Neste ano o Natal terá um gosto amargo para os poucos cristãos que restam em Gaza, de onde os jovens preferem partir a ficar em um enclave palestino onde não enxergam nenhuma oportunidade.
Elias Mona passará o Natal pela primeira vez sozinho. Seus cinco filhos se foram deste pequeno povoado encravado entre Israel, Egito e o Mediterrâneo e devastado por três guerras nos últimos sete anos. Foram para a Europa.
"No início, iam para estudar, mas nunca voltaram porque aqui não há trabalho", lamenta este cidadão de Gaza diante de uma imensa cruz de madeira erguida em frente à igreja de rito latino da Cidade de Gaza.
No berço do cristianismo, os cristãos dos territórios ocupados não são mais que 52.000, ou seja, 1,37% dos palestinos. Menos de 6% deles vivem na Faixa de Gaza, onde há uma década eram 7.000.
A vida é cada dia mais difícil neste pequeno território controlado pelos islamitas do Hamas, em desacordo com a Autoridade Palestina de Mahmud Abbas.
O desemprego afeta dois em cada três jovens e a economia se encontra à beira do abismo. Segundo uma pesquisa recente, um morador de Gaza em cada dois quer se exilar, algo muito difícil devido ao bloqueio imposto por Israel e Egito.
As dificuldades sociais e econômicas não explicam por si só o êxodo dos cristãos, afirma Saad, de 50 anos. "Se nossos jovens vão aos Estados Unidos e à Europa é porque não veem aqui nenhuma oportunidade: a vida é asfixiante e o extremismo cresce", expõe.
O exílio a outro país árabe não é nem mesmo cogitado, pelos "crimes do Estado Islâmico", o grupo jihadista autor de múltiplas atrocidades, sobretudo contra os cristãos em Síria, Iraque ou Líbia.
Viver como os demais
O patriarca latino de Jerusalém, Fuad Twal, mencionou este sofrimento durante uma missa na igreja da Santa Família de Gaza.
"Este ano foi negativo em muitos aspectos: houve violência, exílio, fome e dor. Depositamos nossas esperança no próximo ano, para que forneça mais justiça, igualdade, unidade e misericórdia", declarou a principal autoridade católica romana na Terra Santa.
Em sua homilia, convocou a "pensar nos que sofrem, nos deslocados, naqueles que tiveram suas casas destruídas, que perderam suas terras". Gaza ainda sofre os efeitos da ofensiva israelense de 2014.
É difícil estar em festa nestas condições, reconhece George Antun, um cristão de Gaza. "Celebramos o nascimento de Cristo, mas ao mesmo tempo sofremos pelo que acontece aqui, na Palestina". Por isso - acrescenta - "rezamos ao rei da paz, nosso senhor Jesus Cristo, para que traga paz, para que a Palestina seja libertada e possamos viver como os demais povos, é nosso direito".
Belém, a cidade na qual Cristo nasceu, segundo a tradição bíblica, se encontra a menos de uma centena de quilômetros. Mas poucos cidadãos de Gaza poderão viajar à Cisjordânia ocupada para celebrar o Natal. Para isso precisam de um salvo-conduto, que Israel expede a conta-gotas e apenas por alguns dias.