos otimistas", e baseou sua afirmação em que pela primeira vez observou-se uma redução do cultivo em sete anos, o que significa que "estão sendo cumpridas as metas pela aplicação de uma estratégia do governo com vontade política muito firme". O informe da ONU destaca que as regiões com maior produção estão situadas na floresta central e no sudeste do Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro (Vraem), consideradas emblemáticas porque a produção de coca "esteve associada por muitos anos e continua estando fortemente articulada a um narcotráfico que age à sombra de grupos terroristas". No Vraem, que ocupa uma ampla região da selva sudeste do Peru, operam bandos de narcotraficantes que agem em aliança com remanescentes da guerrilha maoísta Sendero Luminoso, que se refugiaram ali após a derrota militar deste grupo rebelde em meados dos anos 1990. "Há regiões onde não se faz nada ou quase nada", admitiu Masías em alusão ao Vraem, região onde não se realizam trabalhos de erradicação de folhas de coca. O governo peruano tem impulsionado nos últimos anos programas de cultivos alternativos à coca, como o cacau e o café, a fim de que camponeses pobres das regiões cocaleras encontrem novos meios de vida. Neste sentido, o relatório da ONU destaca que a diminuição dos cultivos exige que se implementem programas de desenvolvimento alternativo e uma presença maior do Estado. "Se não for assim, corre-se o risco de que após um período de tempo a população volte a esta atividade", advertiu Mirella.