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Estado de Minas

Excesso de chuva e seca rigorosa castigam diferentes regiões do país

Cenário que levou cidades à situação de emergência se repetirá no futuro


postado em 31/01/2012 08:18 / atualizado em 31/01/2012 08:30


Separadas por apenas 130 quilômetros, duas regiões nordestinas viveram problemas opostos em menos de uma semana. Enquanto na semana passada nove municípios do interior de Pernambuco decretaram estado de emergência por causa das secas, em João Pessoa, capital da Paraíba, os prejuízos foram causados pelo excesso de chuvas. Se de um lado a falta de água em riachos e açudes já causa grande preocupação para agricultores e produtores rurais, no estado vizinho a população sofre com pontes interditadas e pontos de alagamentos nas principais cidades. A situação de contrastes vivida por municípios do Nordeste reflete bem os cenários registrados em todo o país durante os primeiros meses do verão. A seca no Sul, chuvas acima da média em Minas e temperaturas amenas em pleno verão carioca são outros exemplos atípicos que marcam o período.

Na capital mineira, a chuva deste mês superou a média histórica dos últimos 30 anos já nos primeiros 10 dias de janeiro e, com 350 milímetros registrados na primeira quinzena do mês, as regiões Central, Zona da Mata e Oeste do estado atingiram 20% acima do previsto para o mês inteiro. Os resultados foram mais de 200 municípios em estado de emergência, mais de 100 mil desalojados e 3,5 milhões de pessoas afetadas, segundo a Defesa Civil Estadual.

No Rio de Janeiro, a estação marcada pelo calor intenso – com os termômetros alcançando os 40 graus – ficou até agora distante da normalidade, com temperaturas amenas nas primeiras semanas de 2012. Segundo os meteorologistas, o tempo incomum no litoral fluminense é consequência do excesso de nebulosidade em todo o Sudeste.

Na contramão, a falta de chuva nas últimas semanas assola a Região Sul do país. No Rio Grande do Sul, 291 cidades decretaram emergência por causa da seca, em Santa Catarina, 80, e no Paraná, onde foi registrado o maior período de estiagem dos últimos 14 anos, são 137 municípios em situação de urgência. A seca afetou a produção agrícola regional, causando prejuízos estimados pelas associações de produtores e secretarias estaduais em cerca de R$ 2 bilhões.

PREVISÃO SOMBRIA
Especialistas em mudanças climáticas e estudos meteorológicos preveem que os cenários extremados podem ser cada vez mais comuns no Brasil durante os próximos anos, mas afirmam que ainda não é possível determinar que tais situações são motivadas por causa de uma mudança em grande escala. “Os fenômenos que atuaram nos últimos meses não estão necessariamente ligados a uma mudança de grande porte do nosso clima, mas representam oscilações locais significativas que causam impactos muito grandes devido à intensidade”, explica José Felipe Farias, meteorologista do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Para o meteorologista, a associação de tantas ocorrências incomuns com o surgimento de um novo padrão climático só poderia ser feita por meio de análises a longo prazo, avaliando as repetições e as características de eventos atípicos, como os registrados este ano. “O que já sabemos é que o planeta está se aquecendo e essa mudança causa uma série de impactos, tanto nos eventos meteorológicos quanto nas temperaturas. Esse aquecimento gera maior grau de evaporação, que coloca maior vapor de água na atmosfera e aumenta o número de precipitações intensas. Mas podem ser mudanças decorrentes de ciclos naturais do planeta, e entre os climatologistas não existe nada conclusivo sobre o tema”, afirma José Felipe.

AÇÃO
O governo federal aumentou de 250 para 800 o número de municípios que farão parte do mapeamento geológico até o fim de 2014 por terem áreas com risco de desastres naturais. Até o fim deste ano, a expectativa é mapear 400 municípios, segundo o secretário de Políticas e Programas de Desenvolvimento do Ministério de Ciência e Tecnologia, Carlos Nobre.

Palavra de especialista

José Gustavo Feres
Especialista em mudanças climáticas do Ipea


“A tendência é de que, com as mudanças climáticas que percebemos ao longo das últimas décadas, eventos extremos se tornem cada vez mais comuns. Tempestades e secas prolongadas, como vimos este ano no Brasil, são exemplos de situações que marcam esse agravamento. Na prática, essas mudanças representam muitos prejuízos, já que para enfrentá-las é preciso um trabalho a longo prazo para criar opções que permitam uma adaptação de cada região contra situações incomuns. Com a recorrência de eventos atípicos, nossos municípios terão que lidar com desequilíbrios na produção agrícola e problemas de saúde pública, como a dengue, leishmaniose e cólera. Desafios que a grande parte das cidades ainda não tem condições de superar. A primeira ação é cuidar da população em área de risco e garantir a segurança, mas é preciso investir mais a longo prazo. Estudos com sementes mais adaptadas para o clima seco e culturas de irrigação são exemplos para enfrentar os períodos de seca, já os desastres causados pelas chuvas podem ser amenizados com o mapeamento detalhado das áreas de risco e criação de sistemas de alerta preventivo. Prevenção só é possível com planejamento e investimentos.”


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