Onze presos de alta periculosidade da Cadeia Pública Municipal de Santo Antônio do Descoberto (GO), cidade localizada a 56 quilômetros de Brasília, são procurados pelas polícias Civil e Militar de Goiás e pela PM do Distrito Federal, desde a madrugada de sexta-feira, quando fugiram com outros três detentos — já capturados pela PMGO — por um muro baixo e sem arames que cerca parte dos fundos da unidade prisional. A Agência Goiana do Sistema de Execução Penal (Agesepe) abrirá uma sindicância para apurar se houve facilitação da fuga por parte dos agentes penitenciários. Ainda ontem, várias operações foram realizadas para tentar resgatar os outros foragidos. Um helicóptero da Polícia Militar do DF ajudou nas buscas. A Força Nacional também está envolvida no trabalho.
O que chama atenção em Santo Antônio do Descoberto é o modo como os bandidos agiram. De acordo com a Polícia Civil, a fuga foi planejada por dois dos foragidos e por quatro homens contratados para invadir o local. Eles receberiam dinheiro da venda de um carro e de uma moto. Por volta das 2h, os três agentes penitenciários que estavam na cadeia foram surpreendidos por dois integrantes do grupo — Francisco Diniz Souza, 26 anos, e Rogério Fiúza, 29. Após o plano quase ser abortado, Rogério decidiu ficar do lado de fora com outros comparsas — Flávio Henrique Rodrigues, 19 anos, e Fábio Monteiro da Silva, 24. Os três ficaram aguardando Francisco — o único a resgatar os presos — em um Escort pertencente a um dos internos que o pagaram para agir na invasão.
Sob a mira de uma carabina, os funcionários da cadeia foram obrigados a abrir as três celas da ala A, onde ficam alojados 35 presos. Desses, apenas 14 saíram. Em seguida, parte deles invadiu o alojamento dos agentes penitenciários, que fica próximo às celas, e roubou uma espingarda calibre .12, além das armas que estavam em posse dos agentes — dois revólveres calibre .38 e uma pistola .40. Todas elas estavam com munição. Segundo o diretor da cadeia, Fábio Santos Alves, a ação durou entre 5 a 10 minutos.
Os internos escaparam pelo mesmo muro que serviu como entrada para os facilitadores da fuga. No entanto, três dos presos — Jailson Pereira Gomes, Nilton Guimarães e Samuel Mourão — não chegaram a ir muito longe e foram capturados quando estavam em suas casas, todas localizadas em Santo Antônio do Descoberto. Cerca de 30 minutos depois da fuga, uma equipe da Polícia Militar abordou Flávio Henrique, Fábio e Rogério dentro do Escort, próximo ao cemitério da cidade. Eles estavam armados com uma espingarda .12.
Comparsa
Detido, o trio entregou o comparsa e disse onde ele poderia estar escondido. Francisco acabou capturado quando tentava chegar em casa. De acordo com o diretor da cadeia, não houve reação durante as prisões nem troca de tiros. Levados para a Delegacia de Águas Lindas de Goiás — onde são registradas as ocorrências oriundas de Santo Antônio do Descoberto durante os feriados e fins de semana — os facilitadores foram autuados pelo crime de fuga de preso e porte ilegal de arma de fogo. Eles podem pegar até 10 anos de prisão.
O delegado de plantão da unidade policial, Felipe Socha, afirmou que os quatro já tinham passagens por furto, roubo e porte ilegal de arma de fogo. Já os internos que escaparam de Santo Antônio do Descoberto cumprem penas por latrocínio (roubo seguido de morte), homicídio, roubo, furto e porte ilegal de arma de fogo. Seis deles estavam em regime de prisão provisória. Todos são moradores da cidade. Apenas um — Paulo Henrique Mariano da Silva, indiciado por homicídio — havia sido transferido há quatro meses de uma cadeia localizada em Lavínia, em São Paulo.
O diretor regional da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal, Roberto Júnior Duarte, afirmou que “um conjunto de ações contribuiu para a fuga” e que o caso não tem ligação com a rebelião da cadeia pública de Alexânia (GO), ocorrida na noite de quinta-feira. “Acredito que aconteceu em um feriado porque os criminosos sabem que o efetivo é menor”, disse. Já o diretor Fábio Santos Alves ressaltou que o preso que veio de Lavínia tem ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa de São Paulo. A informação, no entanto, não foi confirmada pelo diretor da Agesepe.
Sem reformas
Antes de se tornar uma cadeia pública, o local servia para o funcionamento de uma delegacia. O espaço, que tem área total de 10 mil m², nunca passou por uma reforma desde que foi inaugurado, em 1985. Com capacidade para 88 presos, atualmente abriga 101 internos nas nove celas. Há também uma ala feminina, onde cinco detentas estão presas em apenas uma carceragem.