A economia brasileira enfrenta a pior recessão de sua história e sua recuperação se anuncia lenta, em meio aos escândalos políticos.
O Produto Interno Bruto (PIB) recuou 3,6% em 2016, depois da queda de 3,8% em 2015, informou nesta terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No quarto trimestre, o PIB caiu 0,9% em comparação com o trimestre anterior, em seu oitavo resultado negativo sucessivo. A contração foi de 2,5% em relação ao mesmo período de 2015, em seu décimo primeiro retrocesso consecutivo.
Esses resultados são piores que as expectativas médias de 23 economistas consultados pelo jornal econômico Valor, que eram de uma queda de 0,6% trimestral e de 2,4% em ritmo anual.
Em 2016, todos os setores retrocederam: o agropecuário se contraiu 6,6%, a indústria 3,8% e os serviços 2,7%, afirmou o IBGE.
O investimento em bens de capital despencou 10,2%, enquanto o consumo das famílias retrocedeu 4,2% e os gastos do governo, 0,6%.
Isso foi refletido no índice de desemprego, que em janeiro bateu o recorde de 12,6% (12,9 milhões de pessoas).
"Trata-se da pior crise econômica da história", reconheceu o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que acredita que a situação melhorá com as medidas de ajuste promovidas pelo governo.
Temer e Meirelles reúnem esforços para a aprovação reforma da previdência, que, de acordo com a proposta do governo, igualaria em 65 anos a idade de aposentadoria para mulheres e homens, obrigando todos a trabalhar 49 anos para conseguir se aposentar com o salário integral.
Essas medidas impopulares geram divergências inclusive entre parlamentares de centro-direita, sobretudo com a proximidade das eleições de 2018 e pelo clima político tensionado pelas "delações premiadas" de 77 ex-executivos da Odebrecht. O próprio Temer foi mencionado em pelo menos uma dessas delações.
- Lenta recuperação -
As expectativas do mercado são de um crescimento de 0,49% este ano, enquanto a OCDE prevê um crescimento nulo (0%) em 2017.
Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, acredita que neste ano o PIB crescerá 1%, impulsionado em particular pelo agronegócio. A previsão é de que as colheitas sejam positivas, com aumento de 17% na produção, acompanhado por uma alta de preços.
Além disso, a inflação tem sido controlada, o que "pode acelerar a redução da taxa de juros" nas próximas reuniões do Banco Central. "Isso tem um impacto mais geral na economia", avalia Vale.
O analista, contudo, ressalta que tudo isso só será confirmado em função "do que acontecer com a reforma da previdência". Caso ela não seja aprovada, adverte Vale, os mercados poderão reagir negativamente, gerando um prolongamento da recessão.
Temer reiterou nesta terça-feira em uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) que seu objetivo é colocar "o país nos trilhos para que quem venha depois possa conduzir a locomotiva com trilhos ajustados".
O Brasil se beneficiou na primeira década do século dos efeitos do boom das commodities e em 2010 registrou um crescimento impressionante de 7,5%, impulsionado igualmente pelos programas sociais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), num momento em que a Europa e os Estados Unidos eram atingidos por uma recessão.
Mas no segundo trimestre de 2015, sob a gestão de Dilma Rousseff, o país entrou em recessão e as agências de classificação de risco tiraram do Brasil o selo de bom pagador.